Briga de milícias e aliança com CV podem estar por trás de morte de médicos
A briga interna pelo controle da maior milícia do Rio de Janeiro seguida de uma aliança inédita com o Comando Vermelho pode estar por trás do assassinato de três médicos baleados em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense. A Polícia Civil suspeita que as vítimas foram confundidas com integrantes do grupo paramilitar.
O que está acontecendo
Fontes ligadas à Polícia Civil indicam que os autores do ataque eram milicianos que estavam aliados ao Comando Vermelho desde o começo do ano. Segundo as investigações, eles foram mortos pela própria facção por terem cometido o crime de forma equivocada. Eles teriam confundido o ortopedista Perseu Almeida com Taillon Barbosa, um miliciano rival.
O corpo do miliciano Philip Motta Pereira, conhecido como Lesk, foi encontrado na madrugada de hoje pela Polícia Civil na Gardênia Azul. A área é reduto tradicional da milícia de Lesk e foi alvo da aliança com o Comando Vermelho, segundo reportagem do UOL do fim de setembro. Após essa aliança, ocorreram mais de 50 assassinatos atribuídos à disputa interna no grupo.
Luís Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel, foi morto no dia 16 de setembro. Ligado ao grupo de Lesk, ele foi atacado pelo grupo rival por ter supostamente auxiliado a entrada do Comando Vermelho na Gardênia Azul. O grupo de Lesk então estaria tentando revidar, com assassinatos de suspeitos de envolvimento na morte de Vin Diesel.
A Polícia Civil indica que a aproximação entre o tráfico de drogas e milícias tem se intensificado nos últimos anos, dando origem ao termo "narcomilícia". Mas, até então, a ligação era entre os paramilitares e o Terceiro Comando Puro, facção rival do Comando Vermelho.
A ruptura do grupo começou no dia seguinte à morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, quando mais de cem homens com fuzis cercaram a área de atuação dele na zona oeste carioca. Segundo a Polícia Civil, eram milicianos ligados a Danilo Dias Lima, o Tandera, responsável pela expansão da organização criminosa para a Baixada Fluminense há sete anos
Essa ligação da milícia com o Comando Vermelho, maior facção do Rio, só passou a ser investigada neste ano. As apurações apontam uma parceria que envolve fornecimento de armamento pesado para confrontos com rivais e uma aliança comercial.
A associação criminosa envolve venda de drogas e permissão para explorar o território com práticas já ligadas à milícia. Isso inclui venda de gás, água, transporte irregular e cobrança de taxa a moradores e comerciantes, indicam as investigações.
As negociações foram seladas no Complexo da Penha, zona norte do Rio, ainda de acordo com fontes ligadas à investigação. A região é apontada como o principal reduto do Comando Vermelho.
A maior milícia do Rio, que era forte, hoje está fragmentada. O Comando Vermelho sempre teve um distanciamento em relação aos grupos paramilitares, mas isso mudou. O que vemos é um avanço do tráfico em regiões que eram dominadas por milicianos e um pacto de paz entre essas duas organizações.
André Neves, delegado da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas)
A movimentação do crime organizado está mudando com a expansão do Comando Vermelho para áreas que eram originalmente da milícia.
Elisa Ramos Pittaro Neves, promotora de Justiça
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