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'Ficará marcado para sempre', diz mãe de criança que foi amarrada em escola

Criança foi amarrada em uma escola particular investigada por tortura e maus-tratos na zona sul de São Paulo - Reprodução
Criança foi amarrada em uma escola particular investigada por tortura e maus-tratos na zona sul de São Paulo Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

27/06/2023 04h00

A mãe do menino que foi amarrado junto a uma viga de madeira, como foi possível ver em uma das fotos da escola particular Pequiá, na zona sul de São Paulo, disse que o seu filho iniciou tratamento psicológico após o episódio. A Justiça decretou ontem a prisão temporária dos donos da instituição de ensino pelo crime de tortura, e eles já são considerados foragidos pela polícia.

O que disse a mãe do menino

"Senti dor, porque não pude estar por perto para protegê-lo", disse a dona de casa F. S., 34, sobre sua reação ao ver a foto do filho, que teria sido amarrado com as mangas do próprio uniforme por cerca de uma hora.

A imagem foi registrada em setembro de 2022 pela mesma professora que denunciou o caso à Polícia Civil. Mas só foi encaminhada às autoridades no dia 15 deste mês com outras fotos e vídeos de maus-tratos. Foi quando a mãe declarou ter tido conhecimento sobre o episódio.

A mãe do menino disse ter sofrido um impacto maior ao ver a imagem original, já que nas primeiras fotos a criança, que tinha 6 anos na época, aparecia com o rosto desfocado.

Foi quando pude ver o semblante dele, enquanto estava amarrado daquele jeito, como se estivesse usando uma camisa de força."
F. S., mãe do menino que foi amarrado em escola particular (o nome não será revelado para preservar a criança)

Mesmo sem saber dos maus-tratos, a mãe do menino disse que ele passou a ter acompanhamento psicológico após o episódio. Em uma outra escola desde o começo deste ano, ele passou a apresentar outro tipo de comportamento.

Ele ficou agressivo com os coleguinhas e passou a desrespeitar os professores, como se esperasse ter algum tipo de punição. Eu paguei mensalidade em uma escola para que o meu filho fosse torturado. Ele passou por algo que vai ficar marcado para sempre na vida dele."
F. S.

O que se sabe sobre o caso

De maus-tratos para tortura: inicialmente, o caso começou a ser investigado pela Polícia Civil como maus-tratos. Mas os registros em foto e vídeo das crianças e os depoimentos fizeram com que a investigação passasse a tratar os episódios ocorridos na escola como tortura, com pena de até 8 anos de prisão.

Outro lado: A defesa de Eduardo Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, os donos da escola investigados pelo crime de tortura, nega as acusações e alega inocência.

A Polícia Civil já ouviu três professoras e 13 pais de alunos. Entre eles, os responsáveis por cinco crianças entre 1 e 6 anos vítimas de maus-tratos neste ano.

A investigação ainda apura casos ocorridos em anos anteriores. Uma pedagoga que tirou a foto de uma criança obrigada a dormir dentro do banheiro em 2015 e a mãe F. S. também foram ouvidas.

Segundo depoimentos à polícia, as crianças eram levadas a uma sala escura como forma de punição. Também costumavam ficar sem o lanche oferecido no café da manhã porque precisavam "comer rapidamente", conforme a Polícia Civil.

As crianças torturadas não tinham lesões porque foram submetidas a uma violência psicológica. Ele [dono da escola] foi descrito como mais violento. Ela [dona da escola] costumava gritar e xingar os alunos. É triste, revoltante e bizarro."
Fabio Daré, delegado do 6º Distrito Policial (Cambuci)