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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Garimpeiros invadem pista de pouso e posto de saúde yanomami em RR

Aviões de garimpeiros tomam conta de região ao lado do posto de saúde indígena fechado  - Condisi Yanomami
Aviões de garimpeiros tomam conta de região ao lado do posto de saúde indígena fechado Imagem: Condisi Yanomami

Colunista do UOL

25/03/2022 04h00

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Indígenas do povo yanomami que vivem no município de Alto Alegre (RR) perderam a unidade de saúde que atendia a comunidade Homoxi, onde moram 615 pessoas. O problema é provocado pela invasão de garimpeiros, que montaram uma base operacional no local após tomarem a pista de pouso da região.

As informações constam em um relatório do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) Yanomami feito após visita à UBSI (Unidade Básica de Saúde Indígena) do Homoxi, no dia 15 de março.

Área onde está a comunidade que teve terras invadidas   - Reprodução/Google Maps - Reprodução/Google Maps
Área onde está a comunidade que teve terras invadidas
Imagem: Reprodução/Google Maps

A coluna teve acesso ao documento, com fotos que mostram como os garimpeiros ocuparam a área do entorno da unidade e atuam na exploração ilegal de minérios na região.

Nas imagens feitas pela comitiva, é possível ver também que o prédio segue intacto, e guarda material abandonado.

"As condições físicas do polo estão a contento, porém a situação do garimpo se alastrou por toda região e está a 10m da UBSI. A pista de pouso tem um alto fluxo e só é permitido pouso com a autorização dos garimpeiros, o que se torna inviável para a empresa aérea que presta serviços ao DSEI [Distrito Sanitário Especial Indígena] Yanomami enviar aeronaves de asas fixas", afirma o documento.

Considerando os danos já registrados na referida região a respeito de equipe envolvida com garimpo, fica evidente que não existe a possibilidade de manter uma equipe fixa na UBSI sem a presença de força policial.
Relatório do Condisi

Área de garimpo, à direita, fica a poucos metros do posto de saúde, no alto - Condisi Yanomami - Condisi Yanomami
Garimpo ocorre ao lado de posto de saúde e pista de pouso
Imagem: Condisi Yanomami

O presidente do Condisi, Junior Hekurari Yanomami, foi um dos que integrou a comitiva e visitou o local. Ele relatou à coluna que a situação na comunidade é de alta tensão. "A unidade já está fechada há seis meses. O DSEI não manda profissionais por causa do risco à segurança deles."

Júnior afirma que o relatório com a situação já foi apresentado à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), ligada ao Ministério da Saúde, e o povo aguarda uma solução.

"Estamos muito preocupados. Os garimpeiros estão quase derrubando o posto de saúde, que fica perto [da área de garimpo]. A preocupação é muito grande. Tomaram a pista e a unidade básica, e quem controla tudo lá hoje são eles", reforça.

A terra é chamada pelos garimpeiros de "Jeremias". A região é palco de tensões há alguns meses. Em julho, um indígena de 25 anos morreu ao ser atropelado por um avião de garimpeiros na comunidade.

Números do DSEI Yanomami, segundo a Sesai:

  • Área (em Km²): 106.327,56
  • População: 28.141
  • Etnias: 19
  • Aldeias: 371
  • Unidade Básica de Saúde Indígena: 38
  • Casa de Saúde Indígena: 1

A coluna enviou e-mail às assessorias de imprensa da Sesai e da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Garimpo feito ao lado da comunidade Homoxi eleva tensão no local - Condisi Yanomami - Condisi Yanomami
Garimpo ao lado da comunidade Homoxi eleva tensão no local
Imagem: Condisi Yanomami

A Funai informou que atua em atividades de monitoramento territorial dos yanomami por meio de quatro Bapes (Bases de Proteção Etnoambiental).

"A área Yanomami conta com as Bapes da Funai Serra da Estrutura, Walo Pali, Xexena e Ajarani. Todas essas unidades são responsáveis por ações permanentes e contínuas de proteção, fiscalização e vigilância territorial, além de coibição de ilícitos, controle de acesso, entre outras ações em conjunto com órgãos de segurança pública competentes", explica.

Sobre a questão do posto indígena, a Funai alegou que o responsável pelo assunto no país é o Ministério da Saúde. "A Funai não cuida diretamente da matéria, mas sim a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai/Ministério da Saúde)", finaliza.

Em nota, o Ministério da Saúde, afirna que mantém o atendimento de saúde na comunidade Homoxi "com o envio regular de profissionais de saúde para a região".

"A pasta tem realizado missões que duram em média de sete a dez dias, continuamente, garantindo o atendimento à população Yanomami", diz.

Ainda segundo a nota, como muitos indígenas habitam regiões de mata fechada, "as equipes de saúde realizam atendimento com a estratégia de busca ativa, de aldeia em aldeia, em busca de indígenas que necessitem de assistência ou que ainda não receberam a vacina contra a Covid-19", diz, citando ainda que algumas dessas missões contam com o apoio da Força Nacional por questões de segurança.