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Família luta por prótese para pintor que perdeu braços em descarga elétrica

José trabalha como pintor há 25 anos e perdeu os dois braços após sofrer uma descarga elétrica - Arquivo pessoal
José trabalha como pintor há 25 anos e perdeu os dois braços após sofrer uma descarga elétrica Imagem: Arquivo pessoal

Heloísa Barrense

Do UOL, em São Paulo

06/10/2021 14h35Atualizada em 07/10/2021 08h57

O pintor autônomo José de Araújo Oliveira, de 45 anos, estava em seu primeiro dia de trabalho em um edifício de três andares em Guará, no Distrito Federal, quando foi vítima de uma descarga elétrica. Ele movia um corrimão de lugar, quando levou o choque, que foi rápido, mas intenso o suficiente para fazer com que ficasse internado por 50 dias e precisasse amputar os dois braços.

Agora, a família, que reside em Brasília, luta para conseguir próteses que possam ajudar o pai de dois adolescentes a retomar os trabalhos. Uma campanha online foi criada para apoiar o processo.

José, que recebeu alta hospitalar há cerca de um mês, contou ao UOL que o acidente ocorreu em 16 de julho, quando estava pintando as escadarias do prédio.

Tinha uns corrimãos de metal, que eu tive que tirar da parede para fazer a pintura. Eu levei para a parte de cima do prédio, para a última laje. No momento que eu estava manuseando eles, acabou que saiu um pouco pra fora e encostou na rede elétrica. Eu estava segurando com as duas mãos e então levei um choque. Senti a carga no meu corpo

O pintor diz que não desmaiou após o acidente e teve um atendimento rápido, já que o seu companheiro de trabalho, que estava em outro espaço, ouviu o barulho e correu para acionar o Corpo de Bombeiros.

"Eu já tinha consciência que ia perder as mãos porque no momento do choque elas ficaram pretas. Mas, apesar disso, fiquei feliz por Deus ter preservado a minha vida", diz o pintor.

José foi encaminhado até o Hospital de Base do Distrito Federal, onde ficou em coma por 12 dias. "Foi muita agonia. Eu acordei e eles já me providenciaram a transferência para o HRAN (Hospital Regional da Asa Norte), que é especialista em queimaduras".

Ele conta que perdeu 75% de cada braço, em regiões que já não tinham mais circulação sanguínea. A medida, segundo o pintor, também foi para evitar uma possível infecção generalizada.

Passou um milhão de coisas pela minha cabeça. Ser pintor era o meu único trabalho, o sustento que eu tirava para tirar os meus dois filhos, eu dependia dos meus braços. Então fiquei sem chão, muito abalado. Mas eu me apeguei à minha fé e não fiquei me questionando o porque isso aconteceu comigo

Mais um obstáculo: a covid

Ao ser transferido, no entanto, um novo obstáculo apareceu: José havia sido diagnosticado com covid-19. "Foi mais uma facada, mas felizmente não tive nenhum sintoma. Passei 15 dias na área de covid-19 e depois pude retornar para o centro dos queimados, onde retomei o tratamento intensivo", conta.

José atua há 25 anos como pintor e, segundo ele, nunca havia passado por nenhum acidente de trabalho grave. Ele é viúvo há sete anos e, portanto, o único provedor da família. Pai de uma jovem de 16 anos e um menino de 12 anos, o pintor ter encontrado um grande suporte em casa, onde também reside com a mãe.

É tudo novo. Parece que eu virei bebê outra vez. Estou tendo que reaprender a fazer o básico. Meus filhos são os meus braços. Apesar de o meu filho mais novo ter autismo, ele me ajuda bastante. Agora eu já estou conseguindo fazer algumas coisas sozinho

josé - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
José ao lado dos filhos, de 12 e 16 anos, ainda no hospital após sofrer choque durante o trabalho
Imagem: Arquivo pessoal

Ainda recebendo atendimento médico, José diz que os especialistas afirmaram que ele poderia ter ficado até mesmo tetraplégico por conta do incidente. No entanto, as terapias nas quais está sendo submetido estão ajudando para que ele retome a rotina. "Eu parecia um boneco de pano. Não tinha força para nada e ficava caindo para os lados. Agora, já consigo caminhar. Estou voltando ao hospital para fazer curativos e tem a minha perna doadora, de onde tirei um pedaço de pele, para refazer o meu abdômen, que eu preciso cuidar", conta.

A esperança de retomar a vida normal, por sua vez, está nas próteses de braço. "Não é luxo, é necessidade. Durante o tempo que eu estava no hospital, eu estava imaginando como eu ia sobreviver. Pensando em alguma coisa", diz. José afirma que recebeu o apoio de muitos amigos e familiares, incluindo dos próprios clientes. A história ganhou tanta proporção que uma vaquinha online foi criada para que ele conquiste os novos braços. O problema é o elevado valor de cada peça.

A irmã, Valdirene Araújo Oliveira, de 44 anos, que também é autônoma, conta que logo após a cirurgia, contatou clínicas para saber sobre a possibilidade de comprar uma prótese. "São valores milionários, porque é tudo importado. Cada unidade custa em torno de R$ 950 mil", explica.

Com a impossibilidade de trabalhar, o dinheiro arrecado têm sido usado para a própria sobrevivência da família. "A gente não conseguiu um valor muito considerável porque desde o dia 16 de julho ele não trabalha. O que a gente arrecada é para o dia a dia."

José ainda deve passar por outra cirurgia, na perna doadora e, portanto, a família tem buscado se organizar financeiramente para atravessar esse momento. "A gente pensa no amanhã com as doações. Porque a prótese não vai vir logo", desabafa a irmã.

A fé, no entanto, é um sentimento que os familiares compartilham sobre um futuro retorno de José. Para José, o apoio dos que o cercam tem sido crucial em seu percurso na recuperação. "Graças a Deus, as pessoas que estão ao meu redor estão me dando força, me incentivando a acreditar, e isso me fortalece para eu continuar e não desistir."