Por que em Fernando de Noronha não há tantos incidentes com tubarões?
Os recorrentes incidentes com tubarões na costa pernambucana não são tão comuns em Fernando de Noronha, o famoso arquipélago a cerca de 350 km da costa brasileira. O Cemit (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões), que atua desde 2004, registrou apenas 10 ocorrências no local nos últimos anos, em contrapartida, com os mais de 60 no continente.
Nenhum dos casos do arquipélago acabou em mortes; já os da região costeira de Pernambuco chegaram a 26, segundo último levantamento.
Mas, realmente, tem tubarão em Fernando de Noronha?
Sim. Incidentes com tubarões podem ocorrer em qualquer lugar do mundo — o que muda é a frequência, como explica o oceanógrafo e professor da UFRPE (Universidade Rural de Pernambuco), Paulo Oliveira.
"Os incidentes são menores porque lá é um ambiente mais equilibrado. Geralmente estas ocorrências constantes estão atreladas a degradações costeiras, ao desequilíbrio ecológico. Em Fernando de Noronha sempre foi muito pontual. Há muitas pessoas que visitam, entram na água, que mergulham. Se fosse algo mais corriqueiro, saberíamos mais rápido".
Casos recentes foram registrados em menos de 24h no Recife. Nesta segunda (6), uma adolescente de 15 anos foi mordida no braço esquerdo. No domingo (5), um jovem de 14 anos foi mordido na perna e precisou amputar o membro. Eles se recuperam no Hospital da Restauração, onde passaram por cirurgia.
Onde acontece incidentes são áreas degradas. Os tubarões precisam de alimentos e, se há escassez, eles vão se aventurar em regiões mais amplas, se aproximando da costa. Paulo Oliveira.
E o que Fernando de Noronha tem de diferente?
- O local é inteiramente protegido. Além de ser uma Área de Proteção Ambiental também é considerado um Parque Nacional Marinho;
- O ecossistema está equilibrado. A água é limpa e de qualidade, além de existir uma oferta diversificada e abundante de presas para os tubarões;
- Não há canais próximos que podem "trazer" tubarões para a costa -- como é o caso do Recife, em que há um canal paralelo à costa onde peixes e tubarões nadam.
Os tubarões que se aproximam da costa de Fernando de Noronha são os tubarão-limão, que vão atrás das sardinhas que nadam na zona de rebentação [das ondas]. Os tubarão-tigres ficam mais afastados. Paulo Oliveira.
Então como entender os incidentes no arquipélago?
O primeiro ataque oficial de tubarão registrado na história da ilha ocorreu em dezembro de 2015, quando um turista paranaense de 33 anos levou uma mordida de tubarão e perdeu a mão e parte do antebraço. No ano passado, uma menina de 8 anos também levou uma mordida, desta vez na perna, e também teve o membro amputado. Ambos casos ocorreram Praia do Sueste, uma das mais conhecidas do arquipélago.
Há monitoramento neste local porque ele é um santuário de tartaruga marinha e o tubarão gosta de se alimentar delas. Ao contrário de outras praias, a água nem sempre está translúcida e o percentual de incidentes se eleva porque o predador percebe a presa, mas a presa não consegue vê-lo.
Outras ocorrências também foram observadas nas Praias do Leão, de Conceição, do Bode e da Cacimba. As vítimas eram banhistas e surfistas.
É muito comum que os turistas queiram tirar fotos de cardumes, mas sempre onde há cardumes, há a possibilidade de existir um grande predador. É possível que nesses casos algum tubarão apareça e acabe batendo sem querer nesses banhistas.
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