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Menina de 2 anos gruda olho com supercola e espera 5 dias por cirurgia

Menina ficou com cola por cinco dias no olho direito no DF - Arquivo Pessoal
Menina ficou com cola por cinco dias no olho direito no DF Imagem: Arquivo Pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL

21/06/2022 14h55

Uma criança de 2 anos precisou esperar por cinco dias para fazer uma cirurgia na rede pública de saúde do Distrito Federal após colar as pálpebras do olho direito em um acidente doméstico. O procedimento aconteceu na manhã de hoje no Hospital de Base de Brasília.

A madrinha da criança, a auxiliar de escritório Lia Lucena, de 54 anos, diz que o acidente doméstico aconteceu na quinta-feira (16), em Ceilândia. A menina teria sido levada cinco vezes em unidades de saúde, mas sem sucesso no atendimento cirúrgico.

De acordo com a família, a menina estava brincando e acabou pegando um tubo de supercola — também conhecida como cola instantânea —, grudando parte das mãos e o olho direito.

"Ela estava brincando e pegou essa cola escondida da mãe. Não sabemos ao certo o que aconteceu. Se passou direto no olho ou se assustou ao ver a mão e passou no rosto", disse a madrinha ao UOL.

Depois de cinco dias com a cola no olho, a família agora diz sente alívio por não ter acontecido nada pior com a visão da menina.

Você não faz ideia do alívio com a cirurgia, porque desde quinta-feira a gente não relaxa momento algum. Estávamos muito preocupados porque imaginar perder a visão com 2 anos era algo que nem consigo descrever. Lia Lucena, madrinha da criança.

Peregrinação atrás de atendimento

Segundo a família, criança foi atendida primeiramente no Hospital de Base. Lá, os parentes receberam orientação para fazer compressa de água morna e refrigerante para desgrudar o produto da pele.

Com medo de realizar o procedimento com refrigerante, os familiares decidiram apenas usar a compressa com água, mas isso acabou causando problemas na pele da menina. Em razão disso, no dia seguinte, a criança foi levada ao Hran (Hospital Regional da Asa Norte), mas por causa do regime de plantão do feriado, a cirurgia se tornou inviável.

"Voltamos para casa e não passamos o refrigerante, apenas a compressa [com água]. Só que a pele começou a irritar e retornamos no outro dia, mas no Hran. O médico que avaliou disse que era caso de cirurgia, mas que não poderia fazer por causa do plantão de feriado, fazendo um encaminhamento para o Hospital de Base", contou a madrinha.

No sábado (18), a menina buscou um hospital particular, que receitou um antibiótico para prevenir contra eventual infecção no globo ocular. No dia seguinte, a família decidiu procurar novamente o Hran, mas a unidade teria encaminhado mais uma vez para o Hospital de Base.

Ao procurar a unidade orientada, a família alega que recebeu a informação de que não tinha sala de cirurgia disponível. Foi quando os parentes decidiram expor a situação nas redes sociais e buscar a imprensa na segunda-feira (20). Isso teria pressionado o hospital a marcar o procedimento para hoje.

"Acionamos a imprensa para não voltar para casa sem atendimento. A médica informou para aguardar até 17h para sabermos se poderíamos fazer a cirurgia em cinco dias. Nisso, pediram para irmos 22h para o procedimento, mas umas 19h ligaram dizendo que não daria para fazer, e orientaram para chegarmos hoje às 6h", descreve a madrinha.

Criança não corre risco de perder visão, diz gestão de hospitais

Os hospitais públicos procurados pela família são administrados pelo IgesDF (Instituto de Gestão de Saúde do Distrito Federal). A organização informou ao UOL que na manhã de hoje a "equipe de oftalmologia realizou o corte de alguns cílios da criança que ainda permaneciam colados".

"O procedimento seria realizado ainda ontem, 20 de junho, porém, a mãe forneceu alimentação à criança, contrariando a orientação médica, o que impossibilitou a sedação da paciente para que o procedimento fosse feito", justifica. A família nega que a menina não tenha realizado o jejum.

O IgesDF afirmou que no Hospital de Base, "todo o tratamento realizado desde o dia 16 de junho, quando foi prescrito o uso de pomadas e compressa com água morna, garantiu o sucesso do tratamento ocular da criança, que não possui lesão ocular e não corre risco de perder a visão em razão do incidente".

Sobre a indicação de cirurgia prescrita pelo Hospital Regional da Asa Norte, "ela foi considerada, entretanto condutas médicas podem ser mudadas a qualquer momento, de acordo com a evolução do estado do paciente no momento da avaliação".

"Ressalta-se, ainda, que em razão de o HRAN não possuir Pronto-Socorro Cirúrgico Oftalmológico e era necessário realizar a sedação, não foi possível que a unidade desse continuidade ao tratamento", concluiu a nota.

O que fazer em caso de acidente com cola instantânea?

Em caso de contato com os olhos, os fabricantes dessas colas, em conformidade com especialistas, orientam enxaguá-los cuidadosamente com água em abundância. Geralmente também disponibilizam no verso dos tubos esclarecimentos, orientações e contatos.

Quando atingidas, áreas sensíveis, com presença de mucosas (lábios, pálpebras), também devem ser lavadas com bastante água morna e ainda sabão neutro. Como a cola preenche e adere rugosidades, é importante uma hidratação local, mas em casos de exposição volumosa ou impossibilidade de abertura de olhos e boca, o certo é correr para o pronto-socorro.

O método mais indicado e seguro é mergulhar a área "colada", como a mão, em água morna com sabão neutro. Após cerca de 10 minutos tente a remoção, que inclusive pode ser feita nas pontas de dedos com lixa de unha.

Também são bem-vindos para separar a cola da pele óleo, margarina e hidratante, enquanto sal rende uma leve esfoliação e ajuda a desgrudar dedos.

Já no hospital, após avaliação do médico, geralmente é empregado, para desfazer aderências superficiais difíceis, um procedimento demorado, em etapas, com pinças delicadas, lavagem abundante com soro fisiológico e pomadas.

Na parte externa dos olhos, havendo muita cola presa, o oftalmologista pode ter que fazer a retirada dos cílios (epilação), também por meio de pinças ou até mesmo no centro cirúrgico com bisturi e sedação local, a depender do quadro. Por isso, muito cuidado ao usar cola instantânea.

*Com informações de reportagem publicada em 19/04/2021.