MPF cobra que governo retome operações contra garimpo em terra ianomâmi
Após denúncias de violação dos direitos da população indígena ianomâmi, que se concentra majoritariamente em Roraima, o MPF (Ministério Público Federal) voltou a cobrar que o governo federal envie esforços para apoiar os indígenas. A região é marcada pela invasão de garimpeiros, acusados de violência e abusos sexuais, além de tomada de terra reservada aos ianomâmis.
Assim, o MPF acionou a Justiça para ordenar que a União dê continuidade a operações em Roraima para proteger e coibir o garimpo. O ministério relembrou que os garimpeiros ocuparam pontos importantes de acesso a apoio para a comunidade indígena, como pistas de pouso para receber aeronaves em situações de emergência.
Em novembro do ano passado, uma criança de 3 anos da comunidade ianomâmi morreu em decorrência de malária e pneumonia. Na época, o presidente do Conselho de Saúde Indígena Ianomâmi e Ye'kwana, Júnior Hekurari Ianomâmi, atribuiu culpa à falta de apoio médico e afirmou que ligou pedindo socorro, mas "ninguém fez atendimento. Se chegasse antes tinha tempo para salvar essa criança".
O MPF ainda afirmou que, atualmente e sem o apoio do governo federal, os ianomâmis "não podem usufruir de seu habitat tradicional, já completamente degradado pelo desmatamento e poluição dos rios".
Hoje, o relatório Ianomâmi Sob Ataque, preparado pela Hutukara Associação Ianomâmi e com apoio do ISA (Instituto Socioambiental), apontou que o garimpo na área dessa comunidade indígena cresceu 46% em 2021, depois de já ter aumentado 30% no ano anterior, em um avanço desordenado que leva à criação de vilas inteiras, com direito a mercados, pousadas e internet, e traz destruição, doenças e violência para dentro da maior terra indígena do país.
Doenças, desnutrição e miséria
Enquanto o garimpo alimenta a riqueza dos homens brancos de Roraima, dentro da reserva ianomâmi sobra miséria.
Boa parte dos postos de saúde que existem dentro da reserva hoje está sem atendimento. A circulação de garimpeiros aumenta o contato dos índios com doenças como malária, covid-19 e outras contra as quais eles têm pouca capacidade de resistência.
Apenas em uma das regiões foram registrados, em 2020, 1800 casos de malária — a comunidade é formada por 900 indígenas, mostrando que houve em média duas contaminações por pessoa.
A desnutrição infantil passa de 60% em uma das comunidades e chega a quase 80% em outra.
As doenças que acometem os pais os impedem de atender adequadamente as necessidades alimentares das famílias. Somado à poluição dos rios e a ocupação de terras tradicionais, a alimentação de adultos e crianças é atingida duramente.
"Os ianomâmis fadigam em cultivar suas roças, mas os (garimpeiros) desejosos de ouro devastam suas roças. É verdade. Se houver ouro onde tem uma roça, eles não perguntam primeiro para os ianomâmi: 'Quem abriu aquela roça?'. Eles, depois de instalar suas dragas sem perguntar, eles devastam as roças com os alimentos plantados, por isso os ianomâmis ficam angustiados", mostra o relato de um ianomâmi citado no relatório.
Estupros de jovens e crianças e "casamentos" forçados em troca de comida também desestruturam a vida dos indígenas, com o aumento de doenças sexualmente transmissíveis e mortes de adolescentes.
*Com informações da Reuters
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