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Aliança de CV e milícia incluiu sinal de internet, 'crias' e caça a rivais

A tática adotada pelo crime organizado após a aliança entre o Comando Vermelho e a maior milícia do Rio de Janeiro incluiu a mudança do fornecimento de internet nas áreas ocupadas, o uso de "crias", como são chamadas as pessoas oriundas das favelas, e uma caçada aos rivais.

Documentos da Polícia Civil obtidos pelo UOL mostram como agiam os mesmos criminosos apontados como suspeitos de envolvimento na ação que resultou na morte de três médicos na madrugada da última quinta-feira (5) em um quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste carioca.

Sob o domínio do medo

Antes ligado à milícia, Philip Motta Pereira, o Lesk, recebeu a missão do Comando Vermelho de invadir a Gardênia Azul (comunidade da zona oeste carioca), tradicional reduto do grupo paramilitar. Desde janeiro na região, ele passou a fortalecer as ações do tráfico, dando início a uma disputa interna na milícia que deixou mais de 50 mortes só neste ano.

Uma das primeiras ações do grupo foi cortar o sinal de internet para trocar o provedor. Com isso, os moradores foram obrigados a seguir as recomendações do Comando Vermelho.

Sob o pretexto de que seria um dos "crias" da Gardênia Azul, Lesk enviou áudio aos moradores com intimidações e proibições de pagamentos de taxas à milícia rival. "Um áudio aí para a população do Gardênia. Quem tá falando aqui é o Lesk, entendeu? Então, tá proibido de pagar luz ou comércio pra qualquer miliciano aí no desespero", orientou.

A estratégia de expansão da maior facção criminosa nas favelas do Rio também incluía a tomada de território do Rio das Pedras (zona oeste), outro reduto histórico da milícia. Era justamente a área de domínio de Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, confundido com um dos médicos mortos por engano, segundo a Polícia Civil.

Caça a rivais e "general" do CV

Abelha, chefe do Comando Vermelho nas ruas do Rio
Abelha, chefe do Comando Vermelho nas ruas do Rio Imagem: Reprodução

A Polícia Civil do Rio rastreou trocas de mensagens com Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como Abelha, um dos chefes do CV nas ruas. Ele conversava com um criminoso com a missão de ocupar os territórios na zona oeste carioca entre fevereiro e maio deste ano.

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A ação é descrita como "caçada" aos rivais em mensagens enviadas a Abelha, chamado de "general" pelo suspeito de chefiar as buscas. No diálogo, o chefe do CV recebe fotos de jovens sentados no chão no que parece ser uma abordagem feita pelos criminosos.

Em uma mensagem, o criminoso encaminha a Abelha um vídeo mostrando uma das ações. "Chacrinha pai", diz, citando a favela na Praça Seca, palco de confrontos entre facções rivais nos últimos anos. E recebe elogios de Abelha: "Vc [sic] é foda".

Fuzil onde se lê PB vive, em referência a filho de Abelha morto em confronto com a polícia em 2019
Fuzil onde se lê PB vive, em referência a filho de Abelha morto em confronto com a polícia em 2019 Imagem: Polícia Civil do Rio de Janeiro

Também há imagens de armamento pesado usado pela quadrilha nos documentos da Polícia Civil. Em um dos fuzis, está escrito "PB vive", em referência a Pablo Rabello, filho de Abelha. Ele foi morto em uma troca de tiros com a polícia em 2019 no Complexo da Penha, reduto do Comando Vermelho.

O nome de Abelha está salvo no celular como Chefe Mel, de acordo com print da troca de mensagens anexada ao inquérito da Polícia Civil. Nas mensagens, Abelha informa ter feito o pagamento de R$ 1.000 ao suspeito de chefiar a ação e a outro comparsa dele. "Deixei mil lá pra vc [sic] e vou deixar mil para ele", escreve o chefe do Comando Vermelho.

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