Empresário anuncia vaga para ex-detentos cobrarem dívidas: 'Virou polêmica'
Uma empresa de cobrança de dívidas em Itaberaí (GO) ganhou fama na cidade depois que o dono, Rodrigo Ferreira Nunes, decidiu abrir vagas de emprego exclusivas para ex-presidiários.
O anúncio foi espalhado pelas ruas da cidade em um carro de som contratado pelo empresário, há uma semana. Ao UOL, Nunes conta que desde então já conseguiu preencher pelo menos uma das funções disponíveis, mas que a ideia vem tendo resistência por conta da descrição do trabalho e do passado dos novos empregados. Segundo ele, a ideia serve para dar uma chance para quem sai do sistema prisional.
O dono da empresa afirma que já contratou um rapaz que passou três anos no sistema carcerário e agora já está em treinamento para começar o trabalho como cobrador, localizando as pessoas inadimplentes e recebendo os pagamentos de suas dívidas.
"Virou piada, virou crítica e virou polêmica. Algumas pessoas acham que é uma boa ideia, outras acham que é só promoção para a empresa ou zoeira, enquanto tem quem mande o currículo e queira saber mais detalhes", diz Ricardo, dono da empresa Águia Nunes, detalhando que a ideia das vagas para ex-presidiários era antiga, mas enfrentou resistência de seus familiares.
"Eu já tinha a ideia há algum tempo, mas não tinha coragem. Minha família sempre foi contra, inclusive quando eu disse que realmente ia fazer o anúncio a minha mãe falou: 'Olha, eu vou sair de casa'. Minha esposa falou a mesma coisa, que eu não pensava neles e tudo mais, porque a repercussão poderia ser negativa", explica.
Mas apesar das preocupações, Ricardo decidiu dar um passo e divulgar a iniciativa, afirmando que, apesar das opiniões divididas, já teve retorno de muitos interessados.
O resultado foi excelente. Recebo mensagens o dia todo, de pessoas querendo entender e até de algumas que acham que é mentira. As pessoas estão procurando emprego. Eles falam que o desemprego diminuiu, mas para quem? Pra quem é formado, pra quem fez um concurso, e não pra quem foi preso. Já que eles responderam pelos seus atos porque não colocar eles para trabalhar?
Treinamento para abordagem
Há 11 anos no mercado de cobranças de dívidas, Ricardo explica que trabalha principalmente com pequenos comerciantes, já que muitos têm o costume de vender seus produtos no "fiado", com a promessa de pagamento posterior.
Ele destaca que o trabalho exige treinamento na abordagem dos devedores e que, por algum tempo, se cansou da atividade e decidiu vender DVDs piratas, período em que também chegou a ser detido.
"Eu não queria mais cobrar, porque é triste, as pessoas não aceitam, ninguém gosta. Por isso que a gente tem essa presa em contratar pessoas qualificadas. Mas como eles têm uma série de dificuldades nós estamos os qualificando", afirma Ricardo.
Ou eles vão continuar no crime, ou a sociedade aceita e tenta ajudar essas pessoas. Lógico, nem todos querem ajuda, mas eu diria que a maioria tem na mente a vontade de ser uma pessoa melhor. Não é facil, mas vamos tentar resgatar, e no que depender de mim, se eu puder resgatar um, já estou feliz.
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