Investigação mostra que PCC se aproxima de modelo mafioso de atuação
Se a expertise em lavagem de dinheiro era o que faltava para o PCC (Primeiro Comando da Capital) ser considerado uma máfia, aparentemente não falta mais. Investigação conjunta das polícias Civil e Federal de Minas Gerais identificou um esquema de lavagem de dinheiro, por meio de laranjas, que beneficiava líderes da organização criminosa.
Questionado se, assim, o último fio solto para considerar o PCC como máfia foi encontrado, o delegado Murillo Ribeiro de Lima, da Polícia Civil de Minas Gerais, que presidiu a operação Caixa Forte 2 junto ao delegado da PF (Polícia Federal) Alexsander Castro de Oliveira, a resposta foi que "esse requisito não falta".
"O PCC, com o assistencialismo que foi demonstrado nas investigações pelo 'setor de ajuda', revela uma proximidade com os costumes da máfia italiana", afirmou Lima ao UOL. O delegado da PF Oliveira complementou: "O PCC possui um complexo esquema de lavagem de dinheiro, contando, inclusive, com setores estruturados cujas atribuições são destinadas à contabilidade e ocultação dos valores provenientes das diversas atividades criminosas que praticam".
Apesar dos indícios, os delegados e a investigação em si são cautelosos ao classificar o PCC como máfia. A investigação aponta que o PCC se aproxima do modelo utilizado na Europa, mas não define se é igual. O delegado Lima diz que "um dos requisitos mais fortes da máfia é a infiltração generalizada nas instituições estatais. E esse é um elemento que ainda precisa ser bastante evidenciado. Há casos de corrupção que já foram descobertos, mas a máfia está umbilicalmente ligada por isso".
Os investigadores das polícias Civil e Federal, por meio da Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), identificaram pelo menos seis elementos de ligação entre a conduta do PCC, no Brasil, e da máfia, na Itália:
- A existência de um "código", um "manual", como já foi possível notar a presença de um "estatuto" da facção;
- O controle remoto das atividades criminosas, com ordens provenientes de diversas localidades, inclusive de dentro do sistema carcerário;
- A hegemonia pelo território brasileiro;
- A expansão para países vizinhos e as disputas sangrentas pelo monopólio da produção e distribuição da droga;
- A requintada engenharia financeira da lavagem de capitais;
- O assistencialismo aos membros e familiares com o pagamento de mesadas, área conhecida como "setor da ajuda".
Criminosos com mesada de quase R$ 500 mil
O elo de conduta entre PCC e máfia pôde ser percebido na investigação das polícias Civil e Federal, que deflagraram a operação Caixa Forte 2, contra o PCC, na sua data de batismo, em 31 de agosto. A operação cumpriu 422 mandados de prisão em diversos estados do país.
A investigação identificou 210 líderes da facção que recebiam, cada um, uma mesada, que variava de R$ 1,5 mil a R$ 4 mil por mês, depositados em contas de amigos, familiares, esposa, filho, sogra etc. Ao todo, apenas nisso, o PCC gastava quase R$ 500 mil por mês, segundo a polícia.
"São presos muito importantes na estrutura da facção, porque ou são líderes e representam um cargo de ascensão muito antigo na facção ou foram enviados ao sistema penitenciário federal por terem feito missões importantes para a facção, como morte de agentes penitenciários, por exemplo", diz o delegado Lima à reportagem.
Tudo começou com prisão no MS
A fase 2 da operação Caixa Forte, considerada por autoridades locais como a maior da história contra o PCC, é originada em informações obtidas em agosto do ano passado, na fase 1, que investigou lavagem de dinheiro na base do PCC, entre pontos de vendas de drogas de Minas Gerais.
"Na fase 1, demonstramos que o 'setor do progresso', responsável pelo tráfico de drogas da facção, possui contadores cuja responsabilidade inclui arregimentar contas para a pulverização do que é arrecadado com a venda de entorpecentes. Esses valores são posteriormente transferidos/depositados em milhares de outras contas, num processo conhecido por lavagem em camadas", disse o delegado Oliveira.
Com a prisão de um contador no Mato Grosso do Sul e a apreensão do seu aparelho celular, as polícias conseguiram identificar movimentações maiores na fase 2.
"Com base no acesso às planilhas da facção e com as quebras de sigilo bancário, financeiro e fiscal nós conseguimos provar que o dinheiro saía da facção, era depositado em contas de laranjas e que tinham como real beneficiário os presos específicos do PCC", afirmou o delegado Lima.
O delegado Oliveira acrescentou que, na fase 2, a operação Caixa Forte "revelou a última etapa do processo de lavagem de dinheiro através da entrega de valores a membros do alto escalão do PCC por meio de depósitos em contas de terceiros".
Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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