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O que moveu o chefe do tráfico que comandou invasão a favela do Rio

27.ago.2020 - Alex Marques de Melo, conhecido como Leo Serrote - Polícia Civil/Divulgação
27.ago.2020 - Alex Marques de Melo, conhecido como Leo Serrote Imagem: Polícia Civil/Divulgação

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

28/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Criminoso planejou tentativa de invasão à favela há um ano, diz polícia
  • Ação contou com reforço de traficantes de outras regiões do Rio
  • Traficante tem 17 mandados de prisão por crimes como homicídio e tráfico
  • No vídeo de sequestro, ele apontava arma nas costas de vítima, diz polícia

Sentado no chão, ele usava a mão direita para segurar por trás a blusa de uma mulher, feita refém ontem à tarde em um imóvel no Complexo do São Carlos, no bairro do Rio Comprido, região central do Rio. Com a mão esquerda, empunhava uma arma, apontada para as costas da vítima.

O homem, que aparece em um dos vídeos do sequestro, foi identificado como Alex Marques de Melo, conhecido como Léo Serrote. Ele é apontado pela polícia como o chefe do tráfico ligado ao Comando Vermelho responsável pela tentativa de invasão na área. Os tiroteios entre facções rivais e policiais, que duraram cerca de 24 horas, deixaram ao menos três mortos —uma mãe que protegeu o filho e dois suspeitos, segundo a PM.

Com 17 mandados de prisão pendentes, o criminoso responde por crimes como homicídio, tráfico de drogas e associação ao tráfico. Léo Serrote, um dos quatro presos após três horas de negociações, já atuou no tráfico local e planejava a tentativa de invasão do território havia cerca de um ano.

Os conflitos começaram na quarta-feira à noite (26) e só terminaram ontem à tarde. Até a noite de ontem, 16 pessoas haviam sido presas, segundo a PM.

No vídeo feito pelos próprios criminosos, Léo Serrote aparece no chão, atrás da vítima, apontando uma arma para as costas dela. "Nós [sic] só quer se entregar, mano", repetia um comparsa dele.

Durante a fuga, os criminosos invadiram o imóvel e fizeram uma mulher refém. "Eles vão se entregar. Eu tô passando mal! Chama a ambulância", dizia ela.

Ao fundo, era possível ouvir a voz de um dos policiais que negociavam a rendição dos criminosos. "Não machuca ela", ordenou.

Serrote rompeu com facção do São Carlos

Léo Serrote iniciou a sua trajetória no mundo do crime no TCP (Terceiro Comando Puro), no Complexo do São Carlos. Entretanto, rompeu relações com o tráfico local e trocou de facção há cerca de um ano.

Em seguida, passou a atuar no Comando Vermelho no Morro do Fallet, que faz divisa com o São Carlos. "Ele se sentia subestimado e sem prestígio entre os traficantes no Complexo do São Carlos. Aí, mudou de facção, foi para o Fallet e começou a elaborar um plano para invadir a comunidade", disse o delegado Gustavo Castro.

Como conhece bem a área, ele tomou a frente dessa tentativa de invasão

Gustavo Castro, da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas)

Com o auxílio de criminosos do Comando Vermelho de outras regiões do Rio e até da Baixada Fluminense, a tentativa de invasão foi feita por uma área de mata, na divisa entre os morros do Fallet e da Mineira, já no Complexo do São Carlos.

Na ação, os criminosos se dividiram em grupos usando roupas camufladas e armas de grosso calibre.

PM apreendeu 9 fuzis e prendeu 16 suspeitos

Em nota enviada ontem à noite, a PM-RJ informou ter feito a prisão de 16 suspeitos. Outros dois criminosos morreram após confronto com policiais, informou a corporação.

Na ação, a PM-RJ ainda apreendeu nove fuzis, dez pistolas, 42 granadas, farta quantidade de munição e entorpecentes. O policiamento ostensivo foi reforçado nos bairros do Catumbi, Estácio e Rio Comprido.

Na região das comunidades da Mineira e São Carlos, policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) disseram que revidaram disparos e lançamento de artefatos explosivos.

Em um dos confrontos, um suspeito se feriu e foi encaminhado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, segundo a PM-RJ, mas não resistiu aos ferimentos. Um outro criminoso foi encontrado morto em um veículo, após outro confronto com os agentes, que ainda deixou dois suspeitos feridos.

Um policial militar se feriu e foi encaminhado ao Hospital Central da Polícia Militar, onde está internado em estado estável, de acordo com a corporação.

Polícia Civil detectou plano de invasão há 2 semanas

A Secretaria de Estado de Polícia Civil informou que há cerca de duas semanas o setor de inteligência da 6ª DP (Cidade Nova) detectou movimentação de traficantes de uma facção que pretendiam tomar o território de comunidades que fazem parte do Complexo do São Carlos.

Segundo a polícia, na ocasião, não foi possível definir a data e o horário da invasão. A informação foi então repassada à Inteligência da Polícia Militar.

Mãe morre ao proteger filho durante tiroteio

O filho de Ana Cristina da Silva, 25, que morreu ao ser atingida por tiros de fuzil na noite de ontem em meio ao fogo cruzado de traficantes de facções rivais no bairro do Rio Comprido ainda não sabe que a mãe morreu.

A vítima se atirou sobre o filho de 3 anos para protegê-lo dos disparos enquanto tentava embarcar em um veículo de vizinhos para sair do local do conflito.

Ana Cristina da Silva morreu ao tentar proteger o filho em meio a um tiroteio no acesso ao São Carlos - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Ana Cristina da Silva morreu ao tentar proteger o filho em meio a um tiroteio no acesso ao São Carlos
Imagem: Reprodução/TV Globo

"Ele fica perguntando: 'Quando a minha mãe vai voltar?'. Ele acha que ela tá no hospital. Só sabe que a mãe se machucou porque ficou coberto pelo sangue dela. Ele presenciou tudo. A mãe morreu pra salvar o filho. A gente não sabe como vai lidar com isso ainda", relatou a estudante Vânia Brito, 25, cunhada da vítima.

Ela estava indo trabalhar e iria deixar o filho com uma babá quando começou o tiroteio. Aí, uma moça em um carro disse para ela entrar. Foi coisa de bandido com bandido

Vânia Brito, cunhada de Ana Cristina da Silva

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