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'Cracolândia': usuários de drogas agora ficam a 50 m de praça desocupada

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

11/05/2022 15h51

Após a desocupação da madrugada de hoje (11) da "cracolândia" da praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, cerca de 150 dependentes químicos ficaram a apenas 50 m do local onde funcionava a maior feira de drogas a céu aberto da capital paulista, afetando a rotina de moradores e comerciantes.

A maioria dos usuários de drogas passou a se concentrar na avenida Rio Branco, próximo à esquina com a avenida Duque de Caxias, em frente à praça Princesa Isabel.

A ação

A força-tarefa aconteceu no dia seguinte a uma ação de rotina que causou quebra-quebra e o bloqueio das ruas na região. Hoje, a atuação contou com 650 agentes da Polícia Civil, Polícia Militar e GCM (Guarda Civil Metropolitana).

Segundo a Polícia Civil, havia 500 usuários de drogas no local no começo da operação. Foram cumpridos 36 mandados de prisão contra suspeitos de integrar o tráfico de drogas e um mandado coletivo de busca e apreensão.

Morador de rua que estava na avenida Rio Branco é agredido por golpe de cassetete dado por guarda municipal após ação de desocupação da "cracolândia" no centro de São Paulo - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
Morador de rua que estava na avenida Rio Branco é agredido por golpe de cassetete dado por guarda municipal após ação de desocupação da "cracolândia" no centro de São Paulo
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Desde a madrugada, os agentes mantiveram um cordão de isolamento nas imediações, impedindo a circulação de veículos. Só ônibus e viaturas circulavam pela avenida Rio Branco. Assistentes sociais registravam pessoas no entorno para encaminhá-las a um abrigo, onde teriam acesso a banho e refeição.

Havia também grande concentração de dependentes químicos deitados no meio-fio da avenida Duque de Caxias, em frente à praça Princesa Isabel, para onde migraram em março os usuários de drogas que antes ocupavam as imediações da praça Júlio Prestes.

Entre o fim da manhã e o começo da tarde de hoje, funcionários da prefeitura da capital paulista fizeram a retirada de barracas e de objetos na praça Princesa Isabel. O material foi colocado na caçamba de caminhões com o auxílio de cobertores pertencentes aos dependentes químicos, que também deixaram para trás calçados, roupas, preservativos, garrafas e até uma carteira de identidade de uma mulher de 37 anos.

Aqueles que tentavam circular pela praça eram barrados por agentes da GCM. Segundo os guardas, não será mais permitida a montagem de barracas na praça Princesa Isabel.

Tráfico 'expulsou' moradores de rua, diz polícia

Com base em dois meses de investigação com vídeos produzidos por agentes infiltrados, a Polícia Civil identificou a ação de 36 suspeitos de integrar o tráfico de drogas da "cracolândia". Um deles foi encontrado e preso no local.

"Não havia mais pessoas em situação de rua por ali, porque o tráfico e os usuários fizeram com que saíssem", explicou o delegado Roberto Monteiro, da Seccional Centro, em entrevista ao UOL.

Agora, a Polícia Civil tenta identificar outras pessoas que atuavam a serviço do tráfico, como as chamadas de "travessia" encarregadas de levar as drogas a hotéis nas imediações da "cracolândia". A investigação também mira os responsáveis pela segurança e as pessoas que armavam as barracas para o consumo de drogas.

'Foi covardia', disse morador de rua agredido por guarda

A reportagem do UOL flagrou o momento em que um homem em situação de rua foi agredido com golpes de cassetete por um guarda municipal na avenida Rio Branco. No outro lado da pista, havia a maior concentração de dependentes químicos após a desocupação da praça Princesa Isabel.

O episódio ocorreu às 12h25 de hoje, no momento em que agentes se aproximavam do local. O angolano Ndongala Garçia, 47, que estava deitado na calçada, recebeu orientação para deixar o local. Ele então se levantou dizendo que não era usuário de droga e estava em situação de rua.

Como resposta, levou dois golpes de cassetete. Um deles atingiu o seu braço esquerdo. O outro causou um ferimento na sua cabeça, que ficou ensanguentada. "Eu só disse ao guarda que eu não estava na 'cracolândia' e ele me agrediu. Foi uma covardia", relatou.

Procurada, a prefeitura de São Paulo disse que está apurando o caso.

Após o episódio, os guardas municipais atravessaram a avenida para ir ao local com a maior concentração de usuários de drogas, onde foram feitas abordagens, para verificar se eles estavam com facas, armas ou drogas.