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Alunos de direito relatam comentários racistas de professora em Pernambuco

Registro foi feito por alunos da Unicap; instituição diz repudiar "qualquer ato que viole direitos" - Unicap/Site oficial
Registro foi feito por alunos da Unicap; instituição diz repudiar "qualquer ato que viole direitos" Imagem: Unicap/Site oficial

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL, no Recife

28/10/2020 21h55

Estudantes do terceiro período do curso de direito da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), no Recife, denunciam uma professora de psicologia por supostos comentários racistas. Os posicionamentos teriam acontecido durante uma aula no último dia 23.

Segundo a turma, a docente teria afirmado que o racismo nada mais é do que "picuinha" e "vitimização" de uma parte considerável da população negra. Os estudantes denunciam que a educadora chegou a questionar se a população negra não teria "inveja".

Os comentários que teriam sido feitos pela professora causaram indignação na turma, que divulgou uma nota de repúdio. No comunicado, os estudantes detalham o desenrolar da explanação.

"A professora Regineide Simões comentava acerca do texto 'Violência de condições de vida de jovens', de Raquel de Matos Lopes Gentilli e Fabrícia Pavesi Helmer. De início, começou a nos contar uma experiência vivenciada por ela e contou que uma 'menina preta foi má com ela', chamou-a de 'privilegiada por ser branca'. Ela disse que a menina estava usando esse adjetivo para chamar atenção por meio da 'ridicularização de outros'", conta.

O discurso teria continuado com uma narrativa que, aos poucos, foi chocando a toda a classe. "A professora comparou suas dificuldades pessoais com as dificuldades que os negros enfrentam na nossa sociedade. E usou termos como 'pretinho' e 'negrinho' ao falar que o preconceito para com pretos, homossexuais (minorias no geral) são (sic) essas próprias pessoas que perpetuam, que querem se segurar em um 'discurso de vítima para chamar atenção e tirar proveito por meio disso'."

"Alunos da turma TP18-0 repudiam veementemente a forma de como foi abordado o conteúdo pela professora. Os alunos não conseguiam explanar sua opinião e se sentiram mal durante e após a aula", encerra a nota.

Relatos de estudantes

A estudante Beatriz Regina presenciou os pronunciamentos da docente. Ela conta que a professora usou vários termos pejorativos e racistas durante a aula.

"Ela pediu que a gente lesse um texto sobre violência e condição e vida de jovens para que a gente debatesse esse texto em sala. E a gente leu. Alguns alunos expuseram opiniões. E em um certo momento foi citado que a autora do texto não colocou uma solução para o problema. Porque ela só fez, basicamente, citar os fatos de violência e condição da vida deles", lembra.

A partir daí, segundo a aluna, a professora passou a fazer observações. "Ela citou questões como educação. E entrou nessa pauta do racismo e do preconceito citando que, na opinião dela, pessoas pretas em geral eram preconceituosas. Que elas acreditam que sofrem racismo em todos os lugares e que isso não é assim", continua.

"Ela ainda citou que muitos pretos se vitimizam e que isso ajuda a perpetuar o racismo. Que quando eles dizem que estão sofrendo é como se eles estivessem exagerando."

"Teve uma aluna que tentou argumentar e disse que era muito difícil ser uma pessoa preta, uma mulher negra. Que ela tinha que lutar bastante e que esse comportamento da professora não era uma coisa muito certa, e que as pessoas pretas precisam se firmar nos lugares por causa do racismo estrutural. E mesmo assim a professora não mudou o ponto de vista", ressaltou Beatriz.

UNicap chat - Reprodução - Reprodução
Declarações da professora em aula repercutiram imediatamente em grupo de WhatsApp dos estudantes
Imagem: Reprodução

No grupo do WhatsApp da turma, os discentes pareciam não acreditar no ocorrido. Entre pedidos de abandono da sala e o estarrecimento geral, Eduarda Antunes foi surpreendida. A estudante contou que, no dia do incidente, precisou sair cedo. "Mas fiquei sabendo de tudo pelo grupo", diz.

"Não pude assistir até o final. Soube do ocorrido a partir do grupo do WhatsApp da turma. Os alunos que estavam presentes na aula estavam comentando e contando aos outros o que estava acontecendo. Falavam sobre comentários feitos no Twitter e sobre a nota de repúdio", acrescenta.

Na página da instituição no Instagram, estudantes e ex-alunos demonstraram indignação em comentários. Enquanto uns afirmaram que a postura é reincidente, outros pediram providências da universidade e até pela demissão da docente.

"Não vamos aceitar professor com fala preconceituosa", diz uma internauta. "Espero que a professora realmente seja responsabilizada, porque ela foi absurdamente preconceituosa", avalia outra internauta. "Além da postura da docente ser reincidente, a universidade já foi notificada desde o ano passado sobre o seu comportamento", alerta outro comentário.

'Não vou comentar'

O UOL entrou em contato com a professora Regineide Simões para ter a versão dela sobre as acusações da turma. A mestra, no entanto, não quis comentar os fatos.

"Não sei de nada. Não vou comentar nada", resumiu.

Já a Unicap emitiu nota oficial sobre o caso. A instituição confirmou que foi comunicada sobre a suposta atitude da professora e que não compactua com posturas discriminatórias.

"A Unicap repudia todo e qualquer ato que viole direitos e atente contra a dignidade da pessoa humana, assegurando que está realizando a devida apuração dos fatos apresentados, de acordo com as suas normas estatutárias e regimentais, com o cuidado e responsabilidade que o caso requer", destaca o comunicado.