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Aracruz: pandemia e massacre de Suzano inspiram ações após ataque a escolas

Moradores deixaram flores, velas e recados em solidariedade às vítimas da tragédia em frente à portaria do Centro Educacional Praia de Coqueiral, em Aracruz (ES) - Herculano Barreto Filho/UOL
Moradores deixaram flores, velas e recados em solidariedade às vítimas da tragédia em frente à portaria do Centro Educacional Praia de Coqueiral, em Aracruz (ES) Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Do UOL, em Vitória (ES)

30/11/2022 17h14Atualizada em 30/11/2022 18h10

As ações adotadas em escolas com aulas remotas durante a pandemia de covid-19 e as iniciativas para lidar com as vítimas após o massacre de Suzano (SP) estão servindo de base para o plano de ação anunciado hoje à tarde pelo governo do Espírito Santo.

Ainda não há previsão para a volta às aulas nas duas escolas de Aracruz (ES), onde um atirador de 16 anos matou quatro pessoas e feriu outras 12 na última sexta-feira (25). Mas já há ações voltadas para o acolhimento das famílias.

Reforma e mudança. O UOL Notícias esteve nos dois colégios na terça-feira (29). Na escola estadual Primo Bitti, o ambiente era de mudança, com móveis sendo retirados e levados em um caminhão. Tudo vai passar por reforma.

"Estamos mudando salas, pintando a escola, tapando os buracos de tiros que ainda existem nas paredes. Para que a comunidade escolar tenha condições de entrar e redecorar o ambiente", disse hoje Vitor de Angelo, secretário estadual da Educação.

No Centro Educacional Praia de Coqueiral, a menos de dois quilômetros dali, a unidade foi aberta para que as famílias retirassem o material escolar deixado para trás. A unidade passou a oferecer atendimento psicológico aos pais e alunos.

Planejamento conjunto. As ações anunciadas pelo governo do Espírito Santo envolvem as secretarias estaduais de Educação, Saúde, Segurança Pública e Assistência Social, que atuam em conjunto com a Prefeitura de Aracruz. O anúncio do plano foi feito em entrevista coletiva em Vitória, capital capixaba.

"Nós nunca enfrentamos uma ação como essa em escolas no Espírito Santo. Mas existe uma experiência acumulada sobre o que fazer nesse primeiro momento de volta às aulas", disse o secretário.

Ele afirmou ter conversado com Rossieli Soares, que era secretário estadual de São Paulo quando dois ex-alunos invadiram a escola estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), em um massacre que deixou dez pessoas mortas e 11 feridas em março de 2019.

"O plano de ação envelopou todas ações como resposta em Suzano e englobou outros programas. Em Suzano, havia todo o ano letivo pela frente. Para nós, é possível abrir mão desse esforço de atividade pedagógica", disse de Angelo.

A prioridade é organizar o atendimento em todas as frentes para que não haja lacunas."

Conclusão do ano letivo. De Angelo também citou a possibilidade de usar a experiência adquirida durante o combate à pandemia da covid-19 para que o ano letivo possa ser concluído com aulas remotas, caso haja essa necessidade.

"Os professores estão extremamente abalados, e não têm condições de retornar às salas de aula nesse momento", disse. "Podem ocorrer atividades não presenciais para que seja realizada a carga horária do ano letivo. Mas o foco agora não é esse. Precisamos primeiro atender e acolher as pessoas que estão enlutadas."

Plantão para assistência às famílias. Uma opção é que a reabertura das escolas ocorra apenas como forma de acolher quem precisa, observou o secretário.

"A experiência [de outros ataques com mortes em escolas] mostra que é importante abrir o quanto antes para esse acolhimento. Tem quem precise voltar só para abraçar alguém que também estava na escola no momento do ataque."

Tadeu Marino, secretário da Saúde, que também participou da coletiva, citou a importância de oferecer um atendimento psicológico aos professores, alunos, país de alunos e até aos moradores da cidade atingida pelo ataque. "O transtorno psicológico nesses casos pode aparecer até um ano depois. Vamos receber as famílias e ficar de plantão", disse.

A pasta irá encaminhar, a partir de amanhã, profissionais de saúde mental e psicólogos com formação em desastres e traumas violentos. Na próxima semana, dará início ao atendimento às famílias dos alunos.

Segundo o secretário, há hoje 80 profissionais do Estado em Aracruz. A prioridade será oferecer atendimento às pessoas que estavam nos locais atacados pelo atirador de 16 anos.

Indiciamento. Também haverá reforço nas ações voltadas à Segurança Pública, com a presença policial nas escolas de Aracruz até o fim do ano letivo.

A Polícia Civil deverá encaminhar para o Ministério Público na próxima semana o inquérito com o indiciamento do atirador por ato análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado. Depois disso, passará a investigar se houve a participação de terceiros no planejamento do crime, presencialmente ou em grupos na internet.

As armas usadas no crime pertencem ao pai do atirados, que não estava em casa quando o adolescente pegou o veículo da família para atacar as escolas.