DNA do Crime: quais criminosos inspiraram vilão de série sobre mega-assalto
O principal vilão da serie "DNA do Crime", da Netflix, foi inspirado em criminosos que praticam o chamado "domínio de cidades" — um cerco em que moradores muitas vezes acabam sendo usado como escudos.
Manoel do Nascimento, o matador
Sem Alma é a alcunha do bandido interpretado pelo ator Thomás Aquino. Num episódio inspirado em fatos reais, ele mata a tiros um policial federal numa fuga em massa do presídio — a vítima era um amigo do protagonista, o também agente da PF Benício (Rômulo Braga).
Manoel do Nascimento, o Coiote, é um dos bandidos apontados por fontes da polícia como inspiração para o vilão. Preso em 2018, ele foi condenado a mais de 44 anos de prisão pelo assassinato do agente penitenciário Alex Belarmino, atingido por 23 tiros numa emboscada a caminho da Penitenciária de Catanduvas (PR) em 2016.
O PCC pagou R$ 2,5 milhões em mesadas para os assassinos pelo crime. Segundo a polícia, o crime foi encomendado pela facção criminosa em protesto às normas rígidas impostas aos detentos. A esposa de Coiote é acusada de ter recebido R$ 653 mil do PCC, como informou o colunista do UOL Josmar Jozino.
Roberto Soriano foi acusado de ser o mandante. O homem apontado pelo Ministério Público de São Paulo como o número 2 do PCC foi condenado a 31 anos e 6 meses por suspeita de ter ordenado a morte de uma psicóloga do presídio de Catanduvas (PR). A defesa dele nega envolvimento no crime. A polícia encontrou uma lista com nomes de 20 agentes que estariam na mira da facção.
A fuga do presídio exibida na série se inspirou em um episódio ocorrido em janeiro de 2017. Na ocasião, 28 internos fugiram após a explosão de um muro do Complexo Penitenciário de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, com o apoio de "homens fortemente armados" em uma ação orquestrada, segundo as autoridades informaram na época.
Alguns desses criminosos fugiram para o Paraguai, participaram de treinamento militar e são acusados de ter assassinado o irmão de uma das lideranças do PCC. O crime deu início a uma guerra pelo controle do crime organizado no país vizinho.
O grupo paranaense também é suspeito de participar do assalto milionário à transportadora de valores Prosegur na paraguaia Ciudad del Este, próximo à fronteira com Brasil. A quadrilha levou R$ 120 milhões no crime — que inspirou a série da Netflix — e é considerado o maior assalto da história no Paraguai.
Charles Feliciano Batista, o pioneiro
Charles Feliciano Batista também inspirou a criação do vilão, segundo o UOL apurou. Apontado como uma das lideranças no mega-assalto no Paraguai e como pioneiro nas ações de "domínio de cidades" ou "novo cangaço", ele responde por ao menos sete processos na Justiça.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberUma semelhança entre Charles e o vilão Sem Alma é a religiosidade. O personagem usa um crucifixo no pescoço e apareceu em diversas cenas fazendo orações. Investigadores da Polícia Civil de São Paulo ouvidos sob a condição de anonimato dizem que Charles também é religioso.
Assim como o personagem, Charles despistou as autoridades ao ser detido no interior do Paraná como suspeito após o mega-assalto no Paraguai e usava documentos falsos. Preso em fevereiro de 2021, ele já chegou a figurar na lista dos criminosos mais procurados do país. O UOL não localizou os representantes legais dele.
Não sei dizer o que levou ele a ser solto lá no Paraná. O que posso dizer é que demoramos quatro anos para prendê-lo.
Pedro Ivo Corrêa dos Santos, 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos do Deic
Davi Marques dos Santos, o violento
Sem Alma também tem características de Davi Marques dos Santos, outra liderança do mega-assalto do Paraguai. Experiente nesse tipo de crime, ele é conhecido pelos agentes por ter um perfil mais violento em comparação com Charles, outra característica do vilão da série, que está no top 10 das produções mais assistidas da Netflix.
Davi foi preso pelo Deic de São Paulo em 2021 — como Charles. A defesa dele não foi localizada.
Embora reconheça a relação entre a série e os mega-assaltos, o diretor da série, Heitor Dhalia, não relaciona o vilão com os criminosos. "Tivemos a preocupação de buscar inspiração nos casos reais para dar verossimilhança, mas buscamos manter uma distância na construção dos personagens para transformar a história em ficção."
Tentamos revelar esse andar de cima do crime, que envolve um investimento milionário. Numa série sobre o assalto específico no Paraguai, também tratamos do crime transnacional na fronteira.
Heitor Dhalia, diretor do "DNA do Crime"
O DNA de Alcides
O episódio envolvendo a prisão do assaltante Alcides Pereira da Silva Júnior também traz elementos exibidos pela série. Peritos encontraram sangue num dos carros usados por uma quadrilha que entrou em confronto com policiais após um ataque a um carro-forte em Suzano, na Grande São Paulo, em outubro de 2013.
Após o mega-assalto no Paraguai, agentes coletaram a saliva de Alcides quando ele tentava embarcar em um ônibus em Cascavel (PR). Ao constatar que o material era compatível com o sangue deixado no assalto ao carro-forte quatro anos antes, a polícia acabou prendendo o assaltante.
Crime 'brasileiro'
A série também teria uma correlação com o livro "Guerra Federal", de Renato Júnior e Laurejan Ferraço, que se refere aos mega-assaltos como "crime tipo exportação". Esse tipo de ataque envolve ao menos 30 pessoas, que enfrentam as forças de segurança e usam moradores como escudos humanos em ações planejadas com armas de grosso calibre e até carros blindados.
"Contam 12 homens, 15 malotes e um punhado de fuzis saindo da vegetação ribeirinha e entrando em dois veículos estacionados", cita um trecho da obra. A cena inspirou parte do primeiro capítulo de "DNA do Crime", quando a quadrilha é encontrada.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.