Mulher negra pisoteada no pescoço por PM diz ter desmaiado na abordagem
Em novo depoimento cedido à Polícia Civil na manhã de hoje, a comerciante negra de 51 anos que foi pisoteada por um policial militar na tarde de 30 de maio afirmou ter desmaiado no momento a agressão, que foi flagrada por um vídeo que repercutiu esta semana.
Além de relatar como foram as agressões sofridas naquela tarde, a vítima disse que, ao tentar denunciar o caso na Corregedoria da PM, à época, não foi atendida porque os policiais do órgão disseram que atendimentos não estavam sendo feitos por casa da pandemia de covid-19.
Ela afirmou que, por volta das 13h30 daquele dia, ouviu barulhos na porta do bar que é dona. Ao sair, com um rodo em mãos, viu um amigo ensanguentado e apanhando de um PM.
Com propósito de fazer o PM soltar o amigo, ela afirmou ter batido três vezes com o rodo contra o policial. Ao soltar o rodo, ela afirmou ter sido agredida com socos no peito, chute na perna e puxão de cabelo.
De acordo com a Polícia Civil, ela afirmou que o PM pisou no pescoço da comerciante enquanto ela se debatia. De acordo com o depoimento, a mulher relatou ter desmaiado após ter sido pisoteada.
"Quando recobrou a consciência, já estava do outro lado da calçada, não se recorda de estar algemada, mas que o policial a imobilizava com o joelho na costela e outro no pescoço", aponta o termo de declaração da comerciante.
Ela disse ainda que, após não conseguir registrar o caso na Corregedoria, PMs voltaram ao local da agressão nos dias seguintes com a intenção de procurar imagens que pudessem prejudicá-los.
Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "um inquérito policial militar foi instaurado, em 30 de maio, para apurar o caso". "Os policiais envolvidos permanecem fora das atividades operacionais até a conclusão das investigações."
Ainda segundo a pasta, "um deles foi remanejado para outro batalhão". "Equipes responsáveis pelo IPM, assim como policiais civis do 25º DP, realizam diligências para colher provas e informações que auxiliem no esclarecimento dos fatos."
Conforme o UOL revelou ontem, o soldado João Paulo Servato, 34, que aparece nas imagens pisando na comerciante, não foi afastado de imediato, como informou o governo paulista. Ele foi transferido para um batalhão, onde permaneceu atuando nas ruas por 45 dias, segundo PMs que trabalharam com ele no último mês.
O caso
Três imagens registradas por celulares mostraram a ação. Na primeira, um policial militar aparece pisando sobre o pescoço da comerciante, que estava deitada no asfalto. No segundo, um PM aparece apontando a arma para um rapaz, que tirava a camiseta com intenção de mostrar que estava desarmado.
No terceiro vídeo, divulgado por PMs ontem, é possível ver a comerciante agredindo um PM com o cabo de uma vassoura. Na delegacia, os policiais militares afirmaram que haviam sido agredidos pela mulher com uma barra de ferro —o que é desmentido pelas imagens.
Após a abordagem, a comerciante disse que foi para um pronto-socorro da região, sendo transferida em seguida para o Hospital Geral do Grajaú, onde foi constatado que ela havia quebrado a tíbia. Ela ficou com a perna engessada por 30 dias e realizou uma cirurgia no último dia 29 de junho, para colocação de uma haste e dois pinos.
A comerciante e dois clientes foram indiciados, na ocasião, por resistência, desobediência, desacato e lesão corporal no 101º DP, no Jardim das Imbuias. O caso, porém, é investigado pelo 25º DP, de Parelheiros.
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