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Mulher negra pisoteada no pescoço por PM diz ter desmaiado na abordagem

Policial pisa em pescoço de mulher durante abordagem em Parelheiros, zona sul de São Paulo - Reprodução/TV Globo
Policial pisa em pescoço de mulher durante abordagem em Parelheiros, zona sul de São Paulo Imagem: Reprodução/TV Globo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

17/07/2020 14h43

Em novo depoimento cedido à Polícia Civil na manhã de hoje, a comerciante negra de 51 anos que foi pisoteada por um policial militar na tarde de 30 de maio afirmou ter desmaiado no momento a agressão, que foi flagrada por um vídeo que repercutiu esta semana.

Além de relatar como foram as agressões sofridas naquela tarde, a vítima disse que, ao tentar denunciar o caso na Corregedoria da PM, à época, não foi atendida porque os policiais do órgão disseram que atendimentos não estavam sendo feitos por casa da pandemia de covid-19.

Ela afirmou que, por volta das 13h30 daquele dia, ouviu barulhos na porta do bar que é dona. Ao sair, com um rodo em mãos, viu um amigo ensanguentado e apanhando de um PM.

Com propósito de fazer o PM soltar o amigo, ela afirmou ter batido três vezes com o rodo contra o policial. Ao soltar o rodo, ela afirmou ter sido agredida com socos no peito, chute na perna e puxão de cabelo.

De acordo com a Polícia Civil, ela afirmou que o PM pisou no pescoço da comerciante enquanto ela se debatia. De acordo com o depoimento, a mulher relatou ter desmaiado após ter sido pisoteada.

"Quando recobrou a consciência, já estava do outro lado da calçada, não se recorda de estar algemada, mas que o policial a imobilizava com o joelho na costela e outro no pescoço", aponta o termo de declaração da comerciante.

Ela disse ainda que, após não conseguir registrar o caso na Corregedoria, PMs voltaram ao local da agressão nos dias seguintes com a intenção de procurar imagens que pudessem prejudicá-los.

Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "um inquérito policial militar foi instaurado, em 30 de maio, para apurar o caso". "Os policiais envolvidos permanecem fora das atividades operacionais até a conclusão das investigações."

Ainda segundo a pasta, "um deles foi remanejado para outro batalhão". "Equipes responsáveis pelo IPM, assim como policiais civis do 25º DP, realizam diligências para colher provas e informações que auxiliem no esclarecimento dos fatos."

Conforme o UOL revelou ontem, o soldado João Paulo Servato, 34, que aparece nas imagens pisando na comerciante, não foi afastado de imediato, como informou o governo paulista. Ele foi transferido para um batalhão, onde permaneceu atuando nas ruas por 45 dias, segundo PMs que trabalharam com ele no último mês.

PM pisa em pescoço de mulher rendida

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O caso

Três imagens registradas por celulares mostraram a ação. Na primeira, um policial militar aparece pisando sobre o pescoço da comerciante, que estava deitada no asfalto. No segundo, um PM aparece apontando a arma para um rapaz, que tirava a camiseta com intenção de mostrar que estava desarmado.

No terceiro vídeo, divulgado por PMs ontem, é possível ver a comerciante agredindo um PM com o cabo de uma vassoura. Na delegacia, os policiais militares afirmaram que haviam sido agredidos pela mulher com uma barra de ferro —o que é desmentido pelas imagens.

Após a abordagem, a comerciante disse que foi para um pronto-socorro da região, sendo transferida em seguida para o Hospital Geral do Grajaú, onde foi constatado que ela havia quebrado a tíbia. Ela ficou com a perna engessada por 30 dias e realizou uma cirurgia no último dia 29 de junho, para colocação de uma haste e dois pinos.

A comerciante e dois clientes foram indiciados, na ocasião, por resistência, desobediência, desacato e lesão corporal no 101º DP, no Jardim das Imbuias. O caso, porém, é investigado pelo 25º DP, de Parelheiros.

Tíbia de comerciante de 51 nos quebrou (esq.) após, segundo ela, um PM lhe aplicar uma rasteira em 30 de maio. Em 29 de junho, ela precisou fazer uma cirurgia para colocar uma haste e dois pinos no osso (dir.) - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Tíbia de comerciante de 51 anos quebrou (esq.) após um PM lhe aplicar uma rasteira em 30 de maio. Em 29 de junho, ela precisou fazer uma cirurgia para colocar uma haste e dois pinos no osso (dir.)
Imagem: Arquivo Pessoal