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Ação despeja 250 famílias em engenho em PE com bombas e balas de borracha

Policias realizam reintegração de posse em acampamento do MST em Amajari (PE) - MST
Policias realizam reintegração de posse em acampamento do MST em Amajari (PE) Imagem: MST

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

25/05/2021 17h02Atualizada em 25/05/2021 20h29

Uma ação de despejo retirou cerca de 250 famílias de um acampamento do MST (Movimento Sem Terra) em Amajari (PE) na manhã de hoje. A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha e, segundo o grupo, dez pessoas ficaram feridas, entre elas, uma criança.

O terreno de 1.850 hectares a cerca de 100 km de Recife, onde fica o Acampamento Bondade, faz parte do Engenho Bonfim, da Usina União e Indústria. Segundo o MST, as "ações violentas" foram iniciadas pela PM. Nove pessoas foram detidas.

A reintegração de posse, concedida pela Justiça em 16 de abril, começou por volta das 8h30. Moradores da ocupação, formados em especial por ex-funcionários da usina, se disseram surpreendidos pelo contingente com batalhão de choque, helicópteros e o corpo de bombeiros e resistiram.

Para evitar o avanço do batalhão e da cavalaria, os moradores colocaram fogo em pneus. Foi quando o confronto começou, segundo relatos do MST.

Moradores do acampamento Bondade, do MST, colocam fogos em pneus para tentar impedir despejo em PE - MST - MST
Moradores do acampamento Bondade, do MST, colocam fogos em pneus para tentar impedir despejo em PE
Imagem: MST

Um vídeo ao qual a reportagem teve acesso, sem autorização para publicação, mostra o batalhão da polícia jogando bombas e dando tiros de borracha. Os moradores, de cima do morro, revidam com pedras e o próprio arsenal. Alguns estavam sagrando.

"Teve uma criança alvejada por tiros de borracha, de dez anos, e companheiros detidos foram espancados pela polícia. Mais ou menos dez pessoas foram feridas nesse processo", diz um dos moradores da ocupação, que não quis se identificar.

Ao final da ação, nove pessoas foram detidas e sete levadas à delegacia, entre eles, uma criança de 12 anos. O MST acusa a polícia de tentar coagir o menino para "tirar informações sobre lideranças". O advogado do movimento, Tomás Melo, e o conselho tutelar acompanharam a detenção desde o período da manhã. Ele foi liberado às 14h30.

"Quem ficou instigando a manutenção dela [na delegacia] foi o tenente [da PM], mas, assim que foram ouvidos, ele pediu para liberar. [A detenção do menor de idade] não é necessariamente ilegal, mas o prudente seria mandar ele para casa acompanhado do conselheiro", afirma Melo.

Agora, os outros detidos seguem prestando depoimento. No engenho, o MST diz que as casas do acampamento foram queimadas para que evitasse o retorno dos moradores.

Muitos companheiros estão dentro das matas, nos canaviais. Por causa da opressão muito grande, um aparato de guerra. Isso é uma vergonha muito grande para esse estado, concordar, no meio de uma pandemia, com o despejo de 250 famílias que agora estão sem moradia e sem seu alimento.
Morador do Acampamento Bondade, do MST

No local, os moradores também plantavam os próprios alimentos, como banana, mandioca e milho.

"Em plena pandemia, as 200 Famílias Sem Terra de Amaraji encontram-se agora desabrigadas. Nem o MP-PE (Ministério Público de Pernambuco), o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), ou o Iterpe (Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco) apresentaram soluções que garantam uma saída digna para as famílias, em meio ao conflito fundiário com os usineiros da Usina União", diz o MST, em nota publicada em seu site.

Após a publicação desta reportagem, a Polícia Militar de Pernambuco enviou nota informando que "foi acionada para apoiar a atuação do Oficial de Justiça para reintegração de posse de um lote de terra do Engenho Bondade, na zona rural de Amaraji, área ocupada há cerca de dois meses por integrantes do MST. A operação envolveu militares do 21º BPM, BPChoque, BPRv e BEPI e ocorreu após esgotadas todas as tentativas de uma solução negociada".

Segundo o texto da nota, "os invasores reagiram à decisão judicial, sendo lançados até mesmo enxames de abelhas contra os militares. Ao realizar a aproximação ao acampamento, o efetivo foi alvo de pneus incendiados, pedradas e coquetéis Molotv. No entanto, a situação foi controlada e os infratores foram afastados até a tomada do terreno com a consequente desmobilização do assentamento, composto por cerca de cem barracos".

"Na operação foram apreendidas 11 motocicletas com irregularidades, sete facões, sete coquetéis Molotov e nove pessoas foram encaminhadas para a Delegacia de Polícia Civil da cidade, onde vão responder pelos crimes de desobediência, resistência e crimes contra fauna e flora", conclui o texto.

O UOL procurou a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco e o MP-PE, mas não teve resposta até o fechamento da matéria.

A reportagem também tentou entrar em contato com a Usina União, dona do terreno, mas não teve sucesso.