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'Eu acredito que os dois podem sobreviver', diz esposa do indigenista Bruno

Beatriz Matos, esposa de Bruno Pereira - Reprodução/TV Globo
Beatriz Matos, esposa de Bruno Pereira Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

12/06/2022 22h47Atualizada em 12/06/2022 22h57

Beatriz Matos, esposa do indigenista Bruno Araújo Pereira disse acreditar que ele e o jornalista inglês Dom Phillips podem estar vivos, talvez perdidos ou escondidos na mata. Os dois estão desaparecidos desde o dia 5 de junho na região do Vale do Javari, oeste do Amazonas.

"Eu acredito que os dois podem sobreviver na floresta, sem comida, ou com os recursos que eles têm. Então, há algo dentro de mim que diz que ele pode estar perdido, que ele pode estar escondido", disse Beatriz, ao Fantástico, da TV Globo.

Com dois filhos de 2 e 3 anos, Beatriz disse evitar ligar a televisão em casa, e se informar pelo celular. A medida visa proteger os pequenos das informações: "Estou tentando me manter firme. Estou tentando preservar meus filhos, que são muito pequenos", disse.

Beatriz, que é antropóloga e também trabalha no Vale do Javari, explicou porque o marido deixou o trabalho na Funai (Fundação Nacional do Índio). Apesar de fazer um trabalho "muito sério, muito reconhecido nacionalmente, internacionalmente", para ela foi uma "ação coordenada o estopim para isso".

"Teve uma ação, por exemplo, que ele fez, de detonação de balsas de garimpo no sul da terra no Vale do Javari. Então ele foi exonerado do cargo coordenador", afirmou, e completou: "Nas condições que a Funai estava, ele não poderia continuar o trabalho que ele estava realizando, então ele teve essa opção de se licenciar da Funai para poder trabalhar como assessor da Univaja".

A esposa de Bruno pediu que as buscas sejam intensificadas. Além disso, ela disse que ninguém da Funai a procurou.

"Nem a Funai, nem nenhum órgão. A não ser, acho, que um delegado da Polícia Federal. E do governo, do Executivo, ninguém me procurou, ninguém ofereceu apoio para mim, nenhum", disse.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Assim como Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips, Beatriz comentou a afirmação do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disse considerar uma "aventura não recomendável" a viagem da dupla pela região amazônica. A companheira do indigenista disse que essas falas a "ofendem e doem muito".

São afirmações que contradizem a extrema dedicação, a seriedade, o compromisso que o Bruno tem com o trabalho dele. (...) Essas afirmações, que me ofendem muito e que me doem muito, porque foi trabalhando que aconteceu o que aconteceu com ele. Ele estava trabalhando. E se o local de trabalho dele, meu, e de tantos outros virou um local perigoso, que a gente precisa usar a escolta armada pra poder trabalhar, tem algo muito errado aí. E o erro não está conosco. O erro é de quem deixou que isso acontecesse
Beatriz Matos

Hoje, o Corpo de Bombeiros do Amazonas disse ter encontrado uma mochila, notebook e outros pertences submersos na região das buscas por Bruno e Dom Phillips. Os objetos foram achados por mergulhadores, e a Polícia Federal confirmou que eram dos dois desaparecidos.

Relembre o caso

Bruno Pereira e Dom Phillips sumiram em Atalaia do Norte, próximo à Terra Indígena Vale do Javari, uma reserva que sofre com disputas entre tráfico de drogas, madeiras e garimpo ilegal. Um suspeito foi preso e quatro testemunhas foram ouvidas.

Os dois foram vistos pela última vez por volta das 7h de domingo, a bordo de um barco, e sumiram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. Após um atraso de mais de duas horas na chegada da dupla, as buscas começaram.

Bruno trabalhava com ribeirinhos e indígenas da região, afetada pela ação de invasores. Segundo testemunhas, sofria ameaças constantes de garimpeiros, madeireiros e pescadores que atuavam em terras indígenas e, por isso, a falta de contato após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.

Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram "acertar contas" com o indigenista. Segundi Yura, Bruno sofria ameaças desde quando foi coordenador da Funai em Atalaia do Norte. "Eram ameaças diretas, não mais veladas como acontecia outrora."

O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.

Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja, disse que o repórter inglês fotografou invasores armados que ameaçavam indígenas.

Segundo ele, esses homens seriam ligados a Pelado, preso em flagrante na terça-feira (7) por posse de drogas e de munição de uso restrito e apontado como suspeito de envolvimento no sumiço. A defesa de Amarildo nega envolvimento dele com o desaparecimento.