Alunos de medicina da USP pagavam R$ 12 mil para formatura de R$ 1 milhão

A formatura da turma 106 da Faculdade de Medicina da USP virou assunto depois que a aluna e presidente da comissão de formandos confessou ter desviado R$ 927 mil arrecadados pelos estudantes para a formatura prevista para o ano que vem.

O valor desviado chamou a atenção: afinal, como é possível arrecadar quase R$ 1 milhão para uma festa de formatura?

O UOL conversou com um estudante que explicou como a arrecadação era feita:

• Cada estudante precisava desembolsar aproximadamente R$ 12 mil, no total.
• Esse valor poderia ser pago de uma só vez ou em parcelas.
• Quem aderisse em 2023, por exemplo, poderia pagar 12 parcelas de R$ 1 mil.
• Com seis anos de curso, pagava parcela menor quem aderisse antes à formatura.

Ao todo, 175 alunos de medicina são admitidos anualmente para os seis anos de curso na USP. Como 110 alunos da turma aderiram à formatura, o valor final do evento poderia chegar a R$ 1,3 milhão.

Para arrecadar o dinheiro, os estudantes contrataram em agosto de 2019 a Ás Formatura, responsável por emitir os boletos para que os alunos pagassem a conta. A empresa negou participação no desvio e afirmou que sua responsabilidade "limitava-se a arrecadar os valores", além de cuidar da cobertura fotográfica.

Com tanto dinheiro, a expectativa dos alunos era realizar uma grande festa. Os artistas e as atrações, no entanto, ainda eram uma incógnita. "Não estava nada fechado. Neste início do ano, seriam tomadas essas decisões", conta o formando.

Como o sexto e último ano do curso acaba em 2023, a formatura, a colação de grau e o baile estavam previstos para o início de 2024.

O aluno disse que, apesar do revés, ninguém desistiu da festa.

A gente tem a intenção de fazer essa festa, mas temos de fazer acordos novos, temos de pensar em soluções novas, uma arrecadação nova. Todas essas ideias estão sendo pensadas para depois botar o plano em ação."

O desvio

Apesar os preparativos, a presidente da comissão de formatura, Alicia Muller, 25, confessou aos alunos em mensagens de WhatsApp que, na tentativa de fazer o dinheiro render, sacou os R$ 927 mil já depositados na Ás Formatura e investiu em uma corretora, que teria sumido com o valor.

Alicia, no entanto, já era investigada por uma delegacia em São Bernardo do Campo, na região metropolitana, depois de realizar R$ 461.425 em apostas em uma lotérica na Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

O UOL apurou que os investigadores acreditam que o dinheiro das apostas saiu da arrecadação para a formatura. Até a revelação do caso, os investigadores trabalhavam em diversas hipóteses, inclusive a de participação do namorado de Alicia.

No caso envolvendo as apostas, a aluna é investigada por estelionato e lavagem de dinheiro. A polícia já pediu a quebra do sigilo bancário de Alicia e de outras pessoas identificadas durante a apuração.

Membros da comissão de formatura começarão a ser ouvidos nesta semana. Depois de interrogá-los, será a vez de a Polícia Civil intimar Alicia para prestar depoimento.

Procurada, a aluna não se manifestou.