Escola de Aracruz limpa armário de professoras mortas e prepara reforma
Os pertences da escola estadual Primo Bitti, em Aracruz (ES), foram levados das salas ontem para reforma. No Centro Educacional Praia de Coqueiral, a menos de dois quilômetros dali, a unidade foi aberta para que as famílias retirassem o material escolar deixado para trás em meio aos disparos.
As duas instituições de ensino foram alvo do atirador de 16 anos que matou quatro pessoas e feriu outras 12 na última sexta-feira (25). O UOL Notícias esteve nos dois colégios para conversar com profissionais e pais sobre a tentativa de retomada das atividades nos locais onde ocorreram os atentados.
O Centro Educacional Praia de Coqueiral reabriu as portas ontem para oferecer também atendimento psicológico aos pais e alunos. Mãe de uma estudante de dez anos, Katia Viana conversou rapidamente com a reportagem na saída da escola.
Depois da tragédia, a minha filha fica grudada comigo o tempo inteiro. Ela quase não fala sobre o ataque. Só diz que teve que correr muito [após os tiros]
Katia Viana, mãe de aluna do Centro Educacional Praia de Coqueiral
Ambiente de mudança. Na escola estadual Primo Bitti, o ambiente era de mudança, com móveis sendo retirados e levados em um caminhão.
No fim da manhã de ontem, as prateleiras com livros das bibliotecas estavam a poucos metros da entrada principal, em meio à documentação do colégio. Os móveis e os materiais da direção, que antes funcionava em um cômodo com cerca de 25 metros quadrados, já tinham sido levados. Mas as lembranças da tragédia ainda estavam presentes.
Havia ali uma vaga referência ao ambiente escolar. Como os poemas colocados nas portas por um projeto educacional desenvolvido pela escola que acabou sendo premiado pela Secretaria de Estado da Educação apenas três dias antes da tragédia.
Ou um trabalho feito por alunos e fixado na parede após o primeiro lance de escadas que dá acesso às 12 salas de aula sobre as origens do bairro Coqueiral, construído nos anos 1970 para abrigar os funcionários de uma empresa de celulose de Aracruz.
As informações sobre as primeiras casas em uma área de reserva da mata atlântica seguiam pela parede, respondendo a uma pergunta escrita em um papel: "Quem conhece Coqueiral hoje?"
As marcas. A retirada de móveis e a circulação de encarregados pela mudança com um caminhão ao fundo contrastava com as três marcas de tiro na parede na sala dos professores, onde ocorreu o ataque após a invasão do atirador pelos fundos da escola.
Os nomes das três educadoras assassinadas permaneciam fixados no armário, ao lado das identificações das outras profissionais. A pedagoga Neide Mendonça, 46, ficou encarregada de retirar o que havia ali. A voz engasgou ao lembrar ter separado em caixas os pertences das professoras mortas. O material será entregue depois às famílias.
Na escola foram assassinadas a tiros a professora de matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e a de artes Maria da Penha de Melo Banhos, 48. Atingida no mesmo local, a também docente Flavia Amoss Merçon Leonardo, 38, morreu no hospital um dia depois do ataque.
É desolador ter que esvaziar os pertences e encontrar uma mochila cheia de sangue. Mas a gente precisou encontrar forças para fazer isso e poupar as famílias de ter que passar por essa situação
Neide Mendonça, pedadoga
A sala dos professores será reinstalada em outro cômodo da unidade de ensino para amenizar a lembrança da tragédia quando houver o retorno das atividades.
"Era o lugar onde a gente ficava para socializar, para conversar, para falar sobre as nossas vidas. A gente tinha momento de alegria nesse ambiente. A gente não se sente mais à vontade para ficar nessa sala sabendo que duas colegas morreram aqui e outra veio a falecer depois no hospital", disse a pedagoga.
O mesmo vigia responsável pela abertura do portão para a saída às pressas dos alunos também havia retornado à escola. Da tragédia, lembra do momento em que uma professora repetia apenas que queria ver os filhos.
Ele ajudou a colocá-la em uma maca para socorrê-la dos ferimentos de tiro no braço, na coxa e no pescoço. A professora sobreviveu ao ataque e se recupera dos ferimentos.
Lembranças de momentos de terror. Logo em frente à sala dos professores, havia outros dois buracos na parede bem ao lado da janela da secretaria. E, ao voltar ontem à cena do crime, Monick Souza Gonçalves, 21, que trabalha no local, reviveu os momentos de terror de quem ficou na linha de tiro.
Houve os disparos. Aí, me escondi embaixo da mesa. Depois, pulei a bancada da secretaria e fui em direção à rua. Depois, foi só o caos
Monick Souza Gonçalves, funcionária da secretaria
Ela voltou à escola para buscar os seus pertences, que haviam ficado para trás após o atentado. "Achei que eu viria para cá mais tranquila. Só que, ao chegar aqui, senti uma palpitação no peito, porque lembrei de tudo", disse, traduzindo o sentimento de uma Aracruz em meio ao luto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.