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Quadrilhas atacam agências bancárias para furtar armas em SP

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

14/02/2022 04h00

A Polícia Civil de São Paulo identificou quadrilhas que se especializaram em invadir agências bancárias para furtar as armas dos vigilantes que ficam guardadas nos locais. Nos últimos seis meses, ao menos 70 instituições financeiras foram atacadas no estado.

Levantamento feito pela Polícia Civil a pedido do UOL aponta que mais de cem armas foram arrecadadas para serem revendidas ao crime organizado.

Visadas por criminosos por serem armazenadas em cofres pequenos e sem o mesmo mecanismo de segurança usado para guardar o dinheiro, as armas dos vigilantes das instituições financeiras preocupam as autoridades.

As armas dos vigilantes são armazenadas em cofres pequenos e em áreas expostas. É preciso que sejam criados novos métodos para dificultar o acesso a essas armas, que são revendidas rapidamente e abastecem o crime organizado. As instituições bancárias precisam investir na proteção desse armamento"
Delegado Pedro Ivo Correa dos Santos, 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos do Deic

Em um dos crimes ocorridos em São Paulo nos últimos seis meses, uma quadrilha retirou todo o cofre com as armas de uma das agências. Imagens mostram o suspeito carregando o cofre nas costas em plena luz do dia enquanto é acompanhado por um comparsa.

Suspeitos aparecem com cofre com armas de vigilantes levado de agência bancária de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Suspeitos aparecem com cofre com armas de vigilantes levado de agência bancária de São Paulo
Imagem: Reprodução

Uma das ações foi registrada em vídeo captado por câmeras de segurança na noite de terça-feira (8), ao qual a reportagem teve acesso.

Mesmo desarmado, o grupo invadiu duas agências em um intervalo de apenas 30 minutos na noite de terça-feira. O primeiro ataque ocorreu às 22h50 na avenida Adolfo Pinheiro, em frente ao Fórum de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Nada foi levado.

Em seguida, a quadrilha se deslocou para uma agência bancária na avenida Santa Catarina, na Vila Mascote, a sete quilômetros dali. Imagens registradas às 23h21 mostram o momento em que três homens encapuzados e com máscaras invadem o local após arrombarem a porta principal com o auxílio de uma chave de fenda.

Com um celular na mão, um dos criminosos monitora a ação, que dura apenas três minutos —tempo máximo usado pelas quadrilhas para fugir antes da chegada da Polícia Militar. Eles então deixam o local com três revólveres em um carro estacionado na frente da agência.

Segundo a Polícia Civil, o veículo foi o mesmo usado em outro ataque ocorrido na madrugada de 9 de dezembro de 2021 em Campinas, no interior de São Paulo. Um vídeo às 5h33 em que um dos suspeitos aparece descendo do veículo ajudou os investigadores na identificação do grupo, que já era alvo de investigações.

Grupo preso na Brasilândia

Na tarde de quarta-feira, dia seguinte aos ataques a duas agências bancárias na capital paulista, quatro suspeitos foram presos em flagrante em uma casa na Brasilândia, na zona norte da cidade, por agentes da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos, unidade do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) que investiga esse tipo de crime.

Weslley Costa da Silva, 22, Guilherme Roberto Gomes dos Santos, 19, e Cauê Mendes da Silva Almeida, 23, foram detidos por associação criminosa e furto qualificado. Com eles, foram apreendidos os três revólveres subtraídos da agência e ferramentas usadas no crime.

Já Luan Menezes dos Santos, 29, irá responder por receptação —segundo a polícia, ele estava no local para comprar o armamento furtado.

Vereador propõe projeto de lei para aprimorar segurança

Um projeto de lei apresentado pelo vereador Delegado Palumbo (MDB) na Câmara Municipal de São Paulo prevê a obrigatoriedade das agências de instalarem cofres mais seguros em salas com paredes reforçadas. A proposição ainda obriga a instalação de equipamento de rastreio nas armas.

"Esses criminosos entram nas agências para furtar as armas, e não o dinheiro. Se aprovado, o projeto de lei obriga as instituições financeiras a colocarem cofres mais apropriados para inibir esse tipo de crime", argumenta o Delegado Palumbo.

Proprietário de uma empresa de tecnologia especializada no monitoramento de bens, o PM da reserva Arnaldo Vargas disse que as armas dos vigilantes deixaram de ser armazenadas no mesmo cofre onde ficam as cédulas devido ao endurecimento nos procedimentos de segurança nas agências.

"Os roubos a banco fizeram com que as agências passassem a evitar que o cofre fosse aberto. Com isso, as armas precisaram ser guardadas em outro local de fácil acesso. E, por isso, ficaram visadas. Uma das soluções seria criar uma legislação para obrigar a instalação de equipamento de monitoramento nessas armas, fazendo com que seja interceptada antes de chegar nas mãos da criminalidade", propõe.

Investimento de R$ 9 bilhões em segurança, diz Febraban

Procurada pelo UOL, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse que as instituições financeiras investem R$ 9 bilhões por ano para aprimorar os sistemas de segurança no país.

A entidade explicou, ainda, que os estabelecimentos financeiros possuem um plano de segurança aprovado pelo Ministério da Justiça composto por vigilância armada, sistema de alarme e outros dispositivos de segurança.

"São investidas somas expressivas de recursos em tecnologia para a realização de operações de forma rápida e segura por meio dos canais digitais, reduzindo a necessidade de recurso dentro das agências bancárias ou no manuseio de dinheiro em espécie", disse um dos trechos da nota enviada pela Febraban.