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Caso Lázaro: relembre outras grandes perseguições a criminosos no Brasil

6.ago.1998 - Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, no aeroporto de Porto Alegre, logo após ser preso pela polícia de Itaqui (RS) - João Wainer/Folhapress
6.ago.1998 - Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, no aeroporto de Porto Alegre, logo após ser preso pela polícia de Itaqui (RS) Imagem: João Wainer/Folhapress

Gabriel Toueg

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/06/2021 04h00

Com o envolvimento de mais de 300 agentes policiais, a busca por Lázaro Barbosa de Sousa, 32, acusado de assassinar brutalmente uma família no Distrito Federal, entra no 11º dia e faz lembrar outras perseguições famosas a criminosos no Brasil.

Um dos casos mais recentes é o de Paulo Cupertino Matias, acusado de assassinar o ator Rafael Miguel e de seus pais, na zona sul de São Paulo, em junho de 2019. Dois anos depois, ele ainda está foragido.

No fim de 2020, a polícia paulista chegou a ir à cidade de Liberación, no Paraguai, seguindo uma pista de que ele estaria em uma fazenda na região. Cupertino, atualmente com 50 anos, aparece na lista da Polícia Civil como o nome mais procurado e é também é buscado pela Interpol.

Segundo o Ministério Público, Cupertino matou o ator e sua família porque não aceitava o namoro de sua filha, então com 18 anos, com o artista. Câmeras de segurança registraram o momento em que ele disparou 13 vezes em Rafael, que tinha 22 anos, e nos pais. O homem, que era empresário à época do crime, é acusado de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas.

À esquerda Paulo Cupertino, acusado de assassinar o ator Rafael Miguel  - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
À esquerda Paulo Cupertino, acusado de assassinar o ator Rafael Miguel e os pais dele
Imagem: Reprodução / Internet

Fuga de 40 dias por três estados

Outro criminoso que deu trabalho para a polícia foi Leonardo Pareja. Em setembro de 1995, Pareja assaltou um hotel em Feira de Santana (BA) e manteve como refém por três dias Fernanda Viana, de 16 anos à época, sobrinha do então senador Antônio Carlos Magalhães. Após liberar a garota e sair ileso, ele passou mais de um mês fugindo da polícia e sendo buscado em três estados.

Na fuga, ele dava autógrafos e concedia entrevistas para canais de TV e rádios, até avisando para qual localidade iria a seguir. A fuga de Pareja foi tema do podcast do UOL Ficha Criminal.

Quando foi finalmente localizado e preso, Pareja comandou rebeliões de dentro do Centro Penitenciário Agroindustrial de Goiás (Cepaigo). Uma delas, em 1996, acabou com uma fuga em massa depois de seis dias de revoltas. Na ocasião, o rosto do criminoso foi estampado na capa da revista Veja, com a manchete "O bandido e os otários: como Leonardo Pareja fez a polícia de boba", mesma expressão usada pelo governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB) no caso de Lázaro.

Pareja acabaria assassinado em dezembro de 1996, com sete tiros, depois de supostamente ter delatado colegas que teriam construído um túnel para escapar do presídio.

Saltando em telhados

Um dos mais notórios bandidos que o Brasil já teve foi Gino Meneghetti, conhecido como Gato de Telhado. O apelido surgiu justamente de suas ousadas fugas da polícia, pulando muros e caminhando sobre telhados de casas.

Nascido entre 1878 e 1888 (a data é incerta) em Pisa, na Itália, Meneghetti chegou ao Brasil no início do século 20. Ele tinha mais de 90 anos quando foi finalmente preso, ao tentar furtar uma casa na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo.

Mesmo idoso, Meneghetti ainda conseguiu subir ao telhado quando a polícia chegou, mas acabou caindo dentro do banheiro da casa, onde foi preso em flagrante. Ele ficou famoso ao sempre escapar da polícia, em fugas espetaculares ou de presídios, onde passou mais de 40 anos. O criminoso foi tema de um curta-metragem de 1989, chamado "Dov'e Meneghetti?" (Onde está Meneghett?)

Gino Meneghetti e seu espanador numa de suas passagens pelo Carandiru, onde viveu por 18 anos seguidos, entre 1926 e 1944 - Acervo UH/Folhapress) - Acervo UH/Folhapress)
Gino Meneghetti e seu espanador numa de suas passagens pelo Carandiru, onde viveu por 18 anos seguidos, entre 1926 e 1944
Imagem: Acervo UH/Folhapress)

22 horas e 14 assassinatos

Outro caso digno do cinema (e que foi retratado em um documentário) aconteceu na região metropolitana de Natal (RN) em 1997, quando o comerciante e ex-soldado do Exército Genildo Ferreira de França, então com 26 anos, matou 14 pessoas durante uma ação que durou 22 horas. Ele planejava matar ao menos outras dez pessoas.

A ação do "spree killer", como é conhecido quem mata duas ou mais pessoas em um curto período de tempo e em locais diferentes, começou ao meio-dia de 22 de maio de 1997, quando ele matou um taxista de São Gonçalo do Amarante, a 17 km de Natal, e se apoderou do carro. À época, o motorista namorava a ex-mulher de França.

Em seguida, o homem matou a então esposa, a ex-mulher, a ex-sogra, a mãe e o padrasto da ex-mulher. Ele levou Valdenice Ribeiro da Silva, então com 16 anos, para ajudá-lo a atrair outras vítimas para o táxi. As vítimas tinham entre 18 e 48 anos. Os crimes teriam sido motivados por vingança.

França acabou sendo morto em cerco policial. À Folha, um sargento da PM da cidade disse que a demora para capturar França se deveu ao fato de que o município tinha apenas um carro de polícia. O documentário sobre a história, lançado em 2009, chama-se "Sangue do Barro".

Maníaco do Parque

Em 1998, Francisco Assis de Pereira aterrorizou o estado de São Paulo depois de cometer assassinatos e estupros. O "Maníaco do Parque", como ficou conhecido, atraía as vítimas dizendo ser um "caça-talentos" e sugerindo fotografá-las. O motoboy levava as mulheres para a mata do Parque do Estado, na divisa entre São Paulo e Diadema (SP), daí a alcunha. Suas sete vítimas tinham entre 17 e 27 anos.

Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como Maníaco do Parque - Divulgação / Youtube / Brasil Urgente - Divulgação / Youtube / Brasil Urgente
Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como Maníaco do Parque
Imagem: Divulgação / Youtube / Brasil Urgente

A busca por Pereira começou quando uma mulher, que ficou desconfiada e não aceitou o convite para as "fotos", ficou sabendo de outros casos e procurou a polícia. Entre janeiro e agosto de 1998, corpos começaram a ser encontrados no parque com características comuns: estavam ajoelhados, com marcas de violência sexual e mordidas. A polícia então divulgou um retrato falado do criminoso.

A caçada terminou em dezembro daquele ano, depois que uma denúncia levou os policiais à cidade gaúcha de Itaqui, próxima à fronteira com a Argentina. Antes, entretanto, ele esteve em Ponta Porã (MS) e nas capitais do Paraguai, Assunção, e da Argentina, Buenos Aires. Embora tenha sido condenado a mais de 280 anos de prisão por matar sete mulheres e estuprar e roubar outras nove, que conseguiram escapar, o Maníaco do Parque poderá ser solto em 2028.

Sequestro de Silvio Santos

Em agosto de 2001, Fernando Dutra Pinto manteve Silvio Santos refém na casa do apresentador do SBT no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo (SP). Com imagens transmitidas ao vivo pelos principais canais de TV, o sequestro chamava a atenção porque, dias antes, a filha de Santos, Patrícia Abravanel, havia sido raptada no mesmo local. Na fuga, chegou a matar dois policiais.

A família chegou a pagar R$ 7 milhões para conseguir a libertação da garota, mas a polícia não conseguiu encontrar o sequestrador, mesmo tendo mobilizado mais de cem viaturas. Segundo o que foi revelado à época, Dutra Pinto teria voltado à casa de Silvio Santos para pedir ajuda do apresentador. Ele dizia que a família sofria "ameaças injustas" por um crime que só ele e os irmãos haviam cometido.

O cerco policial e a negociação duraram sete horas. O sequestrador só se entregou à polícia depois que o apresentador convocou o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para garantir a sua segurança na saída e na cadeia. No começo do ano seguinte, Dutra Pinto morreu na prisão, vítima de uma infecção generalizada. A morte do criminoso, entretanto, foi cercada de mistério.

8.nov.01 - Fernando Dutra Pinto, seqüestrador de Patrícia Abravanel e de Sílvio Santo,participa de reconstituição do crime - César Rodrigues/Folhapress - César Rodrigues/Folhapress
8.nov.01 - Fernando Dutra Pinto, seqüestrador de Patrícia Abravanel e de Sílvio Santo,participa de reconstituição do crime
Imagem: César Rodrigues/Folhapress