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Aliado de Marcola, PCC e 'homem-bomba': os maiores ladrões de banco do país

Charles Feliciano Batista, Davi Marques dos Santos, Fábio Fitze e Willian Moscardini fazem parte da lista - Arte/ UOL
Charles Feliciano Batista, Davi Marques dos Santos, Fábio Fitze e Willian Moscardini fazem parte da lista Imagem: Arte/ UOL

Herculano Barreto Filho, Eduardo Militão e Josmar Jozino

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

04/10/2021 04h00Atualizada em 04/10/2021 11h41

Apontados como os principais envolvidos em assaltos a instituições financeiras engrossam a lista dos criminosos mais procurados no país elaborada pelo Ministério da Justiça. Eles são experientes, suspeitos de participação em roubos milionários e possuem ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Com base nos dados do governo federal, o UOL elaborou um levantamento dos principais ladrões de banco do país. Entre eles, há um antigo aliado de Marcola, um "homem-bomba" e suspeitos de envolvimento em mega-assaltos milionários —como o roubo de abril de 2017 no Paraguai e o de julho de 2019 a uma carga de ouro no aeroporto de Guarulhos (Grande São Paulo).

Entre agosto de 2020 e fevereiro deste ano, as forças de segurança pública capturaram sete criminosos da lista. Entre eles, Arnon Afonso da Silva Vieira, investigado por envolvimento em uma tentativa de fuga há um mês na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), unidade de segurança máxima onde estão os criminosos mais perigosos de São Paulo.

Apontado como o "homem-bomba" nessas ações, ele é suspeito de ser o responsável pela aquisição e distribuição de explosivos em ataques do "novo cangaço", tática também conhecida como "domínio de cidades" com roubos a instituições financeiras.

Preso em setembro de 2020 enquanto levava uma vida pacata em Tejupá (SP), a 280 km da capital paulista, Luciano Castro de Oliveira, o Zequinha, é apontado pelas autoridades como o principal ladrão de bancos ligado ao PCC.

Contudo, três dos suspeitos de envolvimento em roubos de bancos mais procurados no país seguem foragidos: Fábio Augusto Nogueira Fitze, Luís Marcos de Medeiros e Willian Alves Moscardini.

Réu em um assalto a uma empresa de valores ocorrido em 1999 no Ceará, Fitze é apontado pelas forças de segurança como antigo aliado de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, chefão do PCC.

Luis Marcos de Medeiros, conhecido como Marcão, é suspeito de participar de roubos a transportadoras desde 1993. Ele responde por crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e contra o patrimônio. Willian Alves Moscardini, o Baixinho, completa a lista dos foragidos.

Roubos milionários e origem do 'novo cangaço'

Baixinho está entre os suspeitos de participação no roubo à Prosegur em Ciudad del Este, no Paraguai, em abril de 2017. Na ocasião, foram levados cerca de R$ 120 milhões, segundo as autoridades. Outros dois criminosos investigados por suposto envolvimento no mesmo crime que também integram a lista foram capturados.

Apontado como uma das lideranças mais importantes da quadrilha no Brasil, Charles Feliciano Batista, 44, foi preso em fevereiro deste ano na zona leste de São Paulo pela 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Davi Marques dos Santos, 45, foi encontrado em Limeira (SP) em janeiro deste ano por agentes da mesma delegacia.

Esses grandes criminosos só são presos após um intenso trabalho de investigação. Para isso, também é necessário que ocorra uma troca de informações entre órgãos públicos e até privados, com informações repassadas por operadoras de telefonia e pelos próprios bancos"
Delegado Pedro Ivo Correa dos Santos, da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos

Charles e Davi são apontados pelas autoridades como pioneiros do "novo cangaço". Foram registradas ao menos 25 ações do tipo no país nos últimos seis anos —dez deles foram a centrais de distribuição de dinheiro do Banco do Brasil.

O último mega-assalto ocorreu na madrugada de 30 de agosto em Araçatuba (SP), quando um grupo de ao menos 30 homens armados com fuzis cercou a cidade, usou moradores como escudo humano e incendiou carros para tentar roubar R$ 90 milhões de uma agência do Banco do Brasil, conforme revelou reportagem do UOL as cédulas acabaram sendo destruídas automaticamente dentro do cofre.

Novos nomes serão incluídos na lista

A lista dos criminosos mais procurados do país do Ministério da Justiça foi elaborada em 2020, ainda na gestão do ex-juiz Sergio Moro. Após as prisões nos últimos meses, o governo federal irá atualizar a relação, com suspeitos de ligação com o "novo cangaço".

O crime aparece entre os principais critérios de inclusão de criminosos na nova lista devido ao uso de explosivos e de fuzis, que colocam a população em risco e causam mortes. De 2015 a 2020, esse tipo de modalidade criminosa deixou ao menos 40 vítimas e um desfalque de mais de R$ 500 milhões, segundo revelou reportagem do UOL.

A nova versão da lista dos criminosos mais procurados do país deve incluir ao menos três suspeitos de envolvimento em ataques a instituições financeiras cometidos aos moldes do "novo cangaço" procurados pela Justiça: Danilo dos Santos Albino, Márcio do Carmo Pimentel e Kaio Cesar Bonotto Calvalcante.

Kaio é filho de Adailton Bezerra Cavalcante, assaltante que morreu em decorrência de um câncer há dois anos em Curitiba. Segundo as informações repassadas por investigadores, Adailton era comparsa de Francisco Teotônio da Silva Pasqualini, suspeito de atuar no assalto a uma carga de ouro no aeroporto de Guarulhos.

Outros grupos do 'novo cangaço'

O grupo de criminosos que faz mega-assaltos com explosivos não se limita às listas produzidas pelo Ministério da Justiça. Cláudio Alves Cruz, apontado como líder de uma das células deste tipo de crime, foi capturado em 23 de setembro na zona norte de São Paulo em uma blitz de rotina da Polícia Militar.

Cruz estava em Fiat Uno e apresentou documento falso. Ele tinha um mandado de prisão preventiva expedido pela 1ª Vara Federal de Araraquara (SP). Segundo a Polícia Federal, o assaltante comandou o ataque à agência da Caixa Econômica Federal da cidade paulista na madrugada de 24 de novembro de 2020, quando foram roubados R$ 5 milhões em joias e dinheiro.

Cruz foi indiciado por crimes como tentativa de homicídio (porque a quadrilha atirou em policiais), organização criminosa, roubo, explosão, danos ao patrimônio, posses de explosivos e de armamento de uso restrito.

Tiago Tadeu Faria - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Tiago Tadeu Faria, conhecido como 'Gianechini do novo cangaço', está preso no interior de SP
Imagem: Reprodução/Instagram

Gêmeos e 'Gianechini' do crime

Segundo a Polícia Civil, outra célula perigosa do "novo cangaço" também foi criada no estado de São Paulo e tem como líderes os gêmeos Carlos Willian e Carlos Wellington Marques de Jesus; Tiago Ciro Tadeu Faria, o Gianechini, e Victor Santos Souza, o Brow.

Os quatro estão presos e foram indiciados pelo roubo de R$ 2 milhões da agência do Banco do Brasil de Botucatu (SP), em julho de 2020. A quadrilha também é investigada pelas explosões e roubos a bancos em Ourinhos (SP), em maio de 2020, quando foram levados R$ 50 milhões, e em Bauru (SP), em fevereiro de 2018. Os ataques levaram pânico e terror às cidades paulistas.

O que dizem os advogados

Diego Moura Capistrano, preso portando um fuzil no dia 20 de novembro de 2020 em Igarapé (MG) após ter o veículo abordado em alta velocidade em uma rodovia, está detido no presídio federal de Mossoró (RN).

Ele foi condenado a 126 anos de prisão, acusado de envolvimento em um roubo de mais de R$ 51 milhões à sede da Prosegur em Ribeirão Preto, em 2016.

Ele entende ser inocente das acusações. Estamos aguardando o julgamento dos recursos para que o processo seja levado ao STF (Supremo Tribunal Federal)
Thiago Lacerda Pereira, advogado de Capistrano

"A inclusão do nome dele na lista dos mais procurados foi do Poder Executivo. Como não tem questão jurídica envolvida, prefiro não comentar. Foi uma decisão política", completou.

Capistrano também é suspeito de participação no roubo a outra empresa de valores no Paraguai, em 2017.

Nadyjane Amorim, advogada de Charles Feliciano Batista, pediu para prestar esclarecimentos mais tarde. Até o fechamento desta reportagem, não houve retorno. O posicionamento será incluído assim que for recebido. Contatado, o advogado de Davi Marques dos Santos não estava no escritório e não retornou a ligação feita pela reportagem.

Os telefones comerciais dos representantes de Leandro Charias da Silva e de Tiago Ciro Tadeu Faria estavam desligados. Procurada, uma defensora pública de Hortolândia (SP), que representa Arnon Afonso da Silva Vieira, não quis se manifestar sobre o caso.

A reportagem não localizou os contatos dos advogados de Luciano Castro de Oliveira, Joselito de Souza, Claudio Alves Cruz, Victor Santos Souza e dos gêmeos Carlos Willian e Carlos Wellington Marques de Jesus.