Boate Kiss: Familiares fazem ato de mãos dadas após fim dos depoimentos
Sobreviventes e familiares de vítimas da boate Kiss formaram um círculo e deram as mãos em meio ao julgamento dos quatro réus acusados pelo incêndio na casa noturna, em andamento há nove dias em Porto Alegre.
A situação aconteceu após o fim dos depoimentos de 32 pessoas e em meio à fase de debates, quando o promotor David Medina falava. Ele faz parte da acusação, que tem duas horas e meia para falar.
Os familiares e sobreviventes têm um espaço reservado na plateia dentro do plenário. O grupo deixou as cadeiras, levantou-se e deu as mãos, permanecendo em silêncio. Na maior parte das camisetas deles, havia fotos de vítimas. Ao todo, 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas no incêndio em Santa Maria (RS), em 27 de janeiro de 2013.
Logo após o promotor mostrar as fotos dos corpos no CDM (Centro Desportivo Municipal), os familiares arrastaram as cadeiras e formaram um círculo. Na sequência, alguns chegaram a se sentar. "Nenhuma prisão é como dessas pessoas", diz o promotor, apontando para os familiares e sobreviventes.
O ato do grupo ocorre a poucas horas do fim do julgamento, já que há uma expectativa de que a sentença seja proferida na madrugada de hoje para amanhã ou no começo da manhã de sexta.
O julgamento
Quase nove anos após a tragédia, quatro réus são julgados por 242 homicídios simples e por 636 tentativas de assassinato —os números levam em conta, respectivamente, os mortos e feridos no incêndio. Devido ao tempo de duração e estrutura envolvida, o júri é considerado o maior da história do Judiciário gaúcho.
Ontem, começou a falar o primeiro réu: Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, que era dono da boate.
O empresário disse que, inicialmente, ajudou na retirada das pessoas, mas deixou o local ao receber de uma pessoa que ele considerava sua amiga um tapa na cara. Durante o depoimento, Spohr chorou bastante, pediu às famílias desculpas e solicitou para ser preso.
"Isso não deveria ter acontecido, não deveria ter acontecido, eu sei que não deveria ter acontecido. Por que isso ia acontecer na Kiss? Era uma boate boa, onde todo mundo gostava de trabalhar. Eu virei monstro de um dia para outro. E fui preso. E eu sei que morreu gente, eu estava lá, ninguém me falou, eu estava lá."
O produtor musical Luciano Bonilha foi o segundo réu a ser ouvido, já hoje. Ele pediu para ser condenado. "Mesmo eu sabendo que sou inocente, para tirar as dores dos pais, me condenem."
Na sequência, falou o sócio investidor da boate Kiss, Mauro Hoffmann, que salientou que "não se sentia dono" da casa noturna, já que Elissandro Spohr era o sócio administrador e tocava o negócio. Marcelo de Jesus dos Santos foi o último. Ele foi o músico que carregou o artefato com fogo e deu origem ao incêndio. Ele disse que tentou apagar as chamas, mas não conseguiu porque o extintor não funcionou.
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