Quem é o Tio Patinhas do crime, casado com mulher que se reuniu com governo

Apontado como líder do Comando Vermelho (CV) no Amazonas, Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, é suspeito de ter financiado uma fuga em massa de um presídio em Manaus e foi preso pela última vez em dezembro do ano passado quando estava em um culto evangélico.

A esposa dele, Luciane Barbosa Farias, participou de duas reuniões no Ministério da Justiça e Segurança Pública neste ano, segundo revelado pelo Estadão e confirmado pelo UOL.

Guerra com facção e prisões

Tio Patinhas é acusado de comandar uma disputa pelo controle do tráfico de drogas em território amazonense, segundo documentos obtidos pelo UOL. As investigações indicam que ele sobreviveu a um atentado em 2015 encomendado pela FDN (Família do Norte), facção rival do CV em Manaus.

Como resposta, ordenou o assassinato da esposa de um dos líderes da facção rival em julho de 2017, indicam investigações da Polícia Civil. Adriana Monteiro da Cruz, irmã do alvo do ataque, acabou sendo morta por engano na ação.

"Devia ao Tio Patinhas". Em 2019, o corpo de um homem foi encontrado enrolado em sacos e papelão com um bilhete citando uma suposta dívida a Clemilson.

Ele também é investigado por suspeita de ter financiado uma fuga de 35 presos do Centro de Detenção Provisória de Manaus, em maio de 2018. Tio Patinhas acabou sendo preso no mês seguinte, em um apartamento de frente para o mar em Jaboatão dos Guararapes (PE).

Foi transferido, em julho de 2018, a um presídio de segurança máxima federal, para onde são levados os líderes de facções e criminosos mais perigosos do país. Mas retornou ao sistema prisional do Amazonas em novembro de 2020. Saiu de lá em janeiro de 2022, após revogação de sua prisão preventiva.

Foi preso mais uma vez em dezembro do ano passado, quando estava com a esposa em um culto evangélico em Manaus. Na ocasião, a polícia apreendeu 235 quilos de maconha no fundo falso de uma van, munições e um RG falso.

Tio Patinhas foi condenado a 31 anos e sete meses de prisão por associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ele também responde pelo assassinato de Adriana Monteiro da Cruz. O UOL não localizou a defesa dele.

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Reuniões com o governo Lula

Mulher de Tio Patinhas participou de duas reuniões, entre março e maio deste ano, em Brasília, com a equipe do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Nas redes sociais, Luciane compartilhou fotos e vídeos em Brasília.

O Ministério da Justiça admitiu que Luciane foi recebida por secretários. Mas disse que ela integrava uma comitiva de advogados, em resposta aos questionamentos feitos pelo UOL. "A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes."

Era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota. Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais.
Ministério da Justiça e Segurança Pública

Luciane já esteve na Câmara dos Deputados e em encontro com políticos. Ela também foi ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

O que disse Luciane

Presidente do Instituto Liberdade do Amazonas, entidade que presta assistência às famílias de pessoas no sistema prisional, Luciane se posicionou sobre o caso. "Minha luta é por garantir dignidade e direitos fundamentais ao meu esposo e a outros internos do sistema carcerário", afirmou nas redes sociais.

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Ela já foi condenada por crimes como lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa, mas responde aos processos em liberdade. Em nota, negou ter qualquer tipo de envolvimento com o crime organizado.

Não sou faccionada de nenhuma organização criminosa e venho, como inúmeras outras esposas e familiares, sendo criminalizada pelo fato de ser esposa de um detento.

Respondo a um processo em que fui absolvida em primeira instância, houve recurso do MP e condenação em segunda, sendo que agora continuo recorrendo.
Luciane Barbosa Farias

Ela também comentou sobre a participação na reunião com o Ministério da Justiça. "Não enxergo que pratico crime em pedir as reuniões de interlocução e nem que as autoridades, que cumprindo o papel constitucional para o qual foram eleitas, nos receberam em diferentes instâncias em Brasília, possam ser criticadas e descredenciadas por isto", disse.

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