Mira laser, policiais feridos e fuga: como foi a ação de novo cangaço em MG
Os criminosos envolvidos no mega-assalto a uma agência bancária da Caixa Econômica Federal em Itajubá (MG) na noite de quarta-feira (22) usaram fuzis com mira laser, abriram fogo contra o batalhão da Polícia Militar, explodiram um veículo e fugiram em comboios para três cidades em direção a São Paulo. A ação feriu cinco policiais militares e um civil. Um suspeito foi preso.
O UOL teve acesso ao boletim de ocorrência registrado pela Polícia Federal e relatos de agentes de segurança, que detalharam os movimentos da quadrilha aos moldes das ações conhecidas como "domínio de cidades", crime tipicamente brasileiro apontado por especialistas como um avanço em relação ao "novo cangaço" —por serem mais planejados e perigosos.
Às 23h de quarta-feira, o motorista de um veículo que chegava em Itajubá conduzindo uma mulher e duas crianças foi interceptado por dois homens armados com fuzis com mira laser em um cruzamento próximo a uma ponte.
Ao desembarcar, levado em seguida pela quadrilha, o condutor notou que havia outros dois criminosos no local, próximo a outro carro. Um deles segurava um galão com gasolina, de acordo com relato à polícia.
Próximo dali, em um roubo no mesmo horário, criminosos levaram outro veículo ocupado por um casal.
Ataque ao batalhão e assalto
De posse dos carros, a quadrilha rumou em direção ao batalhão da Polícia Militar, onde ateou fogo em um dos veículos roubados em frente ao portão, impedindo a saída de viaturas, e passou a efetuar disparos de fuzil contra a sede da corporação.
Os tiros danificaram portas, janelas e três veículos. Enquanto corria para se abrigar em um local seguro em meio ao ataque, uma policial caiu no chão, fraturando a mandíbula.
Segundo testemunhas, os criminosos saíram em direção ao centro da cidade em um comboio formado por três veículos. Já na sede da Caixa Econômica Federal, foram ouvidos disparos de armas de grosso calibre seguidos de explosões.
Ainda de acordo com a ocorrência, os criminosos atiraram na direção dos veículos que passaram em frente à instituição financeira —de onde levaram joias penhoradas—, atingindo a perna esquerda de um homem que estava em um desses carros. Policiais militares posicionaram duas viaturas perto de uma ponte, onde houve o primeiro confronto armado. Contudo, ninguém se feriu.
Após a ação, peritos da Polícia Civil encontraram cápsulas espalhadas pelo chão e explosivos no interior da agência bancária, retirados de lá e detonados em local seguro.
Fuga e troca de tiros com a polícia
Os policiais militares então deram início a um plano de rastreamento do comboio formado por quatro veículos dos criminosos. Após um confronto na cidade de São Bento do Sapucaí, a quadrilha voltou a trocar tiros com as forças de segurança na cidade de Brazópolis, a 27 km do local do crime.
No tiroteio, três policiais se feriram. Atingido em uma artéria no braço esquerdo, um dos agentes continua hospitalizado e só escapou da morte no local devido ao socorro prestado pelos próprios colegas, que aplicaram um torniquete para estancar o sangramento.
Um outro agente foi atingido por um tiro no ombro. O outro ferido fraturou um dos pés ao pular da viatura em meio ao fogo cruzado.
'Guerra civil em ambiente rural'
Em troca de tiros em outra tentativa de impedir a fuga, um quarto policial foi baleado no braço direito. Três viaturas foram danificadas por disparos em meio aos confrontos.
O UOL teve acesso a relatos dos policiais envolvidos na operação sob a condição de anonimato. Eles disseram ter sido surpreendidos pelo poderio de fogo dos criminosos, que usaram até fuzil calibre .50, com capacidade para perfurar blindagens e abater helicópteros.
Os agentes descreveram o confronto como "cenário de guerra civil em ambiente rural" devido à postura dos criminosos, que optaram pelo confronto em vez de fugir ao cruzarem com os policiais durante a fuga em direção a São Paulo.
Preso revelou como foi ação
Em meio ao plano de cerco e bloqueio nas cidades próximas, um suspeito mudou bruscamente a direção ao avistar os policiais e acabou sendo preso após confessar participação no crime, segundo a PF.
Em depoimento, ele disse que atuou como "batedor" na ação, jogando miguelitos na rua, como são chamados os parafusos retorcidos usados para furar os pneus das viaturas policiais em eventuais perseguições.
Ele detalhou à polícia que a quadrilha se dividiu em três comboios diferentes após o roubo, para colocar em ação um plano de fuga para cidades próximas. Um dos grupos, revelou, fugiu em direção a Piranguçu, a 16 km do local do roubo.
Três veículos usados no crime foram abandonados na cidade de Estiva, a 91 km de Itajubá, a caminho da divisa com São Paulo. Ao todo, foram apreendidos seis veículos usados pelos criminosos, segundo a Polícia Civil.
No rastro dos suspeitos
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) afirmou que "segue no rastreamento dos suspeitos envolvidos na tentativa de roubo", mas não deu mais detalhes sobre prisões ou apreensão de armas.
A prefeitura pediu que a população de Itajubá não compartilhe informações de fontes extraoficiais sobre o incidente, acreditando apenas nos detalhes divulgados pelas autoridades policiais e pela própria administração municipal.
Levantamento feito pelo UOL apontou ao menos 197 mortes, em 20 anos, em mega-assaltos no país em ações de quadrilhas altamente armadas que dominam cidades inteiras para roubar. Em abril deste ano, Guarapuava, no Paraná, foi alvo de um crime semelhante, com um assalto a uma empresa de valores.
Já o ataque de Araçatuba (SP) deixou ao menos três pessoas mortas e quatro feridas. Só no estado de São Paulo, seis cidades em pouco mais de um ano registraram passagens desses grupos especializados em mega-assaltos.
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