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Procurador critica PRF em chacina no Rio: 'Agora começou essa matança'

Carro da Polícia Rodoviária Federal - Divulgação
Carro da Polícia Rodoviária Federal Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo*

26/05/2022 10h45Atualizada em 27/05/2022 19h21

O coordenador do grupo do Ministério Público Federal que investigará a chacina da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, que deixou ao menos 23 mortos na terça-feira (24), criticou a atuação da Polícia Rodoviária Federal na ação. Em entrevista ao jornal O Globo nesta quinta-feira (26), o procurador Eduardo Benones afirmou que a PRF "está mudando seu perfil de atuação":

"A nossa preocupação é que a Polícia Rodoviária Federal está mudando o seu perfil de atuação. Há um tempo atrás, nós tínhamos problemas de corrupção. Isso foi mudando e agora começou essa matança", disse Benones, coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial.

A investigação do Núcleo visa estabelecer um procedimento investigatório criminal para apurar "eventuais violações e as responsabilidades" de agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal durante operação conjunta com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar (PM), informaram em comunicado ainda na terça-feira.

Para Benones, não há "nenhum beco federal na Vila Cruzeiro" que justificasse integralmente a participação da corporação na operação.

"A justificativa para este tipo de ação é o de somar competências. Se você quer interceptar uma carga roubada, a PRF pode agir com a Core, com o Bope. Claro que pode. A nossa preocupação é entender: tem alguma estrada federal no Complexo da Penha? Pelo que sei, não há nenhum beco federal na Vila Cruzeiro. Não faz muito sentido", declarou.

"Nosso papel como investigador é entender o papel da PRF que não foi desenhada para atuar em favelas. A PRF disse que usou informações de inteligência. Se for uma ação preparada, menos ainda se justificam essas mortes. Uma operação com 25 mortos é porque não deu certo. Para mim essa operação foi um fracasso", continuou Benones.

O procurador também relembrou que, por decisão do Supremo Tribunal Federal, as operações policiais na pandemia estão limitadas a casos excepcionais. "A excepcionalidade virou uma regra a ponto de aumentarem as operações policiais. Agora (na de terça-feira) justificaram que era de emergência. Como isso, se os agentes tinham mandados de 2014, 2015", afirmou.

Segundo levantamento feito em conjunto pelo Instituto Fogo Cruzado e o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos), grupo de estudos sobre a violência da UFF (Universidade Federal Fluminense), a gestão Cláudio Castro acumula, em 1 ano, 182 mortes em 39 chacinas.

Investigação

Na manhã de quinta (26), a Secretaria Estadual da Saúde havia informado que 26 pessoas morreram na chacina. Mais tarde, no entanto, a Polícia Civil confirmou 23 óbitos —e alegou que três vítimas eram de um confronto no Morro do Juramento. Nenhum dos mortos era do Bope ou da PRF.

O Ministério Público Federal requereu aos chefes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal informações sobre o efetivo que participou da operação, com dados sobre qualificação completa dos agentes e cópia de suas fichas funcionais.

Além disso, a Procuradoria quer acesso ao relatório final da operação, a informações detalhadas sobre o cumprimento dos mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal da Regional Madureira, a dados sobre o local da realização do briefing da ofensiva e cópia da ordem de serviço relacionada à ação policial.

*Com informações do Estadão Conteúdo