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Inquérito sobre morte de capitão Adriano descarta execução em operação

Adriano Nóbrega era acusado de chefiar milícia no Rio de Janeiro - Reprodução
Adriano Nóbrega era acusado de chefiar milícia no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL, em Salvador

26/08/2020 12h55Atualizada em 26/08/2020 19h30

O inquérito que apurou a operação que culminou na morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega concluiu que houve confronto na ação e descartou a possibilidade de execução e de que a vítima tenha sofrido tortura física. Ao mesmo tempo, a perícia identificou que o ex-PM deu sete tiros contra os policiais, atingindo escudos e parte do imóvel onde estavam.

O ex-policial foi morto em 9 de fevereiro deste ano em operação na Bahia que tinha como objetivo de cumprir um mandado de prisão contra capitão Adriano, como era conhecido. Ele era apontado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro como chefe do Escritório do Crime, um dos principais grupos de milícia do estado.

O resultado da investigação foi divulgado em entrevista coletiva virtual, na manhã de hoje, pelo DPT (Departamento de Polícia Técnica) e pela Polícia Civil da Bahia.

O delegado responsável pela investigação, Marcelo Sansão, disse que a conclusão ocorreu após ouvir depoimentos de policiais e moradores, e confrontar as versões com os resultados da perícia.

"Digo, sem qualquer dúvida, que essa autoridade policial entende que foi consumado um confronto naquele cenário de operações. Por tudo que foi apresentado pelos peritos e por tudo que foi trazido nas oitivas. Apesar da distância de alguns moradores, já que o sítio tinha uma distância, e temos oitivas dos moradores que corroboram com oitivas dos policiais", afirmou o delegado.

Marcelo Sansão explicou que os depoimentos dos três policiais envolvidos na operação apresentam semelhanças com relatos de testemunhas e informações divulgadas nos laudos.

Tiros de capitão Adriano - Divulgação/Polícia Civil da Bahia - Divulgação/Polícia Civil da Bahia
Perícia mostra locais atingidos por tiros que teriam sido feitos por Adriano de Nóbrega
Imagem: Divulgação/Polícia Civil da Bahia

O delegado afirmou que a perícia mostrou que capitão Adriano deu ao menos sete tiros com uma das armas e que o cenário da operação não foi forjado. De acordo com a investigação, os policiais na operação agiram em legítima defesa e, por isso, não serão denunciados.

"Aquela equipe agiu com técnica e não se excedeu. Eles agiram na absoluta ação de legítima defesa naquele cenário", declarou. O inquérito foi finalizado hoje e será encaminhado amanhã para a Justiça de Esplanada.

Diretor do IML nega execução

O diretor do Instituto Médico Legal, Mário Câmara, afirmou que capitão Adriano não foi atingido por tiros a curta distância. Em sua avaliação, as características da lesão encontrada no corpo de Adriano não apresentam as marcas que costumam ficar no entorno de lesões em situações semelhantes. "Eu não entendo como alguém achou que isso foi um tiro próximo. Difícil entender que um legista pensou isso", declarou.

Mário Câmara também recusou a tese de que Adriano teria recebido um disparo de "finalização" na região do pescoço. Segundo ele, os três policiais que participaram da ação perceberam que a agressão por parte do miliciano cessou e atingiram Adriano com dois disparos, o que demonstra treinamento da equipe. "Disseram que a imagem era de uma queimadura por cano de arma de fogo. Não tem cano de arma de fogo de 8 centímetros. Uma equimose dessa cor é de uma lesão anterior", declarou.

O diretor do IML descartou também que capitão Adriano foi torturado fisicamente. "Não houve espancamento desse indivíduo...não há indícios de que houve", explicou Câmara.

Uma semana após o crime, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) postou um vídeo no Twitter em que contestava a versão da Polícia Militar de que não houve tortura. "Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões", postou o parlamentar, junto com um vídeo de um suposto corpo que seria de Adriano. A SSP-BA (Secretaria de Segurança Pública da Bahia) negou a veracidade da imagem postada por Flávio Bolsonaro.

Por fim, o especialista descartou que tenha Adriano tenha sido atingido por uma coronhada antes de morrer. Ele apresentou uma imagem de um ferimento na cabeça do ex-PM que teria sido causada por um objeto retangular. "É uma lesão depois dos disparos e pode ter sido feita no momento que ele caiu, mas não é lesão feita em vida", esclareceu.

Sinais de tiros da arma de Adriano

Na coletiva, o perito criminal José Carlos Montenegro afirmou que foi possível identificar que escudos usados por policiais da operação e uma parede da casa onde estavam os policiais foram atingidos por disparos feitos pela arma encontrada com Adriano de Nóbrega.

"O escudo recebe os primeiros tiros do suspeito que está reagindo à ação policial (...) A parede posterior à célula tática também foi atingida pelos disparos realizados pelo suspeito, assim com janela e portas. Foram pelo menos sete disparos realizados pelo suspeito à entrada da célula tática", disse Montenegro.

"Todos os elementos balísticos encontrados na cena do crime percorreram o cano da arma pertencente a Adriano Magalhães da Nóbrega. Ou seja, resistiu à ação policial, mediante o exame de microcomparação balística. Houve convergência entre as versões apresentadas pelos participantes (policiais) e os laudos", avaliou o perito.

O UOL entrou em contato com o escritório do advogado de defesa da família de Adriano, Paulo Emílio Catta Preta, e aguarda retorno.