Violência, saúde, lazer: estudo mostra as desigualdades de São Paulo

As diferenças sociais de São Paulo estão no mapa da cidade. Enquanto distritos mais pobres ocupam os extremos da capital, os mais ricos estão localizados nas regiões centrais e com melhores indicadores socioeconômicos. Isso é o que mostra o Mapa da Desigualdade 2023, produzido pela Rede Nossa São Paulo.

O que diz o levantamento

A maioria dos distritos da periferia registrou os piores indicadores em saúde, transporte e habitação apresentados pelo mapa. Os moradores desses locais são os que enfrentam mais horas de deslocamento ou esperam mais tempo para uma consulta médica na rede pública, por exemplo.

O mapa produzido pela instituição aborda, além da desigualdade entre as regiões, as diferenças de gênero e raça. A falta de acesso a cultura e até mesmo cobertura vegetal são apresentadas pelo levantamento

Veja os principais indicadores abaixo:

Saúde

A idade média ao morrer de um morador de bairro nobre de São Paulo é maior do que de quem mora em bairros da periferia. Para quem mora no Jardim Paulista e no Itaim Bibi — ambos na zona oeste — o indicador fica em média 82 anos. Já para quem está no distrito Anhanguera, no extremo norte da cidade, o índice fica em 59 anos, em média.

O tempo médio de espera para consulta médica na cidade de São Paulo é de 19 dias. Os moradores distritos de Cidade Líder, na zona leste, e Campo Grande, na zona sul, entretanto, precisam esperar em média 39 dias.

Já os moradores da República, região central, não esperam um único dia para conseguir uma consulta na atenção primária — que inclui as especialidade de clínica geral, pediatria, ginecologia, obstetrícia e médico da família.

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Habitação e população

Jardim Ângela tem dez vezes mais negros que Moema, ambos na zona sul. Enquanto o primeiro é o distrito com maior proporção de pretos e pardos vivendo na capital — 60,1% da população — Moema tem a menor proporção: 5,8% se declaram negros.

"A desigualdade racial é um fator estruturante da sociedade brasileira e da cidade de São Paulo também", diz Igor Pantoja, coordenador de relações institucionais da Rede Nossa São Paulo. "A gente vê essa sobreposição das desigualdades, e por isso a desigualdade racial é uma espécie de síntese."

Onde há menos negros, você tem melhores indicadores; onde você tem mais negros, você tem os piores.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo

Apenas dez dos 96 distritos da cidade não têm favelas. É o caso de bairros nobres como Perdizes, Moema e Alto de Pinheiros, além de distritos do centro, como Sé e República.

Três de cada dez domicílios na Vila Andrade, na zona sul, são favelas. Brasilândia, na zona norte, Capão Redondo e Jardim Ângela, ambos zona sul, são outros distritos com grande concentração deste tipo de domicílio.

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Mobilidade

Os moradores de Marsilac, no extremo sul, são os que levam mais tempo em deslocamento por transporte público no pico da manhã. Em média, gastam 73 minutos. Quem mora em Pinheiros, na zona oeste, tem deslocamento médio de 25 minutos no mesmo período.

O mapa ainda apontou que moradores do Itaim Paulista e Cidades Tiradentes, no extremo leste, e Perus, na zona norte, enfrentam mais de uma hora nos deslocamentos. O Campo Limpo, na zona sul, tem a pior velocidade média dos ônibus — 16,19 km/h. A média da capital paulista é de 18,7 km/h.

Segurança Pública

O distrito de Vila Guilherme, na zona norte, registrou um número de jovens assassinados pela polícia e por criminosos 3,5 vezes maior que a média da capital em 2019. As taxas mais altas de mortalidade de pessoas entre 16 e 29 anos variam de 36,15 a 48,2. Quatro distritos se enquadram nesse recorte: Vila Guilherme (48,2), Socorro (46,1), Marsilac (42,3), ambos na zona sul, e Cidade Tiradentes (36,3), na zona leste.

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Já os registros de agressões cometidas pela polícia em 2022 foram maiores no centro. A taxa para cada 100 mil habitantes chegou a 13,64 na Sé, seguida por Santa Cecília (11,85) e Bom Retiro (6,38). A média em toda a cidade é de 0,44.

O medo de denunciar a polícia na periferia pode ser o motivo para o volume de denúncias no centro, segundo Pantoja.

A vítima vai ver aquele policial praticamente todos os dias que ele estiver na rua. [...] É muito mais fácil você fazer uma denúncia desse tipo numa área central porque você não está ali todo dia. O anonimato é um pouco maior.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo

Direitos Humanos

Barra Funda, na zona oeste, foi o distrito com mais casos de violência racial e LGBTQIA+. A taxa de violência contra o segundo grupo ficou em 78,44 para cada 100 mil habitantes, em 2022 — um número seis vezes superior à media da cidade, que é de 12,22.

Já os casos de racismo e injúria, na região, tiveram taxa de 25,7 para cada 10.000 habitantes em 2021. O índice em toda a capital foi bem menor: 1,6.

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A Barra Funda tem muitas faculdades, estações importantes de metrô, trem. Como é um lugar com muito movimento e baixa população, esse tipo de violência acaba acontecendo.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo

Meio ambiente

Na cobertura vegetal, um bairro do extremo sul registrou o melhor índice — Marsilac, com 97,51%. A média da capital é de 27,29% de árvores e áreas com gramado.

O Brás, na região central somou o menor índice: 5,57%.

Cultura

O mapa também analisou a quantidade de equipamentos culturais nos distritos ligados à rede municipal. Salas de teatros, museus e bibliotecas da prefeitura não existem em 54 distritos — a Sé é a responsável pelo melhor número, 14,78 para cada cem mil habitantes.

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As salas de cinemas municipais estão distribuídas em 19 distritos. Nos demais, 77, não há registro de nenhum espaço, segundo o levantamento da rede.

A ideia do mapa é mostrar essas desigualdades sempre pensando em políticas públicas que possam reduzí-las. Temos ainda um desafio de dados sobre pessoas com deficiência, que é um tema que o Brasil ainda tem muito a avançar e certamente os municípios podem ajudar nesse sentido.
Igor Pantoja, da Rede Nossa São Paulo

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