Aracruz: Rapaz que matou 4 e feriu 12 é sentenciado a 3 anos de internação
O adolescente que matou quatro pessoas e feriu 12 em um ataque a tiros a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, foi sentenciado hoje (4) a três anos de internação, segundo a defesa do rapaz e o juiz do caso, Felipe Leitão, da Vara da Infância e Juventude de Aracruz.
O prazo de três anos da sentença é o tempo máximo estabelecido pela lei como medida socioeducativa para adolescentes que infringem a lei.
O garoto de 16 anos, que confessou a autoria do ataque, estava internado no Iases (Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo) de Cariacica, na Grande Vitória, desde que foi apreendido.
"Por se tratar de um adolescente, o autor dos fatos responderá por ato infracional análogo ao crime de homicídio em sua forma tentada e consumada, respondendo pela medida socioeducativa em sua forma mais gravosa, que são três anos de internação", informou em nota o escritório Benichio Advocacia, que cuidou do caso.
Nesse período em que o adolescente estará sob a tutela do Estado, deverá passar por exames psiquiátricos recorrentes, para atestar sua possibilidade de retornar ao convívio social."
Advogados de defesa, em nota
O juiz Felipe Leitão também confirmou a sentença à reportagem, mas não entrou em detalhes porque o caso está sob segredo de Justiça.
Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Leitão realizou a audiência de apresentação hoje pela manhã, quando continuou "com a oitiva das testemunhas arroladas pelo Ministério Público".
"Após isso, o MP e a Defesa apresentaram alegações finais orais e o magistrado proferiu no mesmo ato a sentença, julgando procedente a representação e aplicando ao menor a medida socioeducativa de INTERNAÇÃO, pelo prazo de até 03 anos".
Quem vai avaliar esse prazo é o Juiz da Execução da Grande Vitória (3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória). Foi aplicada, ainda, uma medida protetiva de acompanhamento psiquiátrico durante o período de cumprimento da medida de internação."
Tribunal de Justiça de Vitória
Como foi o ataque
O ataque às duas escolas ocorreu no dia 25 de novembro, quando o adolescente —que estudou até junho deste ano em uma das unidades— deixou quatro mortos e 12 feridos. Ele foi apreendido horas depois dos assassinatos.
Segundo as investigações, a ação foi planejada por dois anos.
Os disparos —executados com duas armas do pai, que é PM— aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma rua, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro de Aracruz, cidade a 85 km de Vitória.
A vida da família do atirador de Aracruz
A silenciosa rua onde mora a família do atirador de 16 anos, no bairro Coqueiral, agora é monitorada por uma viatura da Polícia Militar. Antes do ataque às escolas, não havia medo ou sensação de insegurança por ali.
Era comum ver o adolescente em corridas ou caminhadas ao lado do pai. Mas a interação dele se restringia à família nos últimos anos. No celular apreendido pela polícia, só havia dois contatos, registrados como "pai" e "mãe", disse o delegado André Jaretta, responsável pela investigação.
Vizinhos próximos da casa da família ouvidos pelo UOL Notícias disseram que o adolescente costumava desviar o olhar se alguém o cumprimentava.
Em meio à disseminação do coronavírus, ele passou a se isolar ainda mais, obrigando o pai a forçar uma aproximação. Colegas de farda dizem que o PM começou a estudar psicanálise para ajudar nos cuidados com o filho, que já demonstrava alterações de comportamento desde a infância. A mãe, que foi professora, foi descrita como reservada.
Livro de Hitler. Segundo as investigações, o policial militar teria comprado o livro "Minha Luta", escrito pelo ditador nazista Adolf Hitler, para interagir mais com o garoto, que usou uma suástica no braço direito fixada na roupa camuflada no ataque às escolas.
O pai, entretanto, negou que tivesse comprado o livro para o filho em entrevista à TV Bandeirantes. "Esse livro foi uma aquisição minha para entender um pouco sobre a questão da mente do autor. Mas vi que ele foge um pouco das ideias e vem muito para a biografia. Então nem continuei a leitura", disse.
*Colaborou: Wanderley Preite Sobrinho, do UOL em São Paulo
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