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PM mata mulher negra com tiro pelas costas durante ação no Rio, diz família

Irmã mostra foto de Priscila Carmo Silva, morta com um tiro nas costas - Tatiana Campbell/UOL
Irmã mostra foto de Priscila Carmo Silva, morta com um tiro nas costas Imagem: Tatiana Campbell/UOL

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

13/08/2021 15h32

Uma mulher negra de 35 anos morreu ontem após ser baleada nas costas durante uma ação da Polícia Militar no Complexo do Chapadão, na zona norte do Rio de Janeiro. Priscila Carmo Silva saía de uma padaria quando foi baleada e, segundo sua irmã, policiais militares alegaram que a confundiram com bandidos, por ela estar vestindo um casaco preto com capuz. Priscila deixa dois filhos.

Parentes de Priscila estiveram hoje pela manhã no Instituto Médico Legal para realizar a liberação do corpo. Tairiz Pereira, irmã da vítima, afirmou ao UOL que a moradora do Chapadão deixava o estabelecimento carregando compras, na volta para casa.

"A minha irmã estava com um amigo, quando saiu da padaria com o café dela e um pão na mão e levou um tiro nas costas. Os policiais alegaram que por ela estar com um casaco preto, de capuz, confundiram ela com bandidos, mas isso sequer é motivo para ela levar um tiro nas costas", disse Tairiz.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, 78,9% das pessoas que morreram por policiais eram negras. O percentual é semelhante ao de 2019, quando foi registrado 79,1% das vítimas sendo negras.

A reportagem conversou com uma moradora do Complexo do Chapadão que pediu para não ser identificada por questões de segurança. "Sempre tem tiroteio no Chapadão. Aqui eles chegam e não querem saber, atiram em quem vê pela frente. Ontem foi um tiroteio muito grande, assustador mesmo. Eu estava em casa com minha filha e ficamos na cozinha esperando acalmar".

Tairiz reclama da abordagem feita pela Polícia Militar. "Eles, como policiais, deveriam ter um preparo. Se confundiram ela, que abordassem, perguntassem, não atirassem nas costas. Foi desumano", criticou a irmã.

Priscila havia completado 35 anos no dia 6 de agosto. Segundo a família, ela nasceu e foi criada no Complexo do Chapadão e trabalhava vendendo esponjas na rua, mas atualmente não estava atuando, devido à pandemia. Era na comunidade que ela criava os dois filhos, uma garota de 12 anos e um menino de 9.

"Eles eram muito colados nela, foi horrível ter que contar isso para eles. Os dois estão sem chão", falou Tairiz.

Além de Priscila, um homem identificado como Luís Alfredo também foi morto. Segundo a Polícia Militar, ele tinha envolvimento com o tráfico. A informação foi confirmada pela família, porém o pai questiona a ação truculenta dos agentes.

"Ele realmente tinha envolvimento com o tráfico, mas não tinham que matar meu filho. Minha briga agora é pela vida de tantos outros da comunidade. Esses policiais do 41º [batalhão de Irajá, Zona Norte] não têm condições de trabalhar", disse Jorge Franco.

Outro lado

Questionada pelo UOL sobre a mulher ter sido confundida por bandidos, a Polícia Militar não respondeu diretamente à questão e disse que "em paralelo às investigações da Polícia Civil, o comando do 41º BPM instaurou um Inquérito Policial Militar para averiguar as circunstâncias do fato".

Com relação à morte de Luís Alfredo, a corporação informou que com ele e outros suspeitos foram apreendidos "um fuzil, farto material entorpecente, uma granada, um simulacro de arma de fogo, dois carregadores de fuzil e dois rádios transmissores".