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MP volta atrás após 4 denúncias contra mulher negra pisoteada por PM em SP

Policial pisa sobre pescoço de mulher negra em Parelheiros, SP - Reprodução
Policial pisa sobre pescoço de mulher negra em Parelheiros, SP Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/10/2021 15h09Atualizada em 22/10/2021 16h19

O Ministério Público voltou atrás e vai reavaliar a denúncia que ofereceu contra uma comerciante negra, de 51 anos, pisoteada por policiais militares, durante ação policial na zona Sul de São Paulo. Na terça-feira, o MP denunciou a mulher por quatro crimes que ela teria cometido durante a abordagem.

A mulher, agredida em maio de 2020, estava sendo acusada de infração de medida sanitária preventiva, desacato, resistência e lesão corporal contra um dos policiais envolvidos.

No entanto, na tarde de ontem, a promotora de Justiça Flávia Lias Sgobi voltou atrás da própria decisão, justificando que tomou conhecimento de novas provas do caso através da mídia.

"Os policiais militares, vítimas nestes autos, foram denunciados perante à Justiça Militar pela prática de lesão corporal e abuso de autoridade, pelos mesmos fatos apurados neste inquérito policial. Consta, ainda, a publicação de um vídeo registrando os fatos. Diante disso, a subscritora solicitou informações à Promotoria da Justiça Militar para confirmar a veracidade das informações. Nesse cenário, há fatos novos que devem ser analisados pelo Ministério Público", diz trecho do auto.

"Considerando que a denúncia ainda não foi recebida e a existência de fatos novos, requeiro nova vista dos autos para melhor análise", acrescentou a promotora no documento.

O advogado da comerciante, Felipe Morandini, declarou ao UOL que considerava a denúncia "estapafúrdia". Para ele, a promotora fez um "cópia e cola" do boletim de ocorrência lavrado contra a comerciante em 30 de maio de 2020, dia da agressão.

"Eu recebi essa denúncia com bastante estarrecimento, não esperava. Até por causa de tudo que foi noticiado e considerando o avanço do processo que corre na Justiça Militar, contra os policiais, o que se esperava era o arquivamento do inquérito, mas infelizmente isso não aconteceu", lamentou o defensor, na terça-feira.

O caso

Em depoimento à Polícia Civil de São Paulo no início de junho, a comerciante afirmou que, por volta das 13h30 de 30 de maio, ouviu barulhos na porta do bar que administra. Ao sair, com um rodo em mãos, viu um amigo ensanguentado e apanhando de um PM.

Ela admitiu ter batido três vezes com o rodo contra o policial. Afirmou ter feito isso para o agente soltar o homem. Ao soltar o objeto de limpeza, ela conta ter sido agredida com socos no peito, chute na perna e puxão de cabelo.

Um vídeo registrado por testemunhas ainda mostrou um dos PMs pisando no pescoço da comerciante enquanto ela se debatia. As imagens mostram que a comerciante chega a desmaiar após ser pisoteada.