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"Lava Jato do PCC": Chefes da facção estão na elite, diz coordenador da PF

Guilherme Mazieiro, Kleyton Amorim e Luís Adorno

Do UOL, em Brasília

02/10/2020 11h00Atualizada em 02/10/2020 17h16

O PCC (Primeiro Comando da Capital) é uma multinacional e seus chefes em liberdade não estão nas periferias das cidades, mas vivendo em mansões e andando em carros de luxo. A análise é da PF (Polícia Federal) com base em investigações recentes.

Em entrevista exclusiva ao UOL, Elvis Secco, delegado coordenador-geral de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF, afirmou que está ocorrendo uma "Lava Jato do PCC". Segundo ele, a sofisticação da lavagem de dinheiro e o padrão de vida de seus líderes são comparáveis aos envolvidos nos esquemas de corrupção da Petrobras.

Temos, sim, uma Lava Jato do PCC. O objetivo da Polícia Federal é fazer com que essa operação tenha fases. Para área de tráfico de drogas, temos o mesmo objetivo que investigue crimes de corrupção. É desenvolver fases da investigação
Delegado Elvis Secco

Em dois meses foram cinco operações contra a facção. Ainda de acordo com Secco, em uma primeira fase da Lava Jato do PCC, foi identificado núcleo financeiro e patrimônio dos líderes.

Agora, é preciso analisar a documentação apreendida e, a partir dali, traçar um objetivo para que outras fases sejam desencadeadas. "Assim como foi feito no caso da Lava Jato."

De acordo a PF, a organização criminosa tem como principal finalidade a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

01.out.2020 - Elvis Secco, delegado coordenador geral de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF - 01.out.2020 - Kleyton Amorim/UOL - 01.out.2020 - Kleyton Amorim/UOL
Elvis Secco, delegado coordenador geral de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF
Imagem: 01.out.2020 - Kleyton Amorim/UOL

Os tentáculos da facção paulista já chegaram a empresários que nunca tiveram passagem pela polícia e que lavavam dinheiro para o crime organizado há décadas.

Na quarta-feira (30), por exemplo, a operação Rei do Crime, com participação da PF, bloqueou judicialmente R$ 730 milhões de apenas um dos braços financeiros do PCC.

De acordo com o delegado Secco, a PF não tem como ambição atingir pequenos traficantes. A ação da Polícia Federal, atualmente, é atingir os chefes desses pequenos traficantes, seguindo o rastro do dinheiro lavado dentro e fora do país.

Serviços de inteligência da PF identificam esquemas que vão de empresas de fachada, passando por doleiros e até transações em criptomoedas.

Quando você pensa em uma operação policial que houve movimentação bilionária e tem mais de R$ 730 milhões determinados pela Justiça de bloqueios. Com bens de R$ 2 milhões, veículos e imóveis de valores muito altos apreendidos, você, inevitavelmente, compara com a Lava Jato.
Delegado Elvis Secco

"Na Lava Jato você tinha dinheiro de recursos públicos desviados para lavar dinheiro e esse dinheiro era utilizado para aquisição de bens, veículos, imóveis no Brasil e fora do Brasil", acrescentou o delegado.

O que muda, segundo o delegado, é crime antecedente. "No caso da Lava Jato você tinha a corrupção e desvio de verba pública. No caso dessa operação [contra o PCC], há como antecedente o tráfico de drogas", complementou.

PCC e a política

De acordo com procuradores antimáfia da Calábria, região sul da Itália, que investigam ligação entre o PCC e a máfia italiana 'Ndrangheta, o que diferencia o PCC da organização criminosa italiana é o mapeamento da influência na política.

Investigações da PF em andamento indicam financiamentos do PCC em campanhas, mas não há confirmações e denúncias apresentadas.

De acordo com relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), em quatro anos, mais de 70 empresas lavaram R$ 32 bilhões para o PCC.

A lavagem de dinheiro refinada é o que aproxima a facção criminosa paulista do modelo de atuação de mafiosos italianos, de acordo com investigações da PF e da Polícia Civil de Minas Gerais.

Apesar disso, a PF ainda é cautelosa em classificar o PCC como máfia. "É uma organização criminosa. A maior do Brasil, a maior da América Latina. Não é mais um grupo nacional. É um grupo que age em todo o mundo. Está no mesmo patamar das maiores organizações criminosas do planeta", disse Elvis Secco.

"A Polícia Federal iniciou essa ação estratégica e institucional contra as organizações criminosas, notadamente contra o PCC, cujo objetivo é o seu enfraquecimento. E esse enfraquecimento vai vir através de grandes operações que visam a lavagem de dinheiro. Ou seja, complexas investigações de lavagem de dinheiro", concluiu o delegado.

Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.