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'Faziam como em Lobo de Wall Street': como era golpe de empresa em Portugal

Funcionários reproduziam cenas do filme "O Lobo de Wall Street" - Reprodução/TV Globo
Funcionários reproduziam cenas do filme 'O Lobo de Wall Street' Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

12/03/2023 22h05Atualizada em 12/03/2023 23h50

Uma empresa com sede em Portugal que aplicava golpes do mercado financeiro em brasileiros se inspirava no filme "O Lobo de Wall Street". A descrição é de um ex-funcionário da companhia, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

[Trabalhávamos] sempre de terno e gravata para se sentir como se você fosse mesmo do mercado financeiro. Eles faziam você se sentir realmente, igualzinho no 'O Lobo de Wall Street', tanto que eles passavam esse filme no treinamento."
Ex-funcionário da empresa, em entrevista a TV Globo

No filme "O Lobo de Wall Street", baseado em fatos reais, o corretor da bolsa de valores Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio, cria um império e enriquece de forma ilegal.

Ao menos 945 pessoas em todo o Brasil caíram no golpe, segundo a Polícia Civil do Distrito Federal. O esquema ilegal movimentou ao menos R$ 16 milhões em seis meses.

Quando fazia a venda, batia o sino. Igual mesmo ao filme. Eles falavam: 'Vocês têm que pensar em vocês. É na família de vocês, entendeu? O mundo está longe de ser um lugar justo'.

O esquema:

  • A Polícia Civil do DF começou a investigar esse esquema há um ano, depois que um casal do Lago Norte, área nobre do DF, foi vítima do grupo e perdeu R$ 600 mil em seis meses.
  • A empresa funcionava em quatro endereços de regiões nobres de Lisboa.
  • 150 funcionários brasileiros trabalhavam na empresa de Portugal. Eles ofereciam oportunidades de investimento em ações de grandes companhias estrangeiras em bolsas de valores de outros países.
  • Era necessário fazer 200 ligações por dia para captar clientes, com a meta de conseguir ao menos quatro clientes no mês, de acordo com relato de ex-trabalhadores.
  • Ex-funcionários disseram que, no treinamento, a empresa mandava que eles se passassem por corretores da bolsa de valores e especialista em investimentos.

Como funcionava o esquema?

  • Alvos do golpe eram, geralmente, pessoas de áreas nobres do Brasil. Os sellers (vendedores) tinham uma lista de nomes e telefones e faziam o primeiro contato.
  • O investimento mínimo era de US$ 200. O interessado depositava o valor da aplicação em conta no Brasil.
  • Depois, o investidor era atendido pela área de "retention" (retenção), que mandava a vítima baixar um aplicativo usado por corretoras para monitorar o mercado financeiro. Porém, por telefone, esse setor fazia com que o investidor configurasse o app para se conectar com servidores da empresa.
  • A partir disso, o acesso era apenas a informações falsas, incluindo perdas fortes nas bolsas. A forma de recuperar o que perdeu era fazendo mais investimentos.
Tinha dia [que me ligavam] seis vezes ao dia. Na base do terror, dizendo que eu ia perder aquele dinheiro. 'Como é que você vai perder esse dinheiro 'tudo'? Aí saí pegando uma margem grande de empréstimo. Eu cheguei à falência. [Perdi] R$ 1.004.000,50."
Vítima do golpe

O dinheiro obtido pelo esquema era convertido em criptomoedas no Brasil e depois enviado para os chefes do grupo em Portugal e outros países.

Prisões

A Polícia brasileira acionou a Interpol para prender um tcheco, três brasileiros e uma portuguesa por gerenciar o esquema.

David Socorro, 32, da República Tcheca, segundo as investigações, seria um dos chefes do esquema. Ele foi preso na Alemanha.

Nesta semana, agentes do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) de Portugal prenderam os brasileiros suspeitos de integrar a organização criminosa transnacional. Sobre a portuguesa, não foi informado se ela foi detida.

Defesa dos presos. O advogado Marcelo Teodoro disse que os suspeitos "irão prestar todos os esclarecimentos necessários para a Justiça" no momento adequado, já que não tiveram oportunidade de fazer sua defesa em plenitude.

Segundo o delegado Roney Marcelo, da PC-DF, os investigados vão responder por organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraude eletrônica.

Somados, os crimes ultrapassam a pena de 50 anos de prisão. A polícia brasileira disse que pedirá a extradição de todos os envolvidos e retenção das contas internacionais em criptomoedas do grupo.