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'Tiro passou de raspão pela minha cabeça', diz sobrevivente de ataque no ES

A professora Jessica Conceição Perini, uma das sobrevivente dos ataques em Aracruz - Arquivo Pessoal
A professora Jessica Conceição Perini, uma das sobrevivente dos ataques em Aracruz Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em Aracruz (ES)

28/11/2022 07h41

Ela estava na mira do atirador de 16 anos no momento da invasão à sala das professoras na escola estadual Primo Bitti, em Aracruz (ES). Ao correr em busca de proteção, disse ter sentido um rápido deslocamento de ar bem próximo. Mas foi só em meio ao socorro das vítimas que percebeu ter sido atingida por um tiro de raspão bem no topo da cabeça na última sexta-feira (25).

Uma das sobreviventes do primeiro alvo do atentado a duas escolas que matou quatro pessoas e feriu 12, a professora Jessica Conceição Perini, 31, relatou ao UOL Notícias como sobreviveu à tragédia. "Senti como se Deus tivesse me dado uma segunda chance."

O momento do ataque. Jessica disse ter ouvido disparos. Ao olhar para trás, percebeu a aproximação do atirador pela porta dos fundos. "Era como se fosse um cenário de guerra. Quando virei para correr, senti algo passando por cima da minha cabeça. O tiro passou de raspão. Mas não percebi, porque não senti dor", conta.

Após correr, ela disse ter se jogado sobre o sofá. Durante o ataque, achou que fosse morrer ali mesmo. "Ele [o atirador] estava ali para matar mesmo. Imaginei que não sairia dali viva. Só fechei os olhos e esperei que os tiros chegassem em mim. Só que isso não aconteceu. Orava a Deus enquanto ouvia os disparos", lembra a professora, que leciona Biologia na instituição há nove anos.

Quando os tiros pararam, teve a dimensão da tragédia ao perceber que todas as professoras ao redor dela haviam sido baleadas. Entre elas, Cybelle Bezerra Lara e Flavia Merçon Leonardo, que morreram na ação e foram sepultadas ontem no Cemitério Jardim da Paz, na Serra, região metropolitana de Vitória (ES).

Olhei em volta e vi que quem estava perto, havia sido atingido. Eu estava bem perto da Cybelle e da Flavia. Foram cenas de terror, que voltam toda a hora na minha memória. Senti uma tristeza profunda, porque perdi amigas queridas. Mas tive uma segunda chance"
Jessica Conceição Perini, sobrevivente do atentado

"Ficou uma lição de viver o hoje. Já abracei quem eu tinha que abraçar. Esse episódio fortaleceu ainda mais a minha fé", disse a professora, que é evangélica, casada e tem dois filhos pequenos.

Depois do ataque, só percebeu que havia sido atingida por um tiro de raspão na cabeça ao ser alertada por um dos alunos da escola. Ela chegou inclusive a procurar por atendimento médico, mas o ferimento foi tão superficial que ela não precisou nem colocar algum tipo de curativo no local, disse.

"Se o tiro tivesse sido um pouco abaixo, eu não estaria aqui para contar a história. As cinco professoras que estavam perto de mim foram baleadas. Foi um milagre eu não ter sido atingida, porque estava desprotegida."

"Pessoas ficaram sem reação." Há ainda outros relatos de sobreviventes do ataque na escola. É o caso de Ana Paula Coutinho, 53. Ao ouvir os tiros, disse ter se jogado no chão para se afastar do atirador.

"Mas as outras pessoas ficaram sem reação. Depois, voltei a ver as minhas colegas ensanguentadas no chão", diz a professora, que participou no sábado (26) de uma caminhada com cerca de 200 moradores entre as duas escolas para homenagear as vítimas da tragédia.

A professora que ajudou os alunos a fugir. A professora Marlene Fernandes Barcelos disse que o dia do atentado era atípico na instituição de ensino, já que um profissional tinha ministrado uma palestra sobre empreendedorismo aos alunos.

Como se despediu do palestrante, conseguiu se afastar da sala dos professores ao ouvir os disparos. "Quando percebi que era tiro, já corri e pedi que o guarda abrisse o portão para os alunos saírem. Falei: 'sai que é tiro.' Aí, os alunos correram. Alguns até pularam o muro da escola. Consegui fugir com os alunos. Nós sobrevivemos."