Topo

Viagem e placa adulterada: o que falta saber sobre bebê de SC achado em SP

Bebê desapareceu em Santa Catarina e foi encontrado apenas 8 dias depois, dentro de carro na zona leste de São Paulo  - Reprodução/PMSP
Bebê desapareceu em Santa Catarina e foi encontrado apenas 8 dias depois, dentro de carro na zona leste de São Paulo Imagem: Reprodução/PMSP

Do UOL, em São Paulo

10/05/2023 12h10Atualizada em 10/05/2023 15h44

Um bebê de dois anos, que desapareceu em 30 de abril na Grande Florianópolis, foi encontrado oito dias depois em São Paulo, acompanhado de dois adultos.

A busca pelo menino mobilizou as redes sociais depois de denúncias feitas por familiares. A mãe dele estava internada em um hospital de Santa Catarina e não ajudou nas investigações em um primeiro momento, mas depois teria dito que entregou o filho voluntariamente a um casal.

O que se sabe sobre o caso da criança catarinense:

O desaparecimento

O bebê N.* foi visto pela última vez em Santa Catarina no dia 30 de abril.

Parentes decidiram levar o caso à polícia em 5 de maio.

Eles disseram que a mãe do menino estava internada "e não conseguia dar informações de onde o deixou ou com quem".

O resgate

A investigação da PM de Santa Catarina chegou a um carro branco, com placas adulteradas, que saiu do estado em direção a São Paulo.

A proprietária do veículo, identificada como Roberta Porfírio, passou a ser monitorada pela polícia.

A PM catarinense pediu ajuda à polícia paulista ao receber informações de que o carro estava no Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

O bebê foi encontrado na noite de segunda-feira. Os agentes abordaram o Hyundai Creta e encontraram N.* acompanhado de dois adultos.

A polícia identificou os adultos. O homem que dirigia o veículo é Marcelo Valeze. Também estava no carro Roberta.

Por que e como os suspeitos pegaram o menino?

Roberta Porfírio afirmou aos policiais que a mãe doou a criança voluntariamente e apresentou uma Certidão de Nascimento do bebê.

A suspeita ainda disse que ela e Marcelo, que seria apenas um "conhecido", estavam a caminho de um fórum para regularizar a situação do menino.

Já a Polícia Civil de Santa Catarina descobriu que Marcelo e a esposa, identificada apenas como Juliana, vinham aliciando a mãe de N.* desde que ele era um recém-nascido.

Marcelo e Roberta moram em São Paulo e viajaram ao Sul apenas para pegar a criança.

Eles foram presos em flagrante por tráfico de pessoas.

Não foram divulgadas mais informações sobre a suposta participação de Juliana.

O que diz a mãe do menino?

A mulher disse à polícia que entregou o filho espontaneamente, sem nenhum tipo de ameaça ou vantagem financeira.

Ela apresenta um "quadro de extrema vulnerabilidade", ainda segundo o boletim de ocorrência, obtido pela TV Globo.

A polícia conseguiu a quebra de sigilo do celular usado pela mãe de N.*, que deve ser analisado para confrontar as versões.

Onde está o bebê agora?

O bebê foi resgatado na segunda-feira sem ferimentos e estava aparentemente "bem cuidado", segundo a polícia.

Ele foi levado a um abrigo de São Paulo sob vigilância do Conselho Tutelar.

O Ministério Público de Santa Catarina quer que o bebê seja transferido para sua terra natal, afirmando que a estratégia é "a mais adequada para a reinserção da criança ao ambiente familiar".

Os familiares da criança devem passar por um teste psicossocial para avaliar se é possível entregá-la a algum dos parentes.

O que falta saber

A mãe realmente não foi coagida a doar o menino?

A adoção ilegal envolveu algum tipo de pagamento?

Qual era a intenção dos suspeitos que levaram o bebê até São Paulo?

Algum deles pretendia ficar com o menino ou ele seria entregue a outra pessoa?

Quem ficará com o bebê?

O que a lei diz sobre adoção 'sem fila'?

A entrega voluntária de um recém-nascido é um procedimento legal, que não configura crime nem abandono, desde que seja feita diante da equipe do Juizado da Infância e da Juventude e não envolva pagamento em dinheiro.

Neste processo, a equipe do Juizado encaminha a criança para pretendentes à adoção que estão cadastrados no sistema do governo e já se capacitaram para o processo.

O direito à entrega voluntária deve ser garantido em qualquer circunstância e não depende de a genitora ter sido vítima de violência ou não ter condições econômicas.

O processo tenta evitar situações chamadas de "adoção à brasileira", quando um recém-nascido é entregue de forma irregular a uma família que se passa pela biológica, sem passar pelos cursos e avaliações psicológicas enfrentados pelas famílias que seguem o caminho legal.

* Nome ocultado para preservar a identidade da criança