Entidade indígena diz crer que busca por Bruno e Dom está próxima do fim
A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), em entrevista coletiva concedida hoje (13), afirmou acreditar que as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista britânico Dom Phillips estão próximas do fim. "Temos reduzido nossa área de busca", declarou o procurador jurídico da organização, Eliésio Marubo.
"O nosso efetivo tem aumentado. Temos recebido cada vez mais participação de indígenas para se voluntariar na nossa frente de busca e conhecemos muito bem a região, mais do que toda a força policial que tem estado aí. Com isso, temos reduzido a área de busca e avançado com um grupo cada vez maior de voluntários", disse Marubo.
Bruno e Dom foram vistos pela última vez na manhã do dia 5 de junho, na comunidade ribeirinha São Rafael. Os dois desapareceram no trajeto de barco até a cidade Atalaia do Norte (AM), onde duas pessoas ligadas à Univaja, da qual Bruno era colaborador, as aguardavam. Foi a organização quem divulgou o sumiço da dupla.
Desde então, a Univaja tem auxiliado nas buscas pelos dois, assim como indígenas da região. A Polícia Federal do AM coordena uma força-tarefa na área com outras forças de segurança, como as polícias Civil e Militar, a Secretaria de Segurança Pública, o CMA (Comando Militar da Amazônia) e a Marinha. Marubo, no entanto, cobra as autoridades:
"Não podemos adiantar algumas informações em razão do sigilo do inquérito, mas entendemos que estamos caminhando para o final. Se tivéssemos participação maciça das autoridades, inclusive com atuação de cães farejadores, isso seria mais adiantado", declarou.
Na sexta (10), a DPU (Defensoria Pública da União) solicitou que um gabinete de crise seja instalado em Atalaia do Norte, que seria o destino final de Bruno e Dom, para auxiliar nas buscas. O Comitê de Crise coordenado pela PF-AM é sediado em Manaus, a 1.136 quilômetros da cidade.
De acordo com Marubo, a atuação dos indígenas no local foi necessária para que mergulhadores localizassem pertences apontados como de Bruno e Dom, incluindo uma mochila, notebook e roupas pessoais.
"Nossa equipe encontrou vestígios e deu condições para que a polícia encontrasse os pertences que foram divulgados ontem (12)".
Univaja rebate Bolsonaro e nega que vísceras tenham sido achadas
Durante a coletiva, a organização também afirmou ser falsa a informação divulgada mais cedo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), de que vísceras humanas foram encontradas na área onde Bruno e Dom são procurados.
"Não é verdadeira a informação de que foram encontradas vísceras. O presidente Bolsonaro, assim como a Funai, tem sido muito mal informado."
Marubo também reforçou que não há confirmação de que dois corpos foram encontrados no local, contrariando informações divulgadas pela família de Dom Phillips pela manhã. Pouco antes da coletiva da Univaja, a PF divulgou, no fim desta tarde, que "nada foi encontrado" nas buscas pela dupla.
Até o momento, a PF divulgou ter encaminhado para a perícia um "material orgânico" encontrado na mata — sem divulgar detalhes do que se tratava — e vestígios de sangue no barco onde Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", foi preso na terça-feira (7). Segundo a corporação, o resultado da perícia deve ser divulgado ainda esta semana.
Alegando sigilo nas investigações da PF, a Univaja afirmou não poder divulgar qual foi o material humano encaminhado para a perícia.
Licença para entrar no território
Na coletiva, o procurador da Univaja reforçou que Bruno, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), tinha licença para entrar em território indígena. A fala foi uma resposta à própria Funai, que na sexta (11), disse que acionará o MPF (Ministério Público Federal) para apurar "possível aproximação" com povos indígenas sem autorização prévia do órgão do governo.
De acordo com a Unijava, Bruno e Dom se encontraram em Atalaia do Norte no dia 31 de maio em local fora dos limites da terra indígena. Depois disso, ainda segundo a organização, os dois seguiram um caminho sem ingressar em territórios protegidos.
Escalada de violência
Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari é maior do que a Áustria e abriga 6.300 indígenas de 26 grupos diferentes, sendo 19 deles isolados — trata-se da maior concentração de povos isolados no mundo.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.
"Aquela região tem questões envolvendo o narcotráfico, a atividade de madeireira, de pesca ilegal e garimpo. E a organização indígena está nesse enfrentamento contra a invasão das terras", declarou Fabio Ribeiro, coordenador-executivo do OPI.
Hoje mais cedo, a Univaja organizou uma manifestação de indígenas na região. Segurando cartazes questionando sobre o paradeiro dos dois, os indígenas pediram justiça por Bruno e Dom, criticaram o governo Bolsonaro e cobraram das autoridades maior fiscalização na área e proteção às terras indígenas.
"Eles são pessoas que tem importância muito grande para os povos indígenas na região", resumiu Marubo.
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