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Boate Kiss: "Queria viver", diz vítima que teve 40% do corpo queimado

Ex-funcionária da Kiss Kátia Giane Pacheco foi a primeira a depor em júri em Porto Alegre - Reprodução/TJ-RS
Ex-funcionária da Kiss Kátia Giane Pacheco foi a primeira a depor em júri em Porto Alegre Imagem: Reprodução/TJ-RS

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

01/12/2021 16h08Atualizada em 01/12/2021 19h55

A ex-funcionária da boate Kiss Kátia Giane Pacheco foi a primeira a depor hoje no julgamento em Porto Alegre dos quatro réus acusados pelo incêndio na casa noturna. Ela trabalhava na cozinha do local no momento em que o fogo começou. Ao todo, 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas.

"Estava cheio, porque não parei por um minuto. Eu estava na cozinha e a luz caiu, e já comecei a escutar gente gritando. Os guris que trabalhavam no bar já pularam do bar", contou.

A funcionária tentou deixar o local, mas viu que várias pessoas confundiram a porta do banheiro com a saída da casa noturna e tentou orientá-los. "Quando eu falei que era para o outro lado, eu desmaiei e acordei só depois, quando perguntaram se havia alguém ali (na boate). (...) Foi quando eu senti um jato de espuma entrando na minha garganta e eu comecei a gritar lá dentro que eu não queria morrer."

"Tentaram me retirar, como tinha gente em cima de mim, não conseguiram e simplesmente me largaram. E iam tentar pegar outra pessoa, só que nisso eu agarrei nas pernas dessa pessoa para conseguir sair dali."

O advogado Leonardo Santiago, que atua na defesa de Spohr, salientou que teria sido Kiko quem a resgatou, segundo depoimento da esposa do réu.

Kátia teve 40% do corpo queimado e ficou 46 dias internada —inicialmente em Santa Maria, depois foi transferida para Porto Alegre. A ex-funcionária ficou bastante emocionada ao se lembrar da internação, parte dela em coma.

"Antes de ter acordado por 21 dias, tentaram me desintubar, e tive uma parada cardíaca. Eles me falaram que se iriam desintubar de novo e, se não resistisse, iriam me deixar morrer. Coloquei na cabeça que queria viver, quando deu 46 dias deu alta no hospital.", contou Kátia, aos prantos.

A ex-funcionária, que atualmente está grávida, conhecia cerca de 50 pessoas que morreram na tragédia.

Kátia relatou que os shows pirotécnicos eram "frequentes" na casa noturna e que a política da boate era "quanto mais gente dentro da casa, melhor". A ex-funcionária salientou que cerca de mil pessoas estavam na casa noturna no momento da tragédia.

Ela trabalhava havia cerca de seis meses na Kiss, sem carteira assinada, e explicou que ingressou com um processo para tentar conseguir as verbas rescisórias. "Eu tive que recorrer na Justiça. Não consegui receber valores. O processo finalizou em novembro de 2019 e não recebi até agora nada."

A sobrevivente pediu a condenação dos réus, ao ser questionada pela promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari. Porém, mesmo após ela responder, o juiz Orlando Faccini Neto pediu que a pergunta não fosse respondida.

"Com todas as coisas que eles fizeram [na reforma], com a elevação do palco e a colocação de espuma, eles [os donos] tentaram matar a gente", disse a sobrevivente.