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Bebê morre na barriga da mãe em RO; família culpa falta de anestesista

O bebê de Keylyzangela Nillio e Elizeu Nunes nasceu sem vida - Arquivo pessoal
O bebê de Keylyzangela Nillio e Elizeu Nunes nasceu sem vida Imagem: Arquivo pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL

22/08/2020 17h34

Um bebê de 39 semanas morreu na barriga da mãe, que estava em trabalho de parto, no Hospital Regional de São Francisco do Guaporé, a 600 quilômetros de Porto Velho. A família diz que a morte ocorreu porque não havia médico anestesista na unidade para a realização da cesariana. O caso aconteceu em 19 de agosto e foi divulgado pela família ontem.

O governo de Rondônia afirmou que o hospital tem apenas um médico anestesista para 20 plantões diurnos de 12 horas, mas não especificou se havia um profissional presente no momento do parto.

A mãe do bebê, a operadora de caixa Keylyzangela Nillio, 29, relatou nas redes sociais a suposta negligência no atendimento.

"Você mudou minha vida, meu mundo. Fez o mundo girar ao seu redor. Tudo era você e para você. Como te amei, filha. Cada minuto que esteve dentro da mamãe te amei (sic), você sabia do orgulho que a mamãe sentia da barriga, sentia de você. Até planos para o seu primeiro aninho mamãe já tinha feito. Mas você deixou mamãe sair da maternidade com os braços vazios", diz um trecho do depoimento da mãe.

O UOL entrou em contato com a mãe e o pai, o vendedor Elizeu Nunes, 26. Eles disseram que não estavam em condições emocionais para conceder entrevista. A menina seria o primeiro filho deles, casados há três anos.

Espera por médico durou mais de 10 horas, diz família

A tia do bebê, a professora Elaine Nunes, relatou que Keylyzangela procurou uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em 18 de agosto para uma consulta de rotina do pré-natal. Lá, teria sido informada que bebê estava com os batimentos cardíacos acelerados, indicando que o processo de parto começaria logo.

Keylyzangela procurou no mesmo dia o Hospital Regional de São Francisco do Guaporé por volta das 20h30, já em trabalho de parto. Como não estava sentindo dores e a bolsa não havia estourado, o parto teria de ser feito por cesariana.

"Ela ficou sozinha tomando soro em uma sala, aguardando em observação. A médica obstetra informou que, por não haver um anestesista no hospital, a cirurgia seria feita na manhã seguinte", relatou a tia.

A família diz acreditar que o bebê morreu por volta das 6h, quando a mãe parou de senti-la se mexendo dentro da barriga. A médica anestesista teria chegado à unidade por volta das 7h, e a menina foi retirada sem vida. Ela se chamaria Cecília.

Os parentes reclamam por Keylyzangela não ter recebido encaminhamento para outro hospital estadual, onde haveria um anestesista. O mais próximo fica em Ji-Paraná, a quatro horas de carro. "Daria para ter chegado, porque ela deu entrada às 20h30", diz a tia.

A família afirmou que pretende registrar uma denúncia por negligência na Polícia Civil. "As mães vão chegar ao hospital com o bebê na mesma situação, e a criança será obrigada a esperar a boa vontade do plantonista chegar?", disse Elaine.

Governo alega dificuldade para contratar

Em nota ao UOL, o governo de Rondônia afirmou que havia dois anestesistas no hospital onde a bebê morreu, mas um está se afastou porque está se aposentando. Há dificuldade para contratar mais profissionais, alega o governo.

"Temos edital aberto para contratação de servidores para serviço de obstetrícia e anestesista, porém, deserto [sem candidatos]. Salientamos que, quando a equipe médica de plantão vê a necessidade de realização de procedimento que demanda a presença de anestesista em turno de trabalho no qual não temos esse profissional disponível, o paciente é encaminhado para unidade de referência", disse o governo, sem informar o motivo de Keylyzangela não ter sido transferida a outro hospital.