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Aluna da USP mentiu a colegas e contrato com empresa de formatura era falho

Do UOL, em São Paulo

20/01/2023 13h19Atualizada em 21/01/2023 06h07

A aluna de medicina da USP Alicia Müller, 25, mentiu aos seus colegas quando acusou uma corretora de investimentos de golpe.

Alicia admitiu em interrogatório que desviou R$ 937 mil da comissão de formatura, mas ficou com vergonha de dizer aos colegas que perdeu o dinheiro apostando na loteria.

A estudante foi indiciada ontem por apropriação indébita, com pena máxima de quatro anos de prisão e multa. Por enquanto, vai responder em liberdade.

Segundo a delegada Zuleika Gonzalez Araújo, a estudante sacou sozinha todo o dinheiro depositado na Ás Formaturas porque o contrato permitia.

Pelo contrato que tinha com a empresa, qualquer membro dessa comissão poderia sacar as quantias sem autorização dos demais."
Zuleika Gonzalez Araújo, delegada

Por segurança, contratos assim devem exigir mais de uma assinatura para movimentações financeiras, de acordo com a advogada especializada no tema Lucy Padula.

A criação de regras envolvendo a utilização dos recursos financeiros pode evitar o desvio de valores e exigir a votação de outros integrantes da comissão para a tomada de decisões importantes."
Lucy Padula, advogada

A mentira

A presidente da comissão de formatura enviou uma mensagem de WhatsApp aos colegas admitindo ter sacado todo o dinheiro depositado na Ás Formaturas, responsável por organizar o evento. Ela disse ter investido parte do valor na corretora de investimentos Sentinel Bank. E alegou que a corretora teria sumido com todo o dinheiro.

"Ela disse [no depoimento] que isso não era verdade. Que é uma mentira", afirmou a delegada.

zuleika - Wanderley Preite Sobrinho/UOL - Wanderley Preite Sobrinho/UOL
Delegada Zuleika Gonzalez Araújo durante entrevista coletiva em que comentou o depoimento da aluna da USP
Imagem: Wanderley Preite Sobrinho/UOL

A Ás Formaturas afirma que os repasses foram solicitados por Alicia, com o e-mail da comissão em cópia. "E o assunto foi tratado no grupo de whatsapp do qual todos participantes da comissão fazem parte."

A empresa diz ainda que o contrato assinado em agosto de 2019 prevê a necessidade de criação de uma pessoa jurídica para representar a comissão de formatura. Porém, isso jamais foi feito.

O contrato era expresso em suas cláusulas ao prever a possibilidade de transferência dos valores para conta de terceiros, indicada pela própria Comissão.
Ás Formaturas, em nota ao UOL

"Por enquanto não tem nada que possa comprovar qualquer ato errado da empresa, mas pode haver alguma mudança", afirmou ontem a delegada.

O UOL procurou a comissão de alunos, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

Alicia realizou nove transferências para três contas pessoais, diz a polícia. Os maiores valores foram:

  • Novembro de 2021: R$ 604 mil;
  • Junho de 2022: R$ 144 mil;
  • Agosto 2022: R$ 60 mil;
  • Novembro de 2022: R$ 27 mil.

Alicia teria sacado os valores porque "começou a desconfiar da administração da empresa", disse a delegada Araújo.

"Sacou num primeiro momento R$ 604 mil porque pensou que poderia investir."

Quando a aluna começou a perder dinheiro com as supostas aplicações, decidiu "retirar todo o valor aplicado [para a formatura] e fazer apostas em casas lotéricas, mas continuou perdendo", contou a delegada.

Entre abril e julho, a estudante realizou ao menos R$ 397,2 mil em apostas no mesmo lugar e ganhou R$ 366,6 mil em prêmios.

Alicia passou a usar as quantias em proveito próprio, "tendo uma vida incompatível com a renda que tinha":

  • Comprou um iPad Pro de R$ 6 mil.
  • Alugou por cinco meses um apartamento por R$ 3.700 (com condomínio).
  • Alugou carro por R$ 2 mil.