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Laudo indica que tiro acidental que matou jovem em MT foi a curta distância

Condomínio de luxo em Cuiabá onde uma adolescente de 14 anos teria atirado na amiga de forma acidental - Reprodução / Google Maps
Condomínio de luxo em Cuiabá onde uma adolescente de 14 anos teria atirado na amiga de forma acidental Imagem: Reprodução / Google Maps

Bruna Barbosa Pereira*

Colaboração para o UOL, em Cuiabá

24/07/2020 08h54

Um laudo de necropsia preliminar do IML (Instituto Médico Legal) de Cuiabá concluiu que o tiro acidental que matou Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, foi disparado a curta distância.

Em nota, a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) informou que o laudo foi entregue ao delegado responsável pelo caso, Wagner Bassi, na quarta-feira (22). O documento ainda determinou que um traumatismo cranio-encefálico foi a causa da morte. O caso é investigado pela Delegacia Especializada do Adolescente (DEA).

Arsenal em casa

Isabele foi encontrada morta em um dos banheiros da casa do pai da amiga, em 12 de julho. De acordo com o boletim de ocorrência, sete armas forma encontradas na residência. Apenas uma delas estava registrada no nome do pai, que é empresário. Quatro estavam em processo de documentação e duas eram do pai do namorado da filha e foram levadas pelo adolescente até a casa.

Em depoimento, a menor disse à Polícia Civil que o namorado de 16 anos pediu para deixar as armas guardadas no local, pois estava com medo de ser parado em uma blitz. Ele teria ido embora antes do disparo que matou Isabele.

O namorado da suspeita e o pai dele prestaram depoimento na segunda-feira (20) e a defesa do pai informou que o depoimento do menor se concentrou no transporte das armas até a casa do pai da namorada, mas não entraram em detalhes. Pai e filho afirmaram que estão à disposição da Justiça para elucidar os fatos.

O que diz a mãe da vítima

O advogado da mãe da vítima, Patrícia Hellen Guimarães Ramos, foi procurado pelo UOL e não quis comentar a investigação. Hélio Nishiyama alegou que as informações são aspectos sigilosos da investigação. No entanto, ele afirmou que as diligências policiais até então realizadas evidenciam contradições na versão apresentada pela menor que teria efetuado o disparo acidental.

"Ao nosso ver, evidenciam que o disparo que vitimou a jovem Isabele não foi efetuado nas circunstâncias narradas pela jovem investigada", disse.

Versão da adolescente

Em seu depoimento, a adolescente suspeita afirmou não se lembrar de ter apertado o gatilho da arma, mas que "acredita" que pode ter feito o disparo acidentalmente.

De acordo com ela, após o namorado ir embora, o case com as armas ficou no sofá até que o pai pedisse para alguém ir guardá-las em um closet. Ela teria se prontificado e, no mesmo momento, afirmou ter percebido que Isabele subiu as escadas em direção ao quarto dela, resolvendo ir atrás da amiga para "ver o que ela estava fazendo".

Assim que chegou ao cômodo, ela teria chamado pela vítima, que não respondeu. A menor decidiu entrar no closet, onde havia um banheiro. Como a amiga não respondeu, ela afirmou ter batido na porta, momento em que o case caiu no chão, com uma das armas parcialmente para fora.

Ela afirmou que, com uma das mãos segurou a arma que caiu e, com a outra o case, mas acabou se desequilibrando. Antes do disparo, ela contou ter colocado uma arma sobre a outra. A menor disse que "no susto" fechou os olhou e começou a gritar pelo apelido da amiga. A menor também disse aos policiais que não lembra se Isabele chegou a abrir a porta do banheiro, pois estava prestando atenção nas armas.

Ligações para terceiros

A juíza Cristiane Padim da Silva, da 2ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá, expediu mandado de busca e apreensão dos celulares dos envolvidos e das imagens das câmeras de segurança das casas dos investigados, além de uma nova perícia no local do crime.

Na decisão de 16 de julho, a juíza ressaltou que o MPF (Ministério Público Federal) afirmou que há suspeita de que o empresário tenha ligado para outras pessoas irem à casa, antes da chegada do Samu. A magistrada ainda ressaltou que a DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa) destacou a "dinâmica confusa" nos fatos que foram narrados em depoimentos.

"[A DHPP] entendeu que outras diligências são imprescindíveis para o esclarecimento do contexto e classificação das condutas perpetradas pelo menor e sua namorada", diz trecho do mandado.

Ela citou que, após ter acesso aos depoimentos dos envolvidos no crime foram extraídas várias respostas "do tipo não me lembro". Cristiane ainda destacou que a autoridade policial que teve primeiro contato com o caso registrou que "a dinâmica dos fatos não estava clara".

Pai de adolescente investigada é milionário

Segundo pesquisa realizada por fontes do UOL, o pai da jovem suspeita de efetuar o tiro acidental é sócio-proprietário de uma empresa de telecomunicações que presta serviço ao governo federal e tem contratos diversos com estados e órgãos públicos, com capital de R$ 10,4 milhões; possui um avião particular, modelo 58 Beech Aircraft, um carro importado esportivo modelo Lamborghini G Spyder, de cor amarela, avaliado em R$ 640 mil, além de seis imóveis de luxo no nome dele, sendo um deles a mansão no condomínio onde ocorreu a morte de Isabele.

Ele chegou a ser detido em flagrante por posse ilegal de arma de fogo no caso e teve a fiança alterada duas vezes. Inicialmente, o valor foi fixado em R$ 1 mil, foi mudado para R$ 209 mil e depois caiu para R$ 10 mil. O empresário responde pelo suposto crime em liberdade provisória.

No recurso para contestar a fiança, a defesa do empresário afirma que ele "está passando por severa dificuldade de liquidez financeira em período de pandemia, o que está afetando a todos, impossibilitando-o de dispor da soma de R$ 209 mil".

Pedido de prisão preventiva

A defesa de Patrícia entrou ontem com um pedido de prisão preventiva contra o pai da menor suspeita de efetuar o disparo caso ele não seja encontrado por oficiais de justiça, já que ele está intimado a se manifestar sobre o pedido de fiança.

O advogado do empresário, Ulisses Rabaneda informou ao UOL que o cliente "já se deu por intimado" e que a Polícia Civil tem acesso às câmeras da casa da família no condomínio.

"Eles não se mudaram, na verdade é tudo muito recente. A polícia está vendo as imagens das câmeras da casa ao vivo. Não tem dificuldade nenhuma em localizar [o empresário], me parece que essas petições seguidas têm o objetivo de criar fatos, não tem qualquer tipo de dificuldade em encontrá-lo", afirmou.

* Com informações de Aliny Gama, colaboração para o UOL em Maceió