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Justiça bloqueia R$ 730 milhões de braço do PCC, e PF apreende helicópteros

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo*

30/09/2020 07h08Atualizada em 30/09/2020 12h54

A Polícia Federal realizou hoje em São Paulo, Santa Catarina e Paraná a Operação Rei do Crime para desarticular um braço financeiro que opera em favor do PCC (Primeiro Comando da Capital) há mais de dez anos. A investigação interditou mais de 70 empresas e bloqueou, com autorização da Justiça, contas bancárias que superam R$ 730 milhões.

De acordo com a PF, o esquema de lavagem de dinheiro desarticulado hoje era feito por meio de postos de gasolina e de uma distribuidora de combustível. O principal alvo da ação é um homem identificado como Alemão. Ele teria uma rede de postos de combustíveis e estaria envolvido em outros crimes do PCC, como homicídio.

Investigações apontam que Alemão pode ter envolvimento no duplo assassinato, em 2018, de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, que eram os principais líderes da facção em liberdade até então. Eles foram mortos por roubar a própria facção, de acordo com as investigações.

Ao todo, 20 pessoas foram indiciadas e devem responder por organização criminosa e lavagem de dinheiro, de acordo nota divulgada hoje pela PF. Entre os alvos da operação estão, além de Alemão, e uma pessoa que foi condenada pelo envolvimento no furto ao Banco Central do Brasil, ocorrido em Fortaleza em 2005.

Estão sendo cumpridos 13 mandados de prisão preventiva e 43 de busca e apreensão, além do sequestro de bens de 32 automóveis, nove motocicletas, dois helicópteros, um iate, três motos aquáticas, 58 caminhões e 42 reboque e semirreboque, que somam R$ 32 milhões. Os mandados foram expedidos pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

Quantia em dinheiro PF - Divulgação/PF - Divulgação/PF
Quantia em dinheiro e joias apreendidas em operação da PF contra o tráfico de drogas
Imagem: Divulgação/PF

"Essa é a verdadeira face do PCC. Essa é a face que deve ser encarada por todos. Uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro do tráfico de drogas", afirmou ao UOL o delegado Elvis Secco, coordenador-geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da PF.

Em entrevista coletiva, Secco disse que "enquanto comemorarmos apreensões puras e simples de drogas, a organização cresce. A PF em menos de dois meses sequestrou quase R$ 450 milhões em bens, a maioria da facção criminosa paulista. Dinheiro é poder, tirando o dinheiro, você tira o poder".

Ao todo, 73 empresas foram investigadas e interditadas na manhã de hoje. A PF solicitou em juízo que essas empresas passem a ser administradas pela Senad (Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas), órgão do Ministério da Justiça, "para garantir que funcionários e terceiros não sejam prejudicados".

A PF pretende, até dezembro, apreender R$ 1 bilhão do crime organizado brasileiro. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) também forneceu relatórios de inteligência financeira à Polícia Federal apontando movimentações atípicas do grupo investigado, cujo valor ultrapassa a cifra de R$ 30 bilhões.

O delegado Rodrigo de Campos Costa, que atua na investigação e combate ao crime organizado em São Paulo, afirmou que o caminho do dinheiro ou passava por um laranja ou passava por um beneficiário que já tinha passado pelo PCC.

"Foi um grande mapeamento das ações financeiras. A estrutura que nós identificamos é uma estrutura sólida no mercado. Não é uma lavagem pontual", afirmou o delegado Costa.

Para o professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, esse tipo de operação deve ser elogiada. "Vai no coração financeiro da facção criminosa. É completamente diferente daquela ação cotidiana de ficar prendendo pequeno traficante, que não leva a nada", afirmou.

"Prender o traficante que está ali na 'biqueira' não funciona. Apenas lota a cadeia, torna essa pessoa mais perigosa quando entra na cadeia e não atinge em nada a facção. Nem arranha a facção. Essas operações da PF estão gerando problemas grandes para o PCC, porque está se pegando dinheiro", analisou o professor que também é membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

*Colaborou Andreia Martins, do UOL, em São Paulo

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