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PF prende segundo suspeito ligado ao desaparecimento de Bruno e Dom no AM

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

14/06/2022 21h05

A Polícia Federal do Amazonas divulgou na noite de hoje (14) a prisão temporária de mais um suspeito de ter ligação com o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari (AM). Os dois foram vistos pela última vez no dia 5 de junho.

Oseney da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como "Dos Santos", foi preso pelos agentes sob suspeita de ser cúmplice de Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", preso na terça passada (7) por porte de munição de uso restrito das Forças Armadas. No barco de Amarildo, a polícia encontrou vestígios de sangue; o material foi encaminhado para a perícia.

Segundo testemunhas, Amarildo seguia de lancha a embarcação onde Bruno e Dom se encontravam. Os dois faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e Atalaia do Norte. Na sexta (10), uma testemunha disse à Polícia Civil ter visto Amarildo acompanhado de outro homem no barco. No entanto, a PF não divulgou se o suspeito, neste caso, é Oseney.

A PF informou que, após ser interrogado na noite de hoje, Oseney será encaminhado para uma audiência de custódia em Atalaia do Norte. Além disso, a PF também divulgou ter cumprido dois mandados de busca e apreensão na cidade, tendo apreendido alguns cartuchos de arma de fogo e um remo.

Pertences encontrados

No domingo, mergulhadores localizaram pertences apontados como de Bruno e Dom, incluindo uma mochila, notebook e roupas pessoais. Até o momento, a PF divulgou ter encaminhado para a perícia um "material orgânico" encontrado na mata — sem divulgar detalhes do que se tratava.

A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), da qual Bruno era colaborador e que auxilia nas buscas, afirmou ser falsa a informação divulgada ontem (13) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), de que vísceras humanas foram encontradas na área onde Bruno e Dom são procurados.

A PF também desmentiu que dois corpos tenham sido encontrados no local, contrariando informações divulgadas ontem à família de Dom Phillips. A Embaixada do Brasil na Inglaterra se desculpou hoje com a família do jornalista por repassar a informação inverídica.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Região tem escalada de violência

Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari abriga a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo.

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.

Ontem, o prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva (União Brasil), falou que o sumiço pode ter relação com a "máfia dos peixes", conforme mostrou a agência de notícias norte-americana AP (Associated Press): "O motivo do crime é uma briga pessoal pela fiscalização da pesca", afirmou.

O ex-presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) Sydney Possuelo disse ontem acreditar que Bruno e Dom foram vítimas de uma emboscada. À PF, o procurador da Univaja, Eliésio Marubo, afirmou ter recebido uma mensagem de Bruno alertando que "corria risco de vida".