Análise: Voo em neblina com helicóptero que sumiu é risco inaceitável
O modelo do helicóptero usado para ir do Campo de Marte, em São Paulo, com destino a Ilhabela, no litoral paulista, não era recomendável para voar em meio a neblina, disse Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco, durante o UOL News da manhã desta sexta-feira (12).
Todos os ocupantes da aeronave morreram. O helicóptero foi encontrado hoje, após 12 dias de buscas.
O tipo de cliente VIP adquire o produto, que é o táxi aéreo e o voo de helicóptero. Não é só o táxi aéreo, a aeronave de asa fixa tem limitações de pouso e é muito mais ágil usar o helicóptero. A asa fixa precisa de um aeródromo.
Quando ele [o cliente] adquire esse voo, ele quer garantir aquele comício, aquele show, cumprir aquela agenda de VIP. Só que cabe ao piloto a tomar a decisão se acata ou não, muitas vezes a própria companhia quer pilotos que aceitem riscos além daqueles que consideramos.
Zero risco não existe, mas existe uma matriz de risco. Nós analisamos e podemos dizer: 'Esse nível é aceitável', 'Esse nível não é aceitável'. Esses parâmetros são utilizados para fazer as regras. As regras que dizem: 'Essa aeronave não pode voar com o teto abaixo de 400 metros'. Há uma falha de gerenciamento de risco.
Existe, sim, uma pressão, até porque é uma decisão entre o cliente, a própria companhia e, às vezes, dentro da aeronave alguém levanta e fala: 'Quero chegar lá e se não chegar, eu nunca mais contrato uma vez'. Não tem como provar, mas pode acontecer.
Em muitos casos, o piloto vende uma facilidade que não é real. Nesse caso específico, pelo histórico do piloto, essa é uma suspeita bastante elevada. Ele pode ter dito: 'Eu consigo, eu vou'. E a condição já era muito além daquela que ele poderia ter desistido.
Mensagens às quais o UOL teve acesso mostram que Letícia enviou imagens e relatou a situação ao namorado. Ele questionou onde o helicóptero estava, ao que a jovem respondeu: "Sei lá, amor. Tô parada no meio do mato."
Pode acontecer de ele assumir o risco, com autorização de quem o contratou, de fazer aquele trajeto e a questão se reverter o voo ficar impraticável, que é o que parece que aconteceu [...] O tempo mudou? O piloto já tem em mente um local para ele pousar e aguardar as condições se alterarem, e parece que ele tentou fazer. Por alguma razão, ele deve ter tentado retornar o voo e passou do limite do gerenciamento de risco e encontrou o acidente.
A gente acha que o piloto nunca vai querer colocar a vida dele em risco, mas a gente tem um problema de que o piloto, apesar de ser piloto, não tem uma percepção de risco e nem os valores de gerenciamento de risco.
O que é o gerenciamento de risco? A vida é um risco. Mas há riscos aceitáveis e existem riscos altíssimos que a gente não pode aceitar, que é o caso de voar de Robinson R44 [modelo da aeronave] em meio a neblina. É um risco inaceitável para um piloto competente.
O que aconteceu
Três passageiros e o piloto estavam a bordo da aeronave morreram. A causa da morte só será esclarecida após perícia, explicou a Polícia Militar.
O helicóptero foi encontrado às 9h15 pela PM. A polícia conseguiu confirmar o óbito das vítimas cerca de 1h30 depois.
Infelizmente, queria dar uma notícia diferente. Mas todos estão mortos. Foram identificados quatro corpos na aeronave Coronel Ronaldo de Oliveira, comandante da aviação da PM
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Quero receberOs corpos serão encaminhados para o IML. A perícia da Polícia Civil está no local onde os destroços foram encontrados.
FAB vai enviar equipe para o local e Cenipa investigará o acidente. Três militares especializados em resgate em locais de difícil acesso serão deslocados para a região.
Triangulação de sinal de celulares definiu nova abordagem nas buscas. De acordo com a PM, ao invés de voos rápidos cobrindo uma área maior, as equipes fizeram voos em velocidade e altura menores em uma área delimitada.
Região foi separada por quadrantes. Com isso, a PM fez o voo e, nos primeiros quadrantes, o helicóptero foi encontrado.
Quem eram os passageiros?
Os passageiros eram Luciana Rodzewics, 46 anos, a filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20 anos, e Raphael Torres, 41 anos, amigo da família. Foi Raphael quem as convidou para o passeio bate e volta, segundo Silvia Santos, irmã de Luciana.
O piloto foi identificado como Cassiano Tete Teodoro. O UOL tenta contato com a empresa responsável pela aeronave e o espaço segue aberto para manifestações.
A aeronave foi encontrada em Paraibuna, no interior do estado, após 12 dias de buscas. Ele foi encontrado pelo Águia 24, da PM. Militares desceram de rapel para verificar destroços.
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