Ex-apoiador de Bolsonaro, orou contra Lula: quem é o líder da 'Machonaria'
O pastor evangélico Anderson Silva, que pediu a Deus que "arrebentasse a mandíbula" do presidente Lula, e se diz arrependido de ter apoiado Jair Bolsonaro (PL) e de ter "bolsonarizado" a religião, é fundador da 'Machonaria' - confraria masculina que 'quer resgatar masculinidade bíblica'.
Quem é o pastor?
Anderson foi fundador e pastor da Igreja Vivo Por Ti, em Brasília. Deixou a liderança da igreja após 15 anos para concorrer ao cargo de deputado distrital pelo Partido Liberal (PL) nas eleições de 2022, mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em 2023, após o revés das urnas, fundou a Igreja em Movimento, também na capital federal.
Natural de Maceió (AL), Anderson disse ter se mudado para Brasília aos 17 anos "fugindo do sofrimento e da fome". Sua relação com o nordeste, no entanto, também já virou motivo de polêmica. No processo que enfrentava contra a pastora Renálida Lima, ele afirmou durante a audiência que o povo nordestino possui baixa educação e que por isso estaria mais vulnerável ao que ele classificou de "estelionato da fé".
Em entrevista ao UOL, Anderson se apresentou enfatizando ser "casado e pai de 4 meninos", entre eles, João, que é autista nível 3 de suporte.
Após o diagnóstico do filho, ele explica que nasceu o que classifica ser o seu principal projeto: a Casa do John John, um lugar destinado ao "cuidado integral com a comunidade autista e especificamente no abandono paterno; quando o marido abandona, a gente intervém com o nosso grupo de homens, pagando aluguel, fazendo compras, comprando medicamento ou qualquer coisa que a comunidade necessite", contou o pastor.
Anderson acredita que ainda "há uma ignorância quanto ao diagnóstico, quando entra a fé é uma ignorância maior, porque vai dizer que é demônio, é espiritual, e não é, porque eu, aos 43 anos, fui diagnosticado autista devido ao diagnóstico do meu filho". O pastor disse ainda que hoje tem o diagnóstico de TDAH.
Esse e os outros projetos sociais encabeçados pelo pastor estão debaixo do seu projeto de maior repercussão e também motivos de muitas polêmicas: a Machonaria, uma "Confraria Nacional de Homens", que segundo Anderson, conta atualmente com a participação de 10 mil homens de várias partes do Brasil e também de outros países. O objetivo? Resgatar a masculinidade bíblica.
Só no ano passado, por intermédio da Machonaria, o pastor arrecadou mais de R$ 626 mil, que de acordo com a sua explicação, foi utilizado para custear mais de 30 projetos sociais.
Sobre seu sustento, Anderson afirma que sua renda é oriunda das pregações itinerantes, seus livros e doações de católicos e evangélicos: "viajo o mundo inteiro pregando o evangelho, já preguei em mais de 30 países; sou escritor de 11 livros", afirmou.
Afinal, o que é 'Machonaria'
O projeto inicial, segundo Anderson, é aprender o que é ser um homem segundo Jesus, "o desafio para o homem é conseguir amadurecer ao ponto de que ele é dócil, generoso, amoroso, viril e posicionado".
Após a repercussão, Anderson e sua esposa decidiram criar algo parecido para as mulheres e daí surgiu a Femmenaria, que funciona, segundo o pastor, como uma escola de discipulado para mulheres. No contexto cristão, esse termo tem a ver com um conjunto de alunos aprendendo com um mestre.
O problema, no entanto, é que esse mestre, o pastor Anderson, já se envolveu em algumas polêmicas por conta de suas falas consideradas machistas. Entre elas, o título de uma publicação feita pelo pastor em que ele disse: "A mulher e seu potencial demoníaco", a primeira frase desse texto diz: "homem, ame a sua mulher, lidera-a".
Ainda na mesma postagem, o pastor afirmou que "mulher é orgulhosa, vingativa e manipuladora". A frase repercutiu e gerou inúmeras críticas ao pastor.
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Quero receberAnderson afirma estar sendo processado pelo ministério público do Distrito Federal e por sete promotoras "feministas do núcleo de gênero" por conta da publicação.
Segundo o ele, a experiência de mais de 10 anos trabalhando com homens trouxe a consciência de "que os piores índices da sociedade pertencem aos homens". Contudo, o pastor diz que apesar dos números alarmantes da violência doméstica, passou a ter conhecimento de "falsas denunciações, falsas configurações de um inquérito de Maria da Penha e manipulações".
O homem sem Deus é o próprio inferno, mas a mulher está mentindo pra todos quando diz que está fugindo desse inferno como um anjo; o homem destrói coisas e estruturas, as mulheres em manipulação destroem relacionamentos, emoções e reputações.
Anderson alega que seu processo acontece porque ele estaria dizendo algo que as pessoas se recusam acreditar.
A Machonaria está presente hoje no Brasil, Estados Unidos e em países da Europa. Anderson ainda afirma que está se preparando para iniciar os trabalhos do projeto também na Angola, a partir de junho deste ano.
Política
Politicamente, Anderson Silva esteve desde as eleições de 2018 fortemente aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Defensor da direita e da política conservadora, o pastor confirmou que, apesar de não ter obtido êxito no pleito de 2022, pretende disputar novas eleições para "viabilizar a comunidade autista por meio de políticas públicas" e politicamente se classificou como "um conservador social".
A relação da igreja evangélica com a política foi motivo de muita crítica, sobretudo pelo uso político que Bolsonaro fez durante as campanhas de 2018 e 2022. Não raras vezes ele foi ovacionado em cultos religiosos. Apesar de ter sido um incisivo apoiador do ex-presidente, Anderson garante que confrontou a "idolatria da igreja evangélica a Bolsonaro" e que acredita não ter sido eleito por não ter sido um questionador da ala bolsonarista.
Sobre o período em que Bolsonaro governou, Anderson afirma que o maior erro "foi [o presidente] não ter se humanizado durante a pandemia" e para ele, não há nada de bom no governo Lula. "O Lula é a pior espécie de político, porque ele depende do seu sofrimento, ele depende da sua fome para viver te fazendo a promessa", afirmou.
LGBT's
Outro público que constantemente é alvo das mensagens do pastor Anderson é a comunidade LGBTQIA+. Um exemplo disso aconteceu recentemente em uma publicação no Instagram, em que compartilhou um trecho de sua participação em um podcast sobre a autorização do Papa para que os padres e bispos deem a benção para casais homoafetivos.
Esse Papa atual é um servo de Satã, sem dúvida. Toda pauta progressista que tem como Satanás por mentor, ele é interessado. Inclusive inocenta Dilma, inocenta Lula" e ao final, o pastor questionou "Um monte de Igreja Gay por aí, é um clube, mas não é o corpo de Cristo. Do que adianta ser incluso na terra e excluído no céu?
Desavenças entre evangélicos
Anderson está longe de ser uma unanimidade entre os evangélicos e coleciona algumas rusgas com personagens muitos conhecidos do meio. Entre eles, o coach Pablo Marçal, por exemplo, já foi chamado por Anderson de "filho de Satanás, um salafrário" e alguém que usou a igreja para enriquecer.
O Deputado Federal pastor Marco Feliciano (PL - SP) é considerado por Anderson como uma pessoa má, cínica e que "todo pastor famoso sabe que Marco Feliciano é um dos pastores mais sexualmente imorais do nosso país" e disse, inclusive, que o pastor Silas Malafaia "poderia há muito tempo ter parado ele".
O pastor Caio Fábio já foi chamado por ele de "falso profeta"; André Valadão de alguém que "não é íntegro"; Renalida Lima de "estelionatária da fé" e o apóstolo Estevam Hernandes de "falso profeta e um pastor dinheirista".
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