Duas pessoas atiram em ação que matou homem na 'cracolândia'; veja o vídeo
Um homem morreu ontem à noite após ser atingido por um tiro no peito na avenida Rio Branco, no centro de São Paulo, em meio a uma incursão policial nos arredores da praça Princesa Isabel, onde a "cracolândia" estava instalada até a madrugada de quarta-feira (11), quando cerca de 500 dependentes químicos foram retirados do local.
Segundo a Polícia Civil, a vítima estava em situação de rua e chegou a ser levada para a Santa Casa de São Paulo, mas não resistiu aos ferimentos. O caso foi registrado por volta das 20h30 e encaminhado ao DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga a ação.
Um vídeo feito pela moradora de um dos prédios no entorno mostra o momento em que dois homens com trajes civis caminham até o meio da rua para abrir fogo contra a multidão. Um deles portava uma arma longa, conforme mostram as imagens.
Após os disparos, eles continuam caminhando normalmente na direção oposta ao grupo, acompanhados por um terceiro homem.
Investigadores estão em diligências para identificar a autoria do crime com o auxílio da análise de imagens feitas no momento do crime. Segundo o boletim de ocorrência, a vítima teria sido atingida em meio a "um conflito entre moradores de rua com as forças policiais acionadas posteriormente por populares".
O homem morto foi identificado como Raimundo Rodrigues Fonseca Júnior, 32. Segundo a Polícia Civil, ele tinha anotações criminais por tráfico de drogas e roubo.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que três policiais civis se apresentaram voluntariamente hoje como autores de disparos na ação.
Não há até o momento, porém, comprovação de que os tiros disparados pelos policiais foram os mesmos que mataram o homem. "A perícia vai apurar se o tiro que causou a morte do homem saiu da arma de um destes policiais e as circunstâncias do fato. A Corregedoria Geral da Polícia Civil de São Paulo também acompanha as investigações", finaliza o posicionamento da SSP.
O que mostram os vídeos
A ação começou quando policiais civis abordaram um grupo com cerca de 200 usuários de drogas concentrado na esquina entre a rua do Triunfo e a rua dos Gusmões para encontrar armas brancas e suspeitos de integrar o tráfico com mandados de prisão expedidos pela Justiça.
Em seguida, informaram os agentes, a multidão se dispersou em direção à praça Princesa Isabel, antigo endereço da "cracolândia". Em um vídeo feito por uma moradora, é possível ver o momento em que uma viatura da Polícia Militar acelera em direção aos usuários na avenida Rio Branco e freia em seguida, motivando outra dispersão.
Ao perceber a aproximação do grupo, três homens que estavam na calçada caminham até o meio da via. Dois deles atiram. "Estão até com fuzil na mão. É tiro!", narra a moradora, que gravou a cena da janela de um dos apartamentos no entorno.
Em vídeo feito por outro morador, é possível ver um homem caído na calçada. "Olha lá, mataram o cara mesmo".
Operação na Cracolândia
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), 20 pessoas foram detidas desde o início da ação na região da Cracolândia —14 delas já foram liberadas pela polícia.
Por volta das 15h de quarta-feira, a reportagem do UOL observou que, mesmo após a ação, cerca de 150 usuários de drogas continuavam concentrados na avenida Rio Branco, próximo da esquina com a Duque de Caxias, a apenas 50 metros do local de onde foram retirados.
Ao longo da tarde, foram feitas novas intervenções quando dependentes químicos tentaram voltar à praça Princesa Isabel, mas foram impedidos por guardas municipais. Carros que trafegavam pela região chegaram a ser alvo de pedradas. Por volta das 18h15, dezenas de pessoas se deslocaram em direção à avenida Angélica e se concentraram na praça Marechal Deodoro, onde bancas foram montadas.
Investigação
Com base em dois meses de investigação com vídeos produzidos por agentes infiltrados, a Polícia Civil obteve o mandado de prisão de 36 suspeitos de integrar o tráfico de drogas da "cracolândia". Três deles já foram capturados, segundo os investigadores.
Agora, a Polícia Civil tenta identificar outras pessoas que atuavam a serviço do tráfico, como os "travessias", encarregados de levar as drogas a hotéis nas imediações da "cracolândia". A investigação também mira os responsáveis pela segurança e as pessoas que armavam as barracas para o consumo de drogas.
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