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Casas com crianças sofrem mais com queda de renda na pandemia, aponta Ibope

61% dos brasileiros que vivem com crianças e adolescentes disseram ter sofrido perda de renda - Getty Images
61% dos brasileiros que vivem com crianças e adolescentes disseram ter sofrido perda de renda Imagem: Getty Images

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

11/12/2020 12h00

Em meio à pandemia do coronavírus, mais de metade dos brasileiros afirma que suas famílias tiveram perda de renda —taxa que aumenta entre aqueles que têm crianças e adolescentes em casa e também entre os mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, subiu o número de lares que não conseguiram se alimentar adequadamente por falta de dinheiro.

Pesquisa do Unicef realizada pelo Ibope Inteligência divulgada hoje mostra que 55% dos brasileiros (cerca de 86 milhões de pessoas) declararam que a renda de suas famílias diminuiu desde o início da pandemia. Entre aqueles que residem com menores de 18 anos, o percentual sobe para 61%.

Os impactos são ainda maiores nas famílias mais pobres: dos entrevistados com renda de até um salário mínimo, 69% afirmaram que tiveram cortes na renda. Deles, 15% disseram ter pedido toda a fonte de renda.

Na outra ponta, entre os entrevistados com renda de mais de 10 salários mínimos, 35% disseram ter sofrido algum tipo de queda na renda familiar.

Os dados constam da segunda rodada da pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, realizada pelo Ibope Inteligência a pedido do Unicef. Foram realizadas 1.516 entrevistas nas duas rodadas. Nesta última, as entrevistas foram realizadas por telefone entre os dias 29 de outubro e 13 de novembro. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Insegurança alimentar

O levantamento mostra ainda que aumentou o número de famílias que, por falta de dinheiro, não conseguiram comprar mais comida e deixaram de se alimentar. De julho a novembro, esse percentual passou de 6% para 13% —o que representa cerca de 20,7 milhões de brasileiros.

Entre aqueles que residem com crianças ou adolescentes, 8% (cerca de 5,5 milhões de brasileiros) mencionaram que deixaram de comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Esse percentual é ainda mais alto entre as classes D e E (19%) e entre aqueles cuja renda familiar é de até um salário mínimo (21%).

Além disso, 54% dos entrevistados relataram que os hábitos alimentares mudaram na casa desde o início da pandemia. De julho para novembro, houve aumento na menção do consumo de alimentos industrializados (de 23% para 29%) e refrigerantes (de 17% para 29%), por exemplo.

O consumo desses tipos de alimentos é maior entre residentes com crianças e adolescentes: 36% relataram aumento no consumo de industrializados e 34% no consumo de refrigerantes.

"É extremamente preocupante o cenário de insegurança alimentar que a pandemia traz para crianças e adolescentes. Uma família que não consegue alimentar adequadamente suas crianças está vivendo na mais absoluta privação de direitos", avalia Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.

Para ela, é "urgente o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à parcela mais pobre". "Elas, muitas vezes, vivem em situações de tamanha exclusão que não conseguem ter acesso aos programas sociais de distribuição de renda".

Educação

Entre residentes com crianças ou adolescentes que estavam matriculados na escola antes da pandemia, 9% afirmaram que as escolas reabriram, mas apenas 3% declararam que algum deles voltou a frequentar as aulas presencialmente.

Mais da metade dos brasileiros (54%) diz que as crianças e adolescentes que residem com eles voltarão às aulas presenciais somente quando alguém da casa considerar que não há risco de contaminação pelo coronavírus.

A pesquisa mostra ainda que, em comparação com o mês de julho, a proporção dos residentes com crianças ou adolescentes que continuam com atividades escolares em casa e receberam atividades nos 5 dias da semana anterior ao levantamento diminuiu de 63% para 52%.

Além disso, 13% das famílias disseram que os jovens não haviam recebido nenhuma atividade escolar na semana anterior à pesquisa.

Menos da metade dos estudantes (45%) recebeu alimentação da escola durante o período de suspensão das aulas presenciais, de acordo com os entrevistados.