Golpe do 0800: jovens roubam idosos para ostentar lancha e piscina infinita
Passeios de lancha, banhos em piscinas com borda infinita, viagens nacionais e internacionais, camarotes reservados em shows de artistas famosos. Tudo registrado em postagens nas redes sociais. Essa era a vida dos suspeitos presos durante uma operação comandada pela Polícia Civil do Distrito Federal, visando desmantelar uma organização criminosa que se especializou em fraudes eletrônicas em todo o território nacional.
Ontem, agentes cumpriram quatro mandados de prisão temporária e nove de busca e apreensão no estado do Rio de Janeiro; e um mandado de prisão temporária e dois de busca e apreensão na Bahia. Um dos suspeitos ainda está foragido. As autoridades investigam a hipótese de que o grupo pode ter movimentado cerca de R$ 3,8 bilhões em quatro anos de operação.
Foram detidos Breno Nunes Maselli, de 21 anos; Felipe Barros de Carvalho Filho, de 28 anos, e Thays Vilela Coutrim, de 25 anos, que estavam no Rio; além de Luana Boaventura dos Santos Almeida, de 29 anos, em Salvador.
O UOL entrou em contato com a defesa de Breno, Thays e Felipe, mas até o momento a advogada nomeada por eles, Vanessa Eymael, não havia retornado com um posicionamento. Não conseguimos contato com a defesa de Luana, detida na Bahia.
Segundo a polícia, durante a investigação, os agentes encontraram dezenas de fotos e vídeos, publicados nos stories de alguns suspeitos, comprovando a ostentação do grupo. Incluindo imagens que comprovam viagens para Inglaterra, França, Israel, Argentina e até Jordânia.
Os investigados responderão pelos crimes de fraude eletrônica, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, por cada crime de estelionato praticado contra idosos, os autores estarão sujeitos a uma pena que pode alcançar os dez anos de prisão.
Pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa eles estão sujeitos a uma pena que pode alcançar 13 anos de prisão.
Como era o golpe
A investigação, batizada de Operação Sísifo, iniciou-se em julho de 2022. O grupo, composto por três homens e duas mulheres, obtinha os dados pessoais e financeiros das vítimas, em sua maioria idosos, e, por meio de centrais telefônicas clandestinas instaladas em empresas de fachada, telefonavam para elas se passando por funcionários da área segurança da instituição financeira em que elas possuíam conta.
Segundo João de Ataliba Nogueira, delegado-chefe do 38° DP de Vicente Pires, no Distrito Federal, ao efetuarem ligações por meio de números 0800, e em posse de informações financeiras precisas das vítimas, os autores passavam "grande credibilidade" e induziam as vítimas ao erro, ao afirmarem que suas contas bancárias estariam sob suspeita de fraude.
Os suspeitos exigiam que as vítimas encaminhassem seus documentos pessoais e uma fotografia de rosto para que fosse aberta uma nova conta em seus nomes, para as quais elas deveriam transferir o dinheiro que possuíam.
As vítimas então encaminhavam os documentos solicitados, acreditando nas alegações. Após as novas contas serem abertas, os autores solicitavam a realização das transferências dos valores e, como as contas estavam sob a titularidade das vítimas, elas acabavam por transferir todos os valores que possuíam na conta bancária que acreditavam estar com suspeita de fraude.
Após a transferência dos valores, os criminosos, que possuíam as senhas e a administração de fato das contas recém-abertas, efetuavam a transferências dos valores auferidos para as contas bancárias de empresas de fachada localizadas nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia.
"No caso investigado pela 38ª DP, a vítima, um idoso de 72 anos, transferiu a quantia aproximada de R$ 180 mil, após ter sido enganado pela organização criminosa", contou ao UOL o delegado.
"Estimávamos, inicialmente, que, em todo território nacional, o grupo criminoso tenha feito mais de 100 vítimas. Mas esse número pode ser bem maior, já que as vítimas ainda não procuraram as delegacias de suas cidades para registrar as ocorrências", explica Nogueira.
Esquema pode ter rendido bilhões
Em uma planilha encontrada pela polícia, o valor total registrado das operações ao longo de quatro anos foi de R$ 3,8 bi. O documento, porém, ainda será periciado e o Instituto de Criminalística da Polícia Civil buscará também encontrar registros digitais dessas operações para confirmar o valor total movimentado pelos golpistas.
"Os autores ostentavam uma vida de luxo. Assim que tivemos acesso aos nomes das empresas e dos suspeitos, começamos a investigá-los nas redes e passamos a baixar as fotos e vídeos que comprovavam a gastança de dinheiro. Imagens dos autores em festas badaladas, dirigindo carros importados, comendo refeições caras, tiravam selfies em camarotes de shows, viagens internacionais, tudo completamente incompatível com o padrão de vida médio do brasileiro".
Durante a investigação policial, foram identificadas as empresas de fachada, utilizadas pelo grupo. São elas: Simplifica Consultoria; Lua Seviços; Vilela Princess Comércio de Roupas Ltda e LF Soluções Financeiras. A polícia conseguiu bloquear a quantia de R$ 127.000,00, nas contas bancárias das empresas investigadas.
Dois dos presos ontem, explica o delegado, eram os "conteiros" do grupo: Breno e Luana. Ou seja, eram eles que cediam contas bancárias para os depósitos, em troca de valores financeiros. Um deles recebia R$ 1,2 mil para cada depósito e uma jovem cobrava entre 3% e 5% sobre cada crédito realizado na conta.
Segundo a polícia, os outros dois detidos, o casal Thays e Felipe, além do rapaz foragido, eram os verdadeiros operadores do esquema e são deles as redes sociais devassadas pelos policiais. "Pedimos agora para que as possíveis vítimas dessa operação busquem as delegacias de suas cidades para registrarem queixa. Só assim teremos ideia da quantidade de pessoas prejudicadas, o que implicará no aumento das penas dos suspeitos, caso sejam julgados culpados".
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