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Filho acusa Flordelis pela 1ª vez por morte de pastor, diz jornal

A ex-deputada Flordelis é tida como mandante de morte de pastor - Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo
A ex-deputada Flordelis é tida como mandante de morte de pastor Imagem: Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

13/04/2022 08h49Atualizada em 13/04/2022 13h15

Em depoimento na madrugada de hoje, o pastor Carlos Ubiraci acusou pela primeira vez a ex-deputada federal Flordelis de matar o pastor Anderson do Carmo.

Ubiraci, que foi absolvido hoje da morte de Anderson, negou ter qualquer relação com o crime. Mas, ao falar sobre Flordelis, ele disse que "acredita, sim" que a ex-parlamentar teve participação direta no assassinato, segundo informações do jornal O Globo.

Flordelis é acusada de ser a mandante do assassinato a tiros do marido. Ela será julgada em 9 de maio juntamente com duas filhas e uma neta.

Ubiraci também foi absolvido da acusação de tentativa de homicídio duplamente qualificada, por conta de episódios em que membros da família teriam envenenado a comida de Anderson.

Carlos Ubiraci e outros três réus foram condenados hoje por uso de documento falso e associação criminosa armada por se envolverem na elaboração de uma carta falsa onde Lucas Cézar dos Santos, outro filho adotivo de Flordelis, assumiria toda a culpa pela morte de Anderson.

Diferentemente de outros irmãos, que desde o início das investigações culparam a ex-deputada pela morte de Anderson, Ubiraci nunca havia dito até então que Flordelis estaria envolvida no crime.

Ele negava isso mesmo estando preso e sendo acusado do assassinato. Em depoimentos anteriores, o réu afirmou à polícia não acreditar no envolvimento da pastora com o crime, mas chegou a ressaltar que, mesmo que houvesse a ligação, ele "não viraria as costas nem deixaria de estar do lado dela, pois é sua mãe e ela o ajudou muito".

"Acredito que ela tem participação, sim", disse Ubiraci, segundo O Globo, ao mudar a versão sobre o que já havia dito.

Defesa de Flordelis fala em abusos de Anderson

O advogado Angelo Máximo, assistente de acusação representando a família do pastor, disse que a tese da defesa de Flordelis "é covarde".

"Foram ouvidas em sede policial e nenhuma delas reclamou de abuso sexual. E por mais que houvesse o abuso sexual, a Flordelis tem participação por omissão, por ser mãe. Que mãe é essa que sabe de abuso sexual na casa, das suas filhas sendo vítimas, e não faz nada? Atacar a vítima é fácil", questionou.

"O Código Penal veda fazer justiça com as próprias mãos. Para isso existe polícia. E ela, como mãe, deveria ser a primeira a denunciar."

Em novembro de 2021, houve o primeiro julgamento do caso. Os filhos da ex-deputada Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram julgados na ocasião.

Flávio, acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa. Já Lucas, acusado de ter comprado a arma usada no crime, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.

O filho adotivo André Luiz de Oliveira, que responde por uso de documento falso, falsidade ideológica e associação criminosa, seria julgado hoje, mas o advogado dele passou mal.

'Poder político' do pastor incomodava

Nos primeiros depoimentos, os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte —que conduziram as investigações da DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí) sobre a morte— responderam a questões sobre o inquérito policial.

Em sua fala, Barbara Lomba, que chefiou a primeira parte das investigações, afirmou que a vítima tinha grande poder político —o que incomodava parte dos filhos de Flordelis.

Segundo ela, o pastor era "uma pessoa de ação", que tomava para si muitas responsabilidades. Em relação à atividade política de Flordelis, a delegada afirma que "todo mundo" no meio sabia que ele era o responsável pelas articulações.

"O grupo que ficou descontente com o que o Anderson estava representando queria deixar claro que tudo foi construído com a imagem da Flordelis. No meio político, havia pessoas que tratavam com ele, não com ela. Há uma decisão que a ação de Anderson precisava ser interrompida, e não podia ser pela separação", disse ela.

O depoimento de Bárbara Lomba foi corroborado por outra testemunha. Luana Pimenta, mulher de Wagner Andrade Pimenta, o Misael, filho afetivo de Flordelis, disse que alguns dos filhos reclamavam do protagonismo de Anderson.

A nora de Flordelis relatou que havia um núcleo de filhos "preferidos", que não gostavam da grande influência de Anderson na carreira como cantora e no mandato de Flordelis na Câmara.

Luana afirma que Simone dos Santos Rodrigues, uma das filhas biológicas de Flordelis, era uma das que mais reclamavam de Anderson. Flordelis, de acordo com a nora, fazia coro às reclamações.

"Eu perguntei: 'por que não separa?' Mas ela [Flordelis] dizia que a separação iria queimar a imagem da igreja, que seria um escândalo. Então ela falava que Deus iria levar ele, que até o final do ano ele iria morrer", relata Luana.

Plano de envenenamento descoberto após suco

Além de Luana, também depuseram Misael e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan, dois filhos afetivos de Flordelis. Alexander, aliás, pediu que não fosse chamado de Luan no plenário —era prática comum de Flordelis mudar o nome de quem chegava à casa da família.

Ambos os filhos contaram que ficaram chocados na ocasião da morte do pastor.

As filhas de Carlos Ubiraci Francisco da Silva, um dos réus, também prestaram depoimento: Roberta (filha afetiva) e Raquel (filha biológica), além de uma outra filha afetiva, menor de idade.

As três mulheres afirmaram que só souberam que havia uma tentativa de envenenamento quando a mãe delas, mulher de Carlos, bebeu um suco da geladeira de Flordelis na igreja e passou mal a ponto de ir a um hospital.

Raquel, última das filhas a depor, afirmou que, ao saber que a nora tinha ido ao hospital, Flordelis reclamou. A ex-deputada federal teria dito que deveria ter sido procurada pela família para que ela pudesse "reverter".

Todas contaram que uma outra neta biológica de Flordelis tomou uma bebida láctea da mesma geladeira e também passou mal. Durante o depoimento, a mãe das jovens estava no plenário e confirmou, afirmando com a cabeça, a versão da filha.

Ex-PM participou de maior chacina do Rio

Não é a primeira vez que o nome de Marcos Siqueira Costa, um dos condenados hoje, é envolvido em homicídios. Ainda quando estava na PM, ele participou da Chacina da Baixada, a maior já praticada no estado, em 2005.

Marcos dirigiu o carro usado por outros quatro policiais para matar 29 pessoas pelas ruas de Nova Iguaçu e Queimados em menos de duas horas. Pela participação no crime, ele foi condenado a 480 anos e seis meses de prisão, por homicídio, tentativa de homicídio e formação de quadrilha.

Filhos foram condenados em novembro

Em uma sessão que durou 22 horas ininterruptas, a Justiça condenou em novembro de 2021 os primeiros envolvidos na morte de Anderson do Carmo.

Os filhos da ex-deputada Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza foram julgados na ocasião.

Flávio, acusado de efetuar os disparos que mataram o pastor, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento falso e associação criminosa. Já Lucas, acusado de ter comprado a arma usada no crime, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por homicídio.

Em razão do número de acusados no processo, a juíza optou por dividir o julgamento em três sessões. Flordelis será julgada na última delas, marcada para 9 de maio, ao lado de duas filhas e uma neta.

Em agosto do ano passado, a política teve o mandato de deputada federal cassado por 437 votos a favor e apenas sete contrários, além de 12 abstenções.