Após nova chacina, Castro cita demonstração de força e autoridade
No dia seguinte à segunda ação policial mais letal de sua gestão, que matou ao menos 23 pessoas na Vila Cruzeiro, o governador do estado, Cláudio Castro (PL), afirmou que a política de segurança exige "demonstração de força e autoridade".
"Política de segurança no Rio de Janeiro, infelizmente, exige do poder público demonstração de força e autoridade. Confronto, numa palavra. Coragem, noutra", escreveu Castro hoje (25) nas redes sociais.
A Vila Cruzeiro é uma das 13 favelas que integra o Complexo da Penha, na zona norte do Rio. A operação no local se deu sob a justificativa de que houve um aumento de lideranças criminosas de outros estados em comunidades do Rio após o STF (Supremo Tribunal Federal) limitar operações policiais em comunidades durante a pandemia de covid-19.
"Ali bate o coração da maior facção criminosa do estado. A mesma que espalha o terror e o medo na sociedade. Ali virou hotel de luxo para chefes de fações criminosas de outros estados do Brasil", declarou o governador na mesma postagem.
A Polícia Militar afirmou que a ação era planejada há meses e foi executada ontem para impedir que criminosos da facção CV (Comando Vermelho) se movimentassem da Vila Cruzeiro para a Rocinha.
Gestão Castro tem 40 chacinas em um ano
A ação de ontem só não foi mais letal do que a operação no Jacarezinho, ocorrida em maio de 2021, que deixou 28 mortos. Em janeiro de 1998, outra operação em Duque de Caxias teve 23 mortos.
Levantamento do UOL aponta que em apenas um ano da gestão de Castro foram registradas 182 mortes e 40 chacinas no Rio de Janeiro. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado e do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, ligado à UFF — Universidade Federal Fluminense). A média é de três chacinas por mês e uma morte a cada dois dias.
Pesquisas na área da segurança pública consideram como chacina todas as operações com ao menos três mortes.
A Polícia Civil afirma que "na atual gestão, todos os mortos por tiros de policiais civis disparados durante operações foram de criminosos que entraram em confronto com os agentes". A PM e o Estado do Rio de Janeiro não se pronunciaram sobre o estudo.
Vítimas atingidas em casa e ação na madrugada
Os moradores da Vila Cruzeiro relataram que os tiroteios na região tiveram início por volta de 4h (de Brasília) de ontem e se repetiram ao fim da manhã e no início da tarde. Ao menos 19 escolas municipais não abriram por causa da ação.
Até a noite desta quarta, dez vítimas foram identificadas pela polícia.
Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, moradora da Chatuba, favela vizinha à Vila Cruzeiro, foi baleada dentro de casa. Embora a região onde ela se encontrava estivesse fora da área de atuação das forças de segurança, a PM não descarta a possibilidade de que ela tenha sido atingida por uma arma de longo alcance.
Outra vítima pediu socorro por telefone após ser baleada. Natan Werneck, 21 anos só foi resgatado mais de seis horas depois e morreu a caminho do hospital. O nome dele não consta na primeira lista de mortos divulgada pela PM.
Ex-militar da Marinha, Douglas Costa Inácio Donato, 23, também foi morto durante a ação de ontem. Assim como Natan, o nome dele não consta na lista da PM. Pai de um bebê de dois meses, Douglas trabalhava em uma loja de calçados na Penha e fazia um curso de vigilante. Familiares do rapaz acusam a polícia de ter levado o corpo dele para um matagal.
"Sabemos que essas operações jamais seriam toleradas em bairros nobres da cidade. É preciso que também não sejam mais toleradas nas favelas do Rio de Janeiro", criticou o ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel.
Críticas e elogios
O presidente Jair Bolsonaro (PL) parabenizou hoje a PM e o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) pela operação.
Segundo o STF, o ministro Edson Fachin, "demonstrou muita preocupação com a notícia de mais uma ação policial com índice tão alto de letalidade".
Fachin procurou hoje o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) para tratar do tema; o ministro é o relator da ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, que determinou a elaboração de um plano de redução da letalidade policial em comunidades do RJ.
Ontem (24), o MP-RJ abriu um procedimento para investigar as circunstâncias das mortes e deu 10 dias de prazo para que o Bope envie um documento detalhando tudo o que ocorreu ao longo da ação. O órgão recomendou ao DHPP (Departamento de Homicícios e Proteção à Pessoa) que realize a perícia das armas de todos os agentes envolvidos na operação.
O MPF (Ministério Público Federal) também anunciou a abertura de uma investigação para apurar se ocorreram violações cometidas pelos policiais. Além disso, o órgão pediu acesso às fichas funcionais dos policiais que participaram da operação.
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